Pode matéria começar com uma pergunta?
Exageramos no título?
Superlativo demais?
Talvez, mas uma repórter deve relatar criticamente aquilo que apurou. E duas palavras foram muito repetidas nesse breve período de quatro dias percorrendo mais de 1,6 mil quilômetros acompanhando a safra da uva na Campanha Gaúcha. Apesar de longo – e em alguns momentos um pouco cansativo – todo o tempo que estive em deslocamentos não me deixou esquecer as duas expressões que encheram a boca dos vitivinicultores e produtores de uva e vinho no Rio Grande do Sul nos últimos dias – talvez o termo mais repetido tenha sido adiantada. Adiantada, antecipada, cedo, antes da hora, prematuramente: todas essas palavras e expressões podem ser usadas para descrever a safra da uva 2025 no Rio Grande do Sul como um todo, mas nesse caso estamos falando especificamente na Campanha Gaúcha. A região, que faz fronteira com o Uruguai por Santana do Livramento, e com a Argentina por Uruguaiana, tem extensão de cerca de 44 mil km2 e conta com pelo menos 19 vinícolas estabelecidas e ligadas à Associação Vinhos da Campanha – além de diversos produtores de uvas que vendem a fruta diretamente para as empresas que produzem vinho.
Uma combinação de calor excessivo (foto acima, na vinícola Nova Aliança), pouquíssima chuva – muitas vezes a falta dela – amplitude térmica, La Niña (resfriamento anormal das águas Oceano Pacífico, que ocasiona, entre outras coisas, secas severas) e uma região com condições ideais para o plantio da uva são alguns dos fatores que podem ter determinado essa condição. Alguns produtores, brincando, dizem que desse jeito em algum momento vão passar Natal e Ano Novo colhendo – o que seria um ‘baita’ adianto, para usarmos uma expressão local, já que muitas vezes a festa interrompida é o Carnaval.
“Estamos finalizando Ancellota e Tannat”, diz André Gasperin, gerente de enologia da Cooperativa Nova Aliança (foto acima, à esquerda, ao lado de Heleno Facchin, CEO da Nova Aliança), vinícola que tem vinhedos próprios em Santana do Livramento, “e pela análise das frutas, podemos esperar vinhos com ótimo potencial de guarda, com graduação alcoólica de cerca de 16%”. Gasperin conta ainda que nunca tinha vivenciado uma safra deste modo com ‘tudo ao mesmo tempo’. “Já foram colhidas oito variedades que temos cultivadas”, relata o enólogo, “restou apenas a Cabernet Sauvignon”.
E a qualidade, segundo ele, está excepcional: “maturação e acidez altas, pH baixo, portanto podemos esperar vinhos longevos”, comemora Gasperin.
A Cabernet Sauvignon, aliás, também deve ser a última variedade colhida pela vinícola Guatambu, de Dom Pedrito, de acordo com a engenheira agrônoma Gabriela Pötter. “A colheita deve ser finalizada até início de março”, diz. A graduação alcoólica surpreendeu Gabriela: ao fazer uma demonstração informal do uso do refratômetro para um grupo de jornalistas, a amostra selecionada ao acaso apontou álcool potencial em quase 17%: “é bastante”, disse, “mas para ter certeza é necessário fazer uma média e considerar o vinhedo como um todo. Nesse caso foi escolhida aleatoriamente uma uva bem madura, e coincidiu que essa baga estava muito concentrada”, argumenta.
“Esse ano estamos vivenciando uma safra espetacular em um ano de verão bastante seco”, explica, “nossa colheita está resultando em uvas com excelente maturação”, comemora Adriano Miolo, diretor superintendente do grupo Miolo. O enólogo – que também é responsável por plantas na Serra Gaúcha e no Vale do São Francisco, além da vinícola recentemente adquirida em Mendoza, na Argentina – fala especificamente por duas delas: Seival e Almadén, localizadas nos municípios de Candiota e Santana do Livramento, respectivamente. As empresas da Campanha Gaúcha, juntas, são responsáveis por mais de 600 hectares de vinhedos na região, na banda Central (Almadén) e Meridional (Seival). Na Miolo a colheita também está bem adiantada, em cerca de 15 dias como a maior parte da Campanha.
Na Cordilheira de Santana, uma das empresas de médio porte do extremo sul do Brasil, o otimismo com a qualidade da safra também é bem presente: “está se mostrando um ano excepcional, o clima está maravilhoso, as uvas estão sendo colhidas extremamente maduras, e com certeza vinhos de excepcional qualidade chegarão ao mercado”, comemora Rosana Vagner, proprietária da vinícola e presidente da Associação Vinhos da Campanha.
Lá no início do texto falamos em duas expressões que encheram a boca dos produtores e vitivinicultores: a primeira, cedo, diz respeito ao tempo e à antecipação. A segunda diz respeito à qualidade: quem chutou excepcional, acertou; quem leu o texto com atenção, descobriu na leitura.
Fotos: Brasil de Vinhos
O Brasil de Vinhos viajou a convite da ConceitoCom Brasil.
Para sugestões de matérias escreve para pauta@brasildevinhos.com.br.
As matérias publicadas em nosso site podem ser reproduzidas parcialmente, desde que constando o crédito para Brasil de Vinhos e publicando junto o link original da reportagem.
Para nos prestigiar e manter o Brasil de Vinhos atuando, assina nosso conteúdo exclusivo no feed do instagram.
Para anunciar, escreve para comercial@brasildevinhos.com.br e fala conosco.