A programação de provas da 12ª edição do Brazil Wine Challenge, concurso internacional de vinhos promovido pela Associação Brasileira de Enologia, foi intensa. Foram três dias de degustações, começando às 9h e seguindo até pouco depois do meio dia. Neste período cada um dos quatro jurados das nove mesas degustou mais ou menos 40 rótulos a cada dia, cerca de 120 no total. Destes 36 jurados, uma parte foi composta por enólogos, que se revezavam durante o concurso, a outra, foi formada por sommeliers, jornalistas, chefs de cozinha, profissionais do mercado, enófilos e influenciadores digitais.
Mas cada mesa, na verdade, tinha sua composição completa com cinco pessoas, sendo o quinto participante o presidente da mesa, um profissional experiente que tinha como principal responsabilidade coordenar o trabalho do grupo, sanar eventuais dúvidas, corrigir a rota em possíveis discrepâncias e, principalmente, manter a seriedade, transparência no processo e respeito ao produtor.
E das nove mesas de avaliação, apenas uma delas tinha uma mulher como presidente, coordenando o grupo de degustadores.
Bióloga, enóloga, professora de Enologia do curso de bacharelado em enologia na Universidade Federal do Pampa, em Dom Pedrito (RS), Ângela Rossi Marcon trabalha com vinhos desde os 17 anos. E sua experiência em concursos vem de longa data: “com 21 anos iniciei minha participação em concursos regionais de vinhos em Caxias do Sul, Farroupilha e Flores da Cunha, disputas das quais participo até hoje”, conta. “Estive também no concurso internacional ‘La mujer eliege’, em Mendoza (ARG), por dois anos”.
Esta estrada em concursos foi provocada pela experiência profissional adquirida desde cedo. Ângela foi bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul e do CNPq durante toda a graduação em Biologia, e sempre trabalhou em laboratório de análises físico-químicas de vinhos. Mas a lembrança da bebida, como para muitos na Serra Gaúcha, vem da infância: “desde criança eu consumia vinho – com água e açúcar, é claro. Era meu suco na infância”, brinca.
A partir dali pode-se dizer que seu destino estava traçado. Na faculdade de Biologia trabalhou em laboratório de análises de vinhos, “a paixão aumentou”, relembra. Então veio a especialização seguida de mestrado em Viticultura e Enologia: “me formei enóloga e fiz doutorado em Biotecnologia”, relata a especialista apaixonada pela área, “na minha vida inteira trabalhei com vinhos”, confessa. Em sua trajetória profissional passsou pelo laboratório de referência enológica (Laren), referência em análises de vinhos do estado do Rio Grande do Sul e do Brasil, onde realizou análises para o Ministério da agricultura.
A participação no BWC foi uma felicidade e um desafio: “foi uma alegria imensa e um ótimo exercício”. Primeira vez como presidente de mesa, Ângela confessa que ficou um pouco nervosa: “seria uma nova experiência pra mim”, argumenta. “Mas no decorrer percebi que minha trajetória como participante em outros concursos me deu certo conforto. Foi muito engrandecedor, de grande aprendizado”, comemora.
Em 2024 a 12ª edição do Brazil Wine Challenge contou com a presença de 20 mulheres entre os 85 avaliadores, entre elas Ângela na presidência de uma das mesas. Um número pouca coisa pouco maior que na 11ª edição, em 2022, da qual 18 mulheres participaram. Naquela ocasião Cláudia Stefenon, doutora em Biotecnologia, presidiu uma das mesas, desta vez esteve no corpo de jurados.
Para Ângela, não há diferença entre homens e mulheres na hora de avaluar vinhos. “As oportunidades são para todos, não importa o sexo”, diz ela. “O que importa é a competência, o comprometimento, a responsabilidade e o amor pelo que faz”. A presidente de mesa diz ainda que a maior parte dos degustadores não leva em consideração o sexo do presidente do júri, e se isso acontece, normalmente é com alguém menos experiente.
De uma prova como essa se pode tirar várias lições, diz ela: “existem pessoas e pessoas, homens ou mulheres, não importa o sexo. Cada um teu seu jeito, seu modo de pensar, suas preferências e opiniões, o que torna o concurso sério e correto”, reflete. “Para ganhar uma medalha todos os degustadores precisam gostar do vinho degustado, deve haver unanimidade”.
É isso, é simples assim.
(Lucia Porto, uma das sócias do Brasil de Vinhos, participou como jurada em uma das mesas do concurso)
O Brasil de Vinhos esteve no júri do Brazil Wine Challenge a convite da Associação Brasileira de Enologia
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