Quem aqui já ouviu falar em Slow Wine Fair, uma iniciativa bem recente, nascida em 2020, na Itália?
Outra pergunta: se mudarmos a indagação e questionarmos sobre a definição de Slow Food, isso melhora a possibilidade de uma resposta positiva?
Melhora bastante, né?
Pois podemos dizer que um é consequência do outro, o Slow Food, movimento criado no final dos anos 80 pelo italiano Carlo Petrini foi pensado para promover uma valorização do ato de apreciar a comida, melhorar a qualidade das refeições, focar na produção que dê valor ao que será consumido, ao produtor que produz o alimento e ao Meio Ambiente. Raciocínio lógico e temos a definição de Slow Wine: iniciativa que une produtores de vinho e uva com ideias semelhantes que priorizam a sustentabilidade de diferentes maneiras e fazem da administração da terra um de seus principais objetivos. No Manifesto do movimento, são diretos: prezam por um vinho bom, limpo e justo.
Slow Wine Fair
Pois foi a partir de 2022 que interessados neste tema passaram a se reunir em Bolonha, na Itália, desta forma foi criada a Slow Wine Fair, mostra que agrupa diversos aficionados pelo vinho que congregam da mesma filosofia. E para nós, brasileiros, a edição que se realiza entre os dias 25 e 27 de fevereiro de 2024 na Bologna Fiere, será especial. Entre os 654 inscritos na categoria Vinhos e Variedades de uva, de países como França, Alemanha, Portugal, Espanha, Itália, Argentina, Geórgia, Áustria, com vinícolas tradicionais do mundo do vinho como Ca’del Bosco, Donnafugata e Fattoria Lavacchio, há uma única empresa brasileira, a Valparaiso Vinhos e Vinhedos, de Barão (RS).
“Uma honra, mas também uma grande responsabilidade fazer parte”, comemora Naiana Argenta, sócia-proprietária da vinícola. “Ainda mais que Arnaldo Argenta foi um dos produtores selecionados para falar sobre o tema Regeneração do Solo em uma das masterclasses promovidas durante a feira, para um seleto público de produtores e profissionais da área de diversos países”.
A filosofia da vinícola
A Valparaiso produz vinhos finos de uvas raras no Brasil, a maior parte delas castas italianas, como Sangiovese, Rondinella, Garganega e Nebbiolo. De acordo com Naiana, o maior diferencial da vinícola está no campo, onde além do manejo extremamente meticuloso, é utilizado ainda o Sistema de Produção Protegido: “uma cobertura que protege o vinhedo do excesso de umidade, muito comum na Serra Gaúcha, o que propicia o desenvolvimento de doenças fúngicas”, argumenta. “O sistema evita a necessidade de insumos fitossanitários e permite colher uvas no ponto ótimo de maturação”, explica.
Na propriedade tudo é feito manualmente e da forma mais natural possível. Por exemplo, são utilizados pequenos ramos de vime – material biodegradável – para prender e conduzir as videiras ou ainda, a adubação verde, que torna o solo mais rico para o desenvolvimento da planta.
“Nossa vinificação é limpa, livre de intervenções, somente uva fermentada de maneira espontânea, com leveduras selvagens”, se entusiasma Naiana. “Sabemos que é um grande desafio, mas que tem nos surpreendido com resultados melhores a cada safra”. Os vinhos da Valparaiso não são filtrados e nem passam por clarificação: nada é adicionado a eles, a não ser sulfito em baixa dose no pré-envase, para fins de conservação. “É uma filosofia de trabalho muito linda e que pretendemos levar adiante para outras gerações”, diz Naiana, emocionada.
O ecossistema completo ao longo destes 18 anos foi sendo formado na Valparaiso a partir da experiência de Arnaldo Argenta, pai de Naiana, o homem que é o coração da vinícola. O trabalho executado diariamente pelo engenheiro agrônomo de 70 anos contribui para o equilíbrio das espécies, fundamental para manter as plantas saudáveis naturalmente.
A propriedade localizada na Serra Gaúcha tem 60 hectares, sete deles de uvas e o restante formado por outros cultivos tais como maçã, pêssego, ameixa, oliva e amora, entre outros. No espaço também há área com mata nativa, um bosque com diversas espécies e açude com água da chuva e de vertente natural.
Um encontro com muitas trocas
A participação da Valparaiso na Slow Wine será um marco para a vinícola, que está no mercado desde 2020. “Há cerca de dois anos conhecemos o movimento Slow Food, e passamos a fazer parte. De lá pra cá foi possível conhecer outros produtores através de treinamentos e encontros promovidos pela divisão Slow Wine”, conta a produtora. “Desta forma passaram a conhecer nossa filosofia de campo e vinificação, e agora teremos o privilégio de poder participar do evento pela primeira vez como expositores. Tenho certeza que será uma troca muito rica: serão vários produtores que pensam da mesma maneira, enfrentam os mesmos desafios e lutam pela Sustentabilidade, defesa do Meio Ambiente e pelo desenvolvimento sociocultural rural.
Fotos Valparaiso: Daniel Schuur
Foto Slow Wine Fair: reprodução internet
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