Se tem coisas que gostamos de fazer é descobrir novas vinícolas por aí – mesmo que elas não sejam assim tão novas. Mas a sensação de frescor que temos ao ouvir o entusiasmo de Cristiana Petriz e Rossano Biazus (foto abaixo) contarem sobre a La Grande Bellezza é bem parecida com a que temos ao degustar seus refrescantes espumantes.
O pedaço de terra adquirido pelo casal teve dois objetivos iniciais: um local para aproveitar na aposentadoria e que poderia vir a ser um projeto de pousada, logo rechaçado por Cristiana: “se for pra descansar na aposentadoria não vai ser com uma pousada”, conta ela. Com essa negativa, Rossano não titubeou e logo sugeriu: “quem sabe então uma vinícola, que dá menos trabalho?”, sugeriu ele. Pois ele não fazia ideia do que os esperava…
Brincadeiras à parte foi mais ou menos assim que nasceu a La Grande Bellezza, uma pequena vinícola boutique localizada em uma das partes mais altas do município de Pinto Bandeira, região reconhecida pela qualidade dos espumantes produzidos. O embrião de projeto que saiu do campo das ideias em 2017 tomou fôlego durante a pandemia quando o casal resolveu que era chegado o momento de profissionalizar e fazer do hobby um negócio.
O nome da vinícola Rossano faz questão de explicar, quase declamando: “é em homenagem ao filme do italiano Paolo Sorrentino, uma ode ao ‘ser’, à vida, à arte, ao amor, às amizades”. Amizades que o vinho traz, apresentando estranhos que têm algo em comum, e que se unem para conhecer algo novo, criando laços. Foi assim que fomos apresentados à vinícola, em um dos dias mais quentes de fevereiro de 2025.
Um recorrido pela propriedade em aclive traz descobertas de outras visões de locais já muito conhecidos, e a chegada ao ponto mais alto do terreno que tem altitude média de 700 metros descortina uma vista de 360 graus para um dos cenários mais lindos – e exclusivos – do país. Do topo é possível ver uma das áreas de plantio da vinícola Geisse (ao fundo, no centro da imagem), do outro lado o vinhedo recentemente implantado da vinícola Garbo e, em primeiro plano, a obra da sede da La Grande Bellezza. O local terá receptivo, espaço para degustações, gastronomia e, claro, toda estrutura para vinificação, cave de barricas e varejo.
A opção por Pinto Bandeira é clara para Biazus, um local que traz memória afetiva, mas que sim, também foi escolhido pela excelência do terroir, perfeito para o tipo de vinho que buscava fazer. “Uma região com clima moderado, chove no inverno e tem verões mais secos, com chuvas esparsas”, pondera. “Além disso a exposição solar do nosso vinhedo e a amplitude térmica são perfeitas”, comemora.
E o solo é outro fator que contribui muito para o resultado do vinho na taça. Os solos argilo síltico arenosos de Pinto Bandeira, originários de rochas vulcânicas, têm excelente drenagem e capacidade de absorção, e se dividem em diferentes formações – cada tipo mais adequado para as variedades específicas de uva. Há que salientar também a biodiversidade do local: áreas de preservação, fontes naturais de água e uma grande variedade de vegetação nativa.
Hoje a La Grande Belleza tem 4,5 hectares cultivados com as variedades Chardonnay, Merlot, Cabernet Franc, Pinot Noir, Tannat, Ancellotta, Aspirant Bouschet, Cabernet Sauvignon, Petit Verdot e Grenache – é da vinícola que sai o único varietal de Grenache rosé do Brasil atualmente. Nos vinhedos, assim como na cantina, a menor intervenção possível, buscando entregar ao máximo a fruta e o terroir.
Enquanto não tem a estrutura no local, os vinhos são vinificados na vinícola dos Plátanos, sob coordenação dos enólogos Marcos Vian e Anderson Schimitz – mas sempre com o olhar atento de Rossano, que acompanha de perto o desenvolvimento das plantas nas videiras e define o momento da colheita. O mesmo acontece na cantina, onde o produtor está atento a todos os processos, desde o recebimento das uvas até a prova dos tanques ou das barricas: “a madeira está presente na medida, um toque de equilíbrio e elegância ao vinho”, diz, “como os rótulos produzidos em Bordeaux”, explica, deixando claro seu estilo de vinificação.
Os 18 rótulos da vinícola estão divididos em três coleções: espumantes, Grand Vin e Madames – esta última com o trabalho da artista plástica Lu Mourelle (foto acima). Um deles, o Madame Rara (foto abaixo), foi criado em um momento especial, para homenagear os 40 anos de dedicação de Cristiana, enfermeira de formação, ao trabalho com doenças raras. Desta homenagem nasceu uma criação inspirada na anemia falciforme, doença rara que é prevalente nos afrodescendentes. O vinho muda anualmente, sempre elaborado com a variedade mais representativa – e rara – de cada safra. O que está sendo apresentado agora é um Cabernet Franc 2022, que passou por estágio de 18 meses em um blend barris de carvalho francês de segundo uso de diferentes regiões da França .
E entre os dias 24 e 28 de fevereiro de 2025, semana dos Raros, a vinícola vai destinar 10% das vendas do vinho Madame Rara à Casa dos Raros, de Porto Alegre (RS) uma iniciativa pioneira na América Latina dedicada ao atendimento integral de pessoas com doenças genéticas raras. coordenada pelo médico geneticista Roberto Giugliani.
Uma baita iniciativa: parabéns.
Fotos: Brasil de Vinhos
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