Fattoria Vinhas Altas: vinhedos no meio da mata nativa em Teresópolis 

Fattoria Vinhas Altas: vinhedos no meio da mata nativa em Teresópolis 

Durante muitos anos o escritor Moacyr Scliar, falecido em 2011, manteve uma coluna no jornal Zero Hora que levava o título de ‘nomes que condicionam destinos’. Na saborosa e saudosa prosa que tinha, Scliar engenhosamente contava como uma série de coincidências e acasos do destino faziam com que o cidadão que tivesse aquele sobrenome seguisse um trajeto que talvez lhe tivesse sido predestinado antes mesmo de nascer. Pense: já conheceste algum médico chamado Cura? Um padeiro que assina Trigo? Uma produtora de azeite de oliva de sobrenome Oliveira? Pois foi exatamente isso que lembrei ao contemplar a Pedra do Elefante, no topo do morro de Teresópolis, pertinho do parque estadual dos Três Picos, ouvindo a história de Murilo Pilotto, proprietário da vinícola Fattoria Vinhas Altas, contada por ele mesmo. 

Mas, pera, o que tem a ver uma coisa com a outra, Pilotto e vinho? Explico. Ou melhor, quem explica é o próprio Murilo: apaixonado por carros e corridas, Pilotto fez formação em engenharia de automóveis na Universidade Federal do Rio de Janeiro e trabalhou a vida toda com isso: foi desta forma que viria a conhecer alguém que, muitos anos depois, imortalizaria em um rótulo de vinho criado por ele. Foi na década de 90, em uma de duas muitas viagens à Itália graças a sua paixão por automobilismo, que Pilotto conheceu Uberto Molo, que se definia como italiano de nascença, brasileiro por opção e carioca de coração. Naquela época os amigos ainda não sabiam, mas aquela amizade, anos depois, viria a se tornar uma vinícola.  

Depois de anos no mercado da velocidade e do automobilismo, Pilotto optou por um ano sabático e foi visitar o Vale dos Vinhedos, no Rio Grande do Sul: talvez já tivesse na cabeça a ideia de, quem sabe um dia, investir em vinhos. Na Serra Gaúcha conheceu duas pessoas a quem agradece a ajuda e os conselhos: Eduardo Angheben e Edgar Sinigaglia, um produtor de vinhos e um viveirista, figuras fundamentais para o nascimento da Fattoria Vinhas Altas: “pessoas muito generosas, que me deram dicas muito importantes e foram decisivas principalmente no início da vinícola”, recorda. 

Em 2017 Murilo (foto acima) encontrou e se apaixonou pela área encravada no meio da mata nativa, em uma propriedade no topo do morro que no passado fora um haras onde eram criados cavalos Árabes. “A região era conhecida pela raça Mangalarga”, lembra Murilo, “mas aqui o foco era nos Árabes”. O produtor conta ainda que a área tinha alguns picadeiros onde os cavalos se exercitavam, “hoje estes locais dão lugar os nossos vinhedos”, sorri. E isso é muito interessante: pode ser que este seja um dos únicos vinhedos implantados em antigos picadeiros – espaços geralmente retangulares ou redondos destinados à prática de equitação.  

A propriedade, situada em uma altitude de 1150 metros, em meio à mata nativa, é um pulmão da natureza, mas acredite, isso traz problemas: “a principal ‘praga’ que temos aqui são os pássaros”, brinca Murilo. Brinca, mas fala sério, com centenas de árvores frutíferas na propriedade – como as nespereiras, por exemplo, com frutos extremamente doces – os pássaros são sempre um motivo de preocupação. “Cerca de 25% da nossa produção fica direto com os pássaros, que são praticamente sócios da vinícola”, relata. 

O plantio e as variedades 

A Fattoria Vinhas Altas implantou seu primeiro vinhedo em outubro de 2017, ali foram plantados 1,6 mil mudas de Syrah, que tiveram sua primeira colheita em 2019: “somos uma vinícola boutique, nosso objetivo não é vender em quantidade”, diz Murilo, “queremos que as pessoas venham conhecer nossos vinhedos, provem os nossos vinhos, passem o dia conosco e, se gostarem, levem garrafas pra casa. Só vendemos o vinho aqui na vinícola”. 

Os primeiros testes dos vinhos da Fattoria foram feitos artesanalmente, com um processo de borbulhas e uma rolha hidráulica adaptada a uma garrafa, uma engenhoca artesanal feita por Murilo para acompanhar o desenvolvimento do vinho. “A primeira prensa foi o pilão da minha esposa”, lembra, divertido. A primeira vinificação da Fattoria, realizada na vinícola Inconfidência em 2019, resultou em apenas 420 garrafas. 

Hoje a estrutura mudou e quem assina a enologia da vinícola é Mario Lucas Ieggli, mas objetivo da Fattoria segue o de permanecer pequena, verdadeiramente boutique, com vinhos de autor: “não queremos passar das 3 mil garrafas ano”, diz Pilotto. A produção anual total atualmente, resultado das 3.550 plantas, é de 1,2 mil garrafas ao ano – apenas 100 por mês – produzidas a partir das variedades Syrah e da branca Viognier, de acordo com Murilo uma uva de difícil adaptação, que ele apelidou de ‘complicada e perfeitinha’: “uma uva muito difícil de trabalhar, mas que resulta em um vinho incrível, um vinho branco com alma de tinto”, filosofa. 

A Fattoria Vinhas Altas é uma das 26 do estado do Rio de Janeiro que faz parte da Associação dos Produtores de Uvas vitis vinifera da Serra Fluminense, e integra a rota ‘Areal, capital da Uva’, projeto desenvolvido pela AVIVA com o apoio do Sebrae RJ. 

O Brasil de Vinhos viajou a convite do Consevitis-RS e do Sebrae      

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Fotos: Brasil de Vinhos | Lucia Porto       

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