Na obra Renato Pinto Venancio explora nascimento do país em paralelo à importância da bebida
Corria o século XVI. Em uma colônia em formação os portugueses davam início ao que seria mais tarde um país independente – o Brasil. Uma história que se entrelaça intimamente com a bebida que já não era parte apenas de rituais religiosos ou mesas de jantares mais abastados, mas também das vivências sociais e culturais dos colonos.
Este é o tema de ‘Vinho e Colonização: O Brasil e as bebidas alcoólicas portuguesas’, livro do professor Renato Pinto Venancio que a partir de extensa pesquisa em documentos e arquivos históricos, desvenda segredos e curiosidades do nascimento desta relação.
Tendo Portugal como ponto de partida a obra revela as nuances de um país repleto de vinhas férteis, onde a bebida era reverenciada pela nobreza. Os reis e senhores degustavam os melhores dos vinhos que, além de serem artigos de luxo, tinham grande importância econômica.
A narrativa se desenvolve destacando a história das embarcações que trouxeram o vinho para o Novo Mundo – expressão que na época tinha outro significado – com registros do século XVI, que revelam como os mercados espanhol e português encontraram caminho para as terras brasileiras.
Para se ter uma ideia, as pesquisas de Venancio trazem documentos que comprovam que o vinho já estava presente na expedição que trouxe Pedro Álvares Cabral ao Brasil pela primeira vez, fazendo da bebida um elemento central na construção da identidade colonial.
Na obra, Venancio explora o uso da bebida para fins muito diferentes daqueles que conhecemos hoje, como para a produção de remédios e até mesmo moeda de troca – um bem verdadeiramente multifacetado.
Há também capítulos mais sombrios, em que o autor relata momentos em que escravos foram trocados por barris de vinho, a luta contra a importação daqueles que não fossem produzidos em Portugal e, até mesmo, a proibição de outras bebidas alcoólicas fabricadas no Brasil – um esforço para que o monopólio fosse preservado pelas autoridades.
Esta é uma história intimamente ligada à dominação, seja através da cobrança de impostos ou até mesmo contrabando. Afinal um produto considerado tão versátil economicamente era muito visado.
Com capítulos que abordam o consumo desde as classes mais altas, até sua presença mesmo que pequena nas senzalas, a obra de Venancio nos leva a uma jornada que não se limita apenas à história da bebida, mas também mapeia a essência do Brasil.
Na leitura é possível observar um recorte histórico, educativo e envolvente, que conduz o leitor para uma viagem pelas raízes culturais do Brasil colônia. Um relato que atravessa o tempo e relembra que existem muitos aspectos envolvidos na construção de uma identidade nacional, inclusive o vinho.
Vinho e Colonização
Renato Pinto Venancio