Passados sete meses do início da pandemia, as vinícolas gaúchas voltaram a abrir as portas ao público com número restrito de visitantes, serviços suspensos e agendamento prévio. Apesar das limitações, até lista de espera chega a se formar para os passeios nos parreirais e entre os barris de vinho. Antes de iniciar a visitação, o turista tem a temperatura verificada e precisa obrigatoriamente usar máscara. O item só é retirado nas degustações, que ocorrem em mesas espaçadas ou de pé, sem lugar para apoio das taças.
Durante todo o passeio, o visitante é orientado a não encostar nas paredes ou em outros objetos. As exigências são consideradas “pequenos sacrifícios” para os visitantes apaixonados por vinhos. Apesar da retomada, algumas vinícolas decidiram continuar fechadas ao público, como é caso da Almaúnica. Localizada em Bento Gonçalves (RS), na Serra gaúcha, o negócio só pretende retomar as atividades à visitação em outubro. A Vinícola Casa Tertúlia também foi outra que manteve as portas fechadas ao público. Localizada em Três de Maio, no noroeste do Rio Grande do Sul, o espaço só deve receber visitantes a partir de março. “Estamos em reestruturação da vinícola. Esperamos voltar em 2021 mais estruturados para podermos atender melhor”, comunicou a vinícola a Nossa. Caso o turista queira verificar a situação atual de cada estabelecimento antes de fazer as malas, é possível encontrar informações no site Brasil de Vinhos. Lá são reunidos dados de 187 vinícolas de todo o país.
Um dos principais impactos da pandemia do coronavírus foi a restrição de público nas visitas. Para evitar concentração de pessoas, o governo estadual determinou redução no número de visitantes durante a bandeira laranja, vigente atualmente. Na modalidade vermelha, que perdurou por semanas na região, a visitação não era autorizada — apenas as lojas eram liberadas a funcionar no sistema pague e leve.
Na Casa Perini, localizada em Farroupilha, só são permitidos 20 pessoas por visita guiada. Na Miolo, em Bento Gonçalves, o passeio é restrito a 15 pessoas. Antes, poderia chegar a 50 pessoas em cada vinícola. Na Cave do Sol, também em Bento, o número de participantes varia entre seis a 30 pessoas, dependendo do tipo de “experiência”.
Na Família Geisse, em Pinto Bandeira, o tour é restrito a dez pessoas — se os participantes não forem do mesmo grupo, reduz-se a seis pessoas. Antes era permitido 15 pessoas por vez. Na Salton, em Bento Gonçalves, o limite à visitação é de seis pessoas por vez — antes chegava a 30.
Na Casa Valduga, em Bento Gonçalves, só são permitidos oito visitantes por vez nos passeios — antes chegava a 30 pessoas. Na Aurora, na mesma cidade, o tour pode receber 25 turistas — dez a menos em relação a antes da pandemia. Regras ao ar livre Para a parte externa das vinícolas também foram estabelecidas restrições de público. Na Miolo, o Wine Garden teve que reduzir para quase 1/5 o número de visitantes. De 1,5 mil passou para 320 pessoas. No gramado, utilizado por visitantes para piqueniques, foram desenhados círculos (distante quatro metros um do outro) para organizar os visitantes e evitar a aproximação entre os grupos.
Na Vinícola Família Geisse, o espaço lounge também teve alterações. O lugar tem capacidade para 150 pessoas, mas está recebendo 80 pessoas, que ficam distribuídas em mesas separadas. O espaço fica em uma área aberta onde são servidas finger foods (tipo de comida que não requer talheres) e ofertados espumantes da vinícola. Já na Casa Perini a oferta de um serviço de aluguel de bicicletas disparou na pandemia: o crescimento foi de 80% na comparação com o ano passado. Conforme o gestor de enoturismo, Anderson Alves, o passeio auto-guiado existe há 3 anos e, devido à alta procura, foi necessário estabelecer horários para uso das bicicletas. Antes não havia limite de permanência e agora o visitante só pode ficar 2 horas com ela. O turista recebe um mapa do percurso, de 3 quilômetros. A demanda surpreendeu muito. Às vezes, no início da semana já tenho fechado os horários para a próxima. O que eu não vendi o ano passado eu vendi entre abril a agosto” Anderson Alves O interesse pode ser explicado pela possibilidade de fazer uma atividade diferente ao ar livre e sem proximidade de outras pessoas. Ao todo, há seis bicicletas disponíveis.
O Bike Tour custa R$ 25. Há a possibilidade do visitante fazer o passeio com sua própria bicicleta. Nesse caso, o valor é cobrado, mas pode ser utilizado no empório para compra de produtos.
Lista de espera.
O número restrito de visitantes por tour acabou gerando lista de espera em diversas vinícolas. Na Aurora, que oferece tour gratuito, a situação acaba ocorrendo aos sábados. A procura é tanto que, em setembro, o número de visitantes correspondeu a 70% do registrado no mesmo mês do ano passado. “Em setembro, tivemos uma retomada bastante importante. Em agosto, o número de visitantes correspondeu a 30% do registro neste mesmo mês de 2019”, conta a supervisora de Turismo vinícola, Ana Maria De Paris Possamai.
Na Casa Perini a lista de espera é comum nos finais de semana e feriados. “Em alguns casos, a pessoa chega e, se tivermos disponibilidade, faz a visita. Às vezes, uma pessoa agenda, não comparece e conseguimos encaixar”, observa o gestor de enoturismo da Casa Perini. Na Casa Valduga, dependendo da data, é preciso esperar de um dia para outro, principalmente nos finais de semana. “Não é um fluxo normal pré-pandemia, mas a gente tem verificado isso, principalmente agora na primavera. E a nossa preocupação aumenta porque queremos atender todo mundo bem”, observa Aline Ciota, gerente de marketing do grupo.
Serviços cancelados.
Por outro lado, algumas vinícolas optaram por suspender serviços — principalmente aqueles que envolviam contato. A Casa Perini, por exemplo, teve que cancelar o Wine Experience. Considerada uma experiência sensorial olfativa, ocorre em duas etapas. Na primeira, o participante é vendado e são apresentados 12 aromas diferentes. Em seguida, são degustados e comentados seis rótulos, relacionados com os aromas vistos anteriormente. Devido à pandemia, optou-se por suspender a experiência para grupos e mantê-la para casais. Segundo o gestor de enoturismo, a decisão foi tomada em decorrência do manuseio de diferentes vasilhames pelos participantes que, com a pandemia, deveriam ser higienizados a cada vez que fossem passados para outra pessoa.
“É uma experiência demorada, de 2 horas, se fosse fazer com higienização, iria demorar muito tempo”
Na Casa Valduga, quatro experiências foram canceladas, entre elas o Wine Experience. Além disso, a pousada do local passou a operar com 40% da capacidade. Na Aurora, os cursos de harmonização de vinhos e de azeite deixaram de ser ofertados. “São atividades que envolvem o manuseio de materiais, dos pratos. A gente entende que não é o momento”, salienta Ana Maria.
(Matéria de Hygino Vasconcellos, reproduzida com autorização do autor – foto de Augusto Tomasi, na vinícola Cave do Sol)