Uma reportagem assinada pelo jornalista Roger Kimball, colunista e editor colaborador do site Spectator World, publicada em abril de 2022, relata ao mesmo tempo a dificuldade de encontrar vinhos brasileiros nos Estados Unidos e a oportunidade que as marcas produzidas no Brasil têm por lá. Na crônica, embalada sob o efeito de vinhos tranquilos e espumantes produzidos com uvas da Campanha Gaúcha e do Vale dos Vinhedos, Kimball relembra clássicos do Velho Mundo, brinca com a figura do enochato – o Wine Snob – e diz aquilo que pensamos, mas não repetimos: os ícones são deleites e indulgências que nos permitimos, mas no final do dia – do dia a dia – o que queremos é uma boa taça de vinho, simples de beber, sem analisar, sem avaliar e sim, barata, para que possamos comprar com recorrência.
Partindo daí, Kimball conta um pouco da realidade do mercado norte-americano e salienta que os bons preços por lá têm de vir de longe. E o Brasil está longe. Nesse caso, que bom.
Dando um pulo no texto e, esperamos, te deixando com vontade de ler, lá pelas tantas, nos imaginamos num lauto almoço em Washington, o autor harmoniza um peito de pato assado com um Pinot Noir, assinado pela Miolo. E se descobre maravilhado com a qualidade e o preço, cerca de US$ 15. Pena, diz ele, ainda ser tão difícil de achar.
Que baita oportunidade, pensamos nós aqui, bah.
Abaixo uma versão da matéria, em tradução livre, no rodapé o link para a reportagem original.
Os vinhos leves, frutados e acessíveis do Brasil provavelmente encontrarão um lugar no mercado americano
tradução livre de matéria produzida por Roger Kimball, para Spectator World
Algumas pessoas pensam que o vinho é um negócio sério. Muitas vezes sou tentado a pensar isso, mas então me lembro de um desenho divertido de James Thurber chamado “The Wine Snobs”. Mostra quatro pessoas sentadas ao redor da mesa de jantar, cada uma segurando uma taça de vinho. Há um ar de dúvida resignada emanando da mesa como um todo. Mas o esnobe ele mesmo ostenta um grande sorriso e diz com entusiasmo: “É um Borgonha doméstico e ingênuo sem nenhuma criação, mas acho que você vai se divertir com sua presunção”.
Já desempenhei este papel.
Nós provamos alguns vinhos bem chiques juntos nesta coluna, e espero que haja muito mais por vir. No final do dia, porém, o vinho para a maioria de nós é principalmente sobre prazer e camaradagem, não conhecimento. Um requintado Montrachet ou um La Tâche são um bom capricho, mas no dia-a-dia o que se quer são vinhos que sejam amigáveis, fáceis de beber e (para falar francamente) baratos.
Há cada vez menos candidatos das principais regiões vinícolas americanas da Califórnia e Oregon, e o mesmo se aplica aos vinhos da França, Itália e Austrália. As pechinchas, via de regra, devem ser buscadas mais longe. Recentemente tive a oportunidade de provar alguns vinhos brasileiros em um almoço com alguns amigos em Washington, DC, e tenho o prazer de dizer que o passeio foi um sucesso.
A maioria dos bebedores de vinho deve estar pelo menos casualmente familiarizado com alguns vinhos do Chile e da Argentina. Eu sou parcial especialmente para alguns Malbecs argentinos e também passei algum tempo de qualidade com alguns Cabernets chilenos. Eu não tinha degustado, até aquele almoço em Washington, nenhum vinho do maior país da América do Sul.
A vinificação tem uma longa história no Brasil. As primeiras experiências datam do século 16, quando os portugueses plantaram vinhas ao redor do Rio de Janeiro. O clima quente e úmido cobrou seu preço. Seguiram-se outras experiências, mas foi apenas no final do século 19 que os imigrantes italianos obtiveram sucesso no Sul mais temperado. De fato, foi apenas nas últimas décadas que a indústria vinícola brasileira realmente decolou. Hoje é o terceiro maior produtor da América do Sul, depois do Chile e da Argentina, com cerca de 1.100 vinícolas concentradas principalmente no sul do país. Embora nem sempre seja fácil encontrar vinho brasileiro nos Estados Unidos, é provável que isso mude em breve. Os negócios internacionais do Brasil estão em expansão e seus vinhos tipicamente leves, frutados e acessíveis provavelmente encontrarão um lugar no mercado americano. A maioria também tem baixo teor alcoólico, o que os torna especialmente atraentes nos meses de verão, quando a vida ao ar livre ganha força.
Quase 80% dos vinhos brasileiros são espumantes, geralmente uma combinação de Chardonnay e Pinot Noir. A Moët & Chandon, a famosa casa de champanhes, reconheceu o potencial dos espumantes brasileiros e investe fortemente no negócio por lá. A maior empresa nacional, o Miolo Wine Group, também fabrica vários espumantes atraentes. Como aperitivo, tivemos o Brut Cuvée Tradition da Serra Gaúcha: um vinho fresco, limpo, levemente aromático, Chardonnay e Pinot Noir, com toques sedutores de giz. Ele pode ser seu (se você conseguir encontrá-lo) por cerca de US$ 25. Era um dia quente e ensolarado em Washington, e eu me vi, à medida que a conversa se animava, pensando que o vinho era como a auto-descrição de Falstaff: não apenas espirituoso em si mesmo, mas também causa de humor nos outros.
Para os tintos, o Brasil faz alguns blends de Cabernet e muito Merlot. Com nosso peito de pato assado bebemos um agradável Pinot Noir, também da Miolo, que é proveniente de vinhedos próprios da Campanha Gaúcha. Na cor, o vinho é um rubi claro, fino, bem estruturado e modestamente frutado. Combinou com o pato discretamente, mas, a julgar pelo número de vezes que o garçom apareceu ao meu lado para refrescar minha taça, combinou bastante com ela também.
Novamente, você não encontrará – ainda não – este rótulo em todas as lojas de vinhos, mas quando encontrar, descobrirá que ele pode ser seu por menos de US$ 15.
Uma bebida brasileira que pode ser encontrada em todos os lugares é a cachaça digestiva parecida com rum. Provamos a deliciosa Cachaça Princesa Isabel de Alambique, uma bebida rica, de cor mel e complexa que parecia mais suave que seu robusto teor alcoólico, semelhante ao do conhaque. Você ficará feliz em terminar sua refeição com uma dose ou duas, grato por uma garrafa inteira custar menos de US$ 30.
Tradução livre de reportagem publicada no Spectator World. Leia a matéria original, assinada por Roger Kimball, clicando aqui.