Amparo, uma pequena cidade localizada na zona leste do estado de São Paulo, a cerca de 130 quilômetros da capital paulista, distante menos de uma hora de Campinas, é um dos onze municípios do estado a ter o título de Estância Hidromineral. Uma localidade rural que tem no café e no turismo das águas alguns de seus principais motores. Amparo – ou o pequeno recorte de Amparo que conhecemos em uma visita muito rápida – carrega em si a força da roça, da fazenda, do interior, do sotaque, do tempo que passa mais lento. Mas Amparo abriga também pessoas que perceberam no vinho a possibilidade de um negócio lucrativo, uma segunda ou terceira via de investimento, porém mais do que isso: encontraram uma paixão, algo que pensam deixar como legado pras novas gerações.
Um levantamento feito pela Turisagro aponta que atualmente há pelo menos 7 iniciativas vitivinícolas na região – pelo menos duas delas já com colheita e produção frequentes, como a Terrassos e a Carmela, por exemplo. Além destas ainda algumas com os vinhedos em implantação e outras com eles já implantados, em um lento – e porque não dizer angustiante – processo de espera pelos primeiros resultados.
Vinho carece de tempo.
Visitamos a região com o objetivo de conhecer três novos projetos, cada um em diferentes momentos de sua trajetória: Horbis, Casa Vinet e Areia Branca. Cada projeto guarda uma história e um objetivo, são três negócios com pelo menos 14 famílias envolvidas.
O vinho, ele é um agregador.
Subindo a Serra
Chegar a trilha da Areia Branca, onde estão localizadas estas três vinícolas, é bem fácil: do aeroporto de Viracopos, em Campinas, até a estrada de acesso é um trajeto de cerca de 40 minutos, a maior parte deles pela rodovia Dom Pedro I. Saindo da estrada principal caímos na Serra e no verde de suas belas e bucólicas paisagens típicas de regiões serranas – vale lembrar que Amparo está localizada na Serra da Mantiqueira, uma das regiões vitivinícolas do Brasil que vem se destacando mais e mais a cada ano. Mas apesar da localização privilegiada, os vinhos e as vinícolas de Amparo ainda não são muito conhecidos. No guia Rota dos Vinhos de São Paulo, por exemplo, lançado em agosto de 2024, Amparo faz parte da categoria Enodestinos, mas a edição inicial do guia não lista nenhuma vinícola.
Nesta série de reportagens vamos apresentar três projetos que já estão em andamento na região de Amparo, mais precisamente na trilha da Areia Branca (foto acima). Continue a leitura e saiba mais sobre a vinícola Horbis, a mais nova iniciativa da região. Nos próximos textos conheça a Casa Vinet, que nasce também para fornecer serviços de vinificação para terceiros, e a Areia Branca, o mais ambicioso dos três locais que conhecemos.
A ‘SAF’ do vinho
De uns anos para cá o noticiário esportivo foi invadido por jargões econômicos: governança corporativa, bolsa, sociedade anônima, gestão, capital. Sem entrar no detalhe, acompanhamos à distância – e no campo – as mudanças que os investimentos feitos por empresas ou fundos trouxeram aos times que, com mais dinheiro em caixa, passaram a ter opções variadas e buscar melhores alternativas de negócios. No caso do futebol, jogadores mais qualificados. O resultado disso podemos ver em campo e no desempenho desses ‘clubes-empresas’ nos campeonatos que disputam. Pois foi nesse modelo de negócio que pensei quando comecei a conversar com Reinaldo Assunção, diretor executivo da vinícola Horbis, talvez o mais jovem dos projetos da região de Amparo.
Também pudera, as 12 famílias que compõem o grupo têm como seus integrantes executivos que fizeram ou ainda fazem parte do mercado financeiro, “mas entre os sócios há também um médico e um advogado”, complementa Assunção. “Somos uma holding de capital fechado”, diz. E funcionam efetivamente como um grupo empresarial: Assunção foi escolhido como executivo a partir de um acordo de cotistas, que resolvem tudo a partir das considerações de um conselho de administração.
O executivo – e também agora produtor de vinho – garante que a empresa é formada por sócios com características diferenciadas, talentos complementares: ele, por exemplo, já é produtor de vinhos – desde 2014 rotula com sua marca RA no condomínio The Vines em Mendoza, na Argentina. “Queremos fazer aqui algo parecido com o que é feito por lá: produtos diferenciados para um público de alta renda que queira ter a experiência de produzir seu próprio vinho”, argumenta, “não vamos produzir vinhos de varejo, teremos pelo menos três níveis de gama diferentes”, conclui.
O trabalho nos 14 hectares já implantados começou em 2020 a partir da avaliação do terreno, feita com a consultoria da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo, mas a movimentação de terra não para (foto de topo da matéria). As escavações que mostraram um solo argilo-arenoso e com drenagem alta determinaram os melhores locais de plantio, em áreas com altitude entre 980 metros e 1120 metros.
Na hora de escolher as mudas de Pinot Noir, Syrah, Cabernet Franc, Merlot, Sauvignon Gris e Viognier para o plantio, os fornecedores não fugiram do habitual: cerca de 80% vieram da italiana Rauscedo e o restante da Vitácea, empresa que tem a frente Murillo de Albuquerque Regina, considerado o pioneiro na Dupla Poda.
A maior área implantada foi com Syrah, com cerca de 5 hectares, até hoje a uva símbolo dos vinhos de inverno, mas Assunção aposta também na Pinot Noir, que junto com o restante das variedades deve ter sua primeira colheita em 2026. “Esperamos que estes 15 hectares nos rendam cerca de 90 mil garrafas em 4 anos’, espera o diretor executivo da Horbis, “mas em 2026 já queremos ter nossa primeira safra com algo entre 15 e 20 mil garrafas”, garante.
O nome Horbis aliás, foi uma palavra inventada, criada a partir da mistura de mundo (orbis, em latim) com horizonte (porque a vista no ponto mais alto do terreno é realmente impactante). E essa paisagem de 360o é algo que marca muito a propriedade, que em seu total tem 163 hectares e deve ter uma estrutura de hospedagem e hotelaria totalmente pronta em oito ou dez anos, conta Assunção. O desafio é grande, mas o que não falta é entusiasmo: “queremos vender a região para o enoturismo, não queremos copiar nada, queremos mostrar as belezas do Brasil para o brasileiro”, complementa, “o vinho brasileiro vem cada vez mais sendo desmistificado como um vinho de excelência, e não apenas no Sul do Brasil mas também aqui na região da Mantiqueira”.
O Brasil de Vinhos viajou para a região de Amparo à convite das vinícolas Horbis, Casa Vinet e Areia Branca
Fotos: Lucia Porto | Brasil de Vinhos
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