Altos de Amparo: um legado e um sonho correspondido

Altos de Amparo: um legado e um sonho correspondido

Para encerrar nossa cobertura realizada na microrregião de Altos de Amparo, em Amparo, São Paulo, apresentamos a vinícola Areia Branca, o mais grandioso dos três projetos que visitamos. Conhecer novos lugares e pessoas é sempre um desfio e uma felicidade que carregam uma ponta de nervosismo: o que será que vamos encontrar por lá? Em uma visita relâmpago conhecemos diferentes iniciativas tendo o vinho como principal elemento de ligação e o amor pelo que o envolve como característica comum.

Os 12 sócios da Horbis são verdadeiramente uma empresa, mas a paixão de cada um deles pelo vinhedo e pelo que visualizam no futuro está expressa nas palavras e no olhar de Reinaldo Assunção, executivo da vinícola. Por outro lado a dedicação e a entrega da família Penteado, que já produz rótulos premiados na Casa Vinet e também oferece o serviço de vinificação a terceiros é admirável.

Nós do Brasil de Vinhos agradecemos o convite para conhecer estas iniciativas, desejamos sucesso e repetimos que queremos seguir acompanhando de perto o progresso de cada um desses projetos – os três na verdade já realidades: parabéns aos envolvidos. O vinho brasileiro merece – e necessita – mais e mais projetos que levem o vinho produzido em nosso país cada vez mais perto dos brasileiros.

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Boa leitura.

Altos de Amparo: um legado e um sonho correspondido

O tempo passa diferente em alguns locais e relógio anda preguiçoso na propriedade que um dia foi a fazenda Santa Carolina e hoje dá lugar à vinícola Areia Branca – que ganhou o mesmo nome da trilha que identifica o lugarejo batizado graças à cor do solo dessa microrregião de Amparo, no interior de São Paulo. A recepção na sede de uma casa de fazenda, com caramanchão carregado de verdes  teve mesa farta, com direito a bolo e pão de queijo – lembrem que Minas Gerais é logo ali. Quadros nas paredes, objetos de decoração, mobiliário de uma legítima e acolhedora sala de casa de fazenda com cheirinho de café passado na hora. O quê, digamos, destoava da decoração tradicional, era a exposição de garrafas de vinhos. Mas entenda-se o porquê a partir da sequência da história.

Em 2019 José Schio conheceu o local e se apaixonou. Pouco tempo depois fechou negócio com o vendedor e tomou posse dos cerca de 380 hectares da fazenda, segundo ele uma ‘pirambeira’ – terreno íngreme, em declive acentuado: “foram necessárias mais de 200 bombas para explodir pedras e podermos lidar com o solo”, conta o agora produtor, “um local ideal pra plantar jararaca”, brinca.

Brincadeiras à parte, o terreno situado entre morros e montanhas no qual um dia foram criados porcos e cultivava-se café, tem características invejáveis. Com altitude de 1050 metros e encostas ensolaradas à face norte, tem no solo franco argilo-arenoso, com boa drenagem e ótima retenção de nutrientes, excelentes condições para a viticultura. Além disso, as temperaturas extremas entre 5º e 26º no inverno, apresentam uma amplitude térmica desejável.

“Quando eu tinha 60 anos resolvi fazer um novo desafio na minha vida”, diz Schio, gaúcho que vive em São Paulo há muitos anos e que fez toda sua vida profissional no ramo da logística. Em breve ele poderá, quem sabe, passar a ser cliente de sua antiga empresa: se tudo correr como planejado, a previsão do começo das operações de varejo e das primeiras degustações com turistas e enófilos na vinícola Areia Branca é final de 2025, no máximo início de 2026. O que significa dizer que garrafas dos vinhos rotulados na antiga sede da Santa Carolina vão começar a ser transportadas por aí.

A vinícola, repetimos, ainda não está aberta ao público, mas os tanques, garrafas e barricas estão abastecidos: a Areia Branca está em sua quarta safra, e já são quase 6 anos sem vender nada – propositalmente.

Represar produto e criar desejo é sempre uma bela estratégia – e belo aliás, é o projeto e o todo que envolve a concepção arquitetônica da Areia Branca.

Moldura da natureza

O conceito criado pelo Mangava Arquitetura, estúdio que tem sede em Campinas (SP), está em total harmonia com o relevo e o entorno: a deslumbrante vista serve como moldura natural. As linhas delicadas, os tons terrosos, as intervenções históricas, religiosas, simbólicas ou naturais trazidas pela presença das pedras e das árvores, por exemplo, conversam perfeitamente com o espaço. “Chegamos lá pela primeira vez em 2019”, conta Paula Pereira, umas das arquitetas responsáveis pelo projeto, “seis anos depois constatamos como é bonito ver que funcionou a questão da escala e do respeito à história do local, encaixando o projeto no terreno de forma que tudo funcione do ponto de vista técnico e fique harmonioso com a paisagem”, relata.

Ao mesmo tempo em que a construção impressiona pela imponência e grandiosidade, encanta pelas sutilezas, seja no uso dos materiais, seja nas soluções estéticas. Vista ao longe, do portão principal, é uma edificação de pé direito único; de perto descobrimos o nível inferior, onde ficam laboratório, cantina, setor de engarrafamento e o lindo espaço para degustação junto à cave, na qual repousam 63 barricas de diferentes origens, além de foudres, tanques de concreto e botis italianos de cerâmica.

O projeto foi concebido a várias mãos: Cristian Sepúlveda, enólogo, e Otávio Foresti De Luca, engenheiro agrônomo, foram muito presentes auxiliando na parte técnica do arquitetônico e na implantação dos vinhedos, e seguem prestando consultoria nesta área de campo. A agrônoma Larissa Godarelli é a responsável por acompanhar o dia a dia das vinhas e a enóloga residente é Yasmin Portes.

Os 13 hectares de vinhedos da Areia Branca – com 8 variedades, 5 tintas e 3 brancas – estão divididos em 13 quadras. A maior parte com Syrah, variedade símbolo da Dupla Poda, depois Sauvignon Blanc, que teve recentemente sua primeira colheita no inverno de 2025. Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon completam a maioria da área de plantio. Além destas há pequenas parcelas com Chenin Blanc, Marselan, Viognier e Cinsault, cepas ainda em testes.

José Schio, pode-se dizer, é um obcecado pelo vinhedo. Está sempre presente, provando, testando, caminhando pelas fileiras, buscando soluções, criando alternativas. É um apaixonado pelo que faz e em suas palavras deixa bem claro que a Areia Branca mais do que um negócio é sim um legado que quer deixar, e enche a boca para dizer isso ao lado da filha, Juliana, e do neto, José Schio Proença, dupla que junto dele é a alma da vinícola.

“Aqui está sendo meu sonho”, diz ele, “e nesses primeiros anos está correspondendo”.

Em breve o conteúdo das barricas e das garrafas estocadas na sede da Areia Branca vai ajudar a comprovar esse sonho correspondido.

Em especial o PIO X, elaborado somente em safras excepcionais, e que ganhou este nome graças a uma promessa de Dona Carmelinda, mãe de José. Se tudo corresse bem durante a gravidez de seu 10º filho, o menino nascido homenagearia o Papa PIO X, recém canonizado à época, dando o nome do santo à criança. Assim nasceu José PIO X Schio, que mais de seis décadas depois, deu vida ao vinho PIO X.

 

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O Brasil de Vinhos viajou para a região de Amparo a convite das vinícolas Horbis, Casa Vinet e Areia Branca

Fotos: Estúdio Mangava e Lucia Porto | Brasil de Vinhos

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