Adelina Majola, uma pioneira na Enologia no Brasil

Adelina Majola, uma pioneira na Enologia no Brasil

Se hoje o mundo do vinho ainda é muito masculino, com o mercado de trabalho dominado quase que totalmente pelos homens, imagine isso há 60 anos. Pense em uma mulher buscando capacitação em cursos novos, mas de uma área de conhecimento muito associada aos homens, como a Enologia, por exemplo.

Agora preste atenção na história que vamos contar.

Apresentamos para vocês Adelina Majola, que em 1962, ainda solteira e assinando Adelina Maria Mussoi, se graduou na Escola de Viticultura e Enologia de Bento Gonçalves, se tornando assim a primeira enóloga formada no Brasil.

Na foto acima, o destaque é Adelina, elegante e clássica de branco, no dia de sua formatura, em 1962. Adelina é a única mulher dos 13 alunos da primeira turma de Enologia da Escola de Viticultura e Enologia de Bento Gonçalves. Foto: Acervo pessoal Adelina Majola.

Adelina, uma pioneira na Enologia no Brasil

O Rio Grande do Sul é um dos principais estados produtores de vinho e a cidade de Bento Gonçalves e o Vale dos Vinhedos respiram a cultura vitivinícola: foi desta região da Serra Gaúcha que vieram – e continuam vindo – alguns dos principais nomes da Enologia do Brasil.

No século XXI sim, aos poucos e bem devagar, percebemos algumas mudanças na fotografia, mas a situação já foi bem diferente. Começou a mudar, bem lentamente, no final dos anos 50, quando Adelina Maria Mussoi se inscreveu para a o curso técnico de Viticultura e Enologia da Escola de Viticultura e Enologia de Bento Gonçalves. A filha de Júlio Luiz e Norma não tinha ideia, mas estava fazendo história. E nem tinha contado isso aos pais…

Descobrimos isso através de uma foto compartilhada por amigos. Pergunta aqui e ali e chegamos à primeira edição da Revista Brasileira de Viticultura e Enologia, lançada em 2009 pela Associação Brasileira de Enologia (ABE), o que descobrimos, relatamos em seguida.

Adelina Majola, uma pioneira na Enologia no Brasil
De baixo para cima: Waldomiro Vicente Fontanive, Adelina Maria Mussoi, Firmino Splendor e José Pozza. Noeli Gugel, José Cândido Abella Porto, Valdir Camerini, Aurindo Fontanive, Terílio Possamai e João Vignatti. Antônio José Grazzia e Leonir Francisco Baldissera. No alto, Ivo Siviero. Foto: Acervo pessoal Adelina Majola.

Na imagem, Adelina Maria Mussoi, hoje Adelina Majola, chama atenção por ser a única mulher. Aluna da primeira turma da escola pioneira no ensino de Enologia no país, Adelina desbravou este caminho com muita naturalidade. “Eu cresci ao lado de uma cantina, sempre estive envolvida nesse meio, inclusive com as festas – na época tínhamos a Festa do Vinho” relembra a enóloga, hoje com 80 anos.

Criada em uma família que sempre acreditou na educação e gostava muito de vinho – o avô era viticultor e tinha uma pequena indústria artesanal no início de século XX – Adelina pode escolher sua carreira de acordo com aquilo que gostava, algo não muito comum para a época. “Meus pais sempre me incentivaram a estudar, isso foi muito, muito importante” diz, sorridente.

Adelina, uma pioneira na Enologia no Brasil
Foto: Acervo pessoal Adelina Majola.

Ciente da oportunidade, conta que quando soube da abertura do curso do Colégio de Viticultura e Enologia, correu para fazer a inscrição sem avisar em casa: “eu tinha pressa, só contei para os meus pais depois que já estava tudo organizado”.

Primeira enóloga formada no Brasil desbravou caminho em uma profissão predominantemente masculina

Sua turma, repleta de homens, pode presenciar a história sendo escrita. Adelina tornou-se a primeira enóloga formada no Brasil aos 20 anos, em 1962. Por ser a única moça da classe, ela recorda ter o apoio dos professores, que sempre estiveram ao seu lado: “eu me sentia a estrela do pedaço”, diverte-se com a lembrança.

Acervo pessoal Adelina Majola.
Foto: Acervo pessoal Adelina Majola.

Pouco tempo depois de formada, Adelina foi aprovada em um concurso do Ministério da Agricultura: passou a ser, de fato e de direito, uma enóloga. Trabalhou em sua cidade natal, Bento Gonçalves, onde exerceu a profissão na área em que sempre gostou, dentro dos laboratórios, explorando as possibilidades da viticultura por alguns anos.

Acervo pessoal Adelina Majola.
Foto: Acervo pessoal Adelina Majola.

Hoje, quando questionada sobre as principais mudanças que conseguiu observar com o passar do tempo, Adelina fala da real consolidação da cultura vitivinícola no país e lembra das dificuldades do passado: “na época meu pai precisava comprar livros para mim em italiano e francês, nunca encontrávamos nada em português”.

Anos depois, Adelina passou em um concurso da EMBRAPA mas por diversos motivos, acabou não assumindo o cargo e mudou de área, algo que diz sentir muito. Entretanto, seu nome sempre estará escrito na história da Enologia nacional como a primeira mulher graduada em enologia no Brasil.

Hoje 22 de outubro, Dia do Enólogo, queremos parabenizar e agradecer Adelina Majola e tantas outras e outros profissionais da Enologia, que contribuem diariamente para que nosso país ocupe cada vez mais um lugar de excelência na produção de vinhos.

 

Compartilhe esse conteúdo com alguém
que possa gostar também