Amplitude térmica, dias secos e ensolarados: uma combinação quase perfeita no PAD-DF

Amplitude térmica, dias secos e ensolarados: uma combinação quase perfeita no PAD-DF

Interessante começar a contar sobre as vinícolas de Brasília de trás para a frente, como um filme no qual a primeira cena já antecipa o epílogo. É mais ou menos este o sentimento que tenho ao escrever sobre a região ao começar o texto falando sobre a vinícola Brasília, um empreendimento que une 10 vinícolas sob uma mesma marca e que acendeu um farol iluminando os vinhos da região do Planalto Central. “Estamos chamando a região de Cerrado de Altitude”, explica Rafael Lavrador, professor que coordena o projeto da Fundação de Amparo à Pesquisa do Distrito Federal, em parceria com a vinícola Brasília. Lavrador faz parte da equipe que monitora e acompanha os vinhedos, com foco muito forte na pesquisa a variedade Syrah, presente em todas as propriedades integrantes da vinícola Brasília. 

O pioneiro 

A academia é presente no dia a dia das vinícolas, mas os produtores têm uma dose muito grande de ‘culpa’ pelas inovações e avanços pelos quais a região tem passado. Seguimos começando pelo começo: Ronaldo Triacca (foto acima) é um fazedor, foi dele, por exemplo o primeiro vinho fino elaborado no Distrito Federal: Seu Claudino, vinificado na Epamig, em Caldas, pela enóloga Isabela Peregrino, foi lançado em agosto de 2020. Produtor, empresário, presidente da AgroBrasília e um dos sócios-fundadores da vinícola Brasília, Ronaldo é um bom sinônimo para a palavra articulador. E foi articulando com amigos produtores da região, agricultores focados em outras culturas, mas que já estavam acompanhando a movimentação em torno do cultivo da uva para produção de vinho, que Triacca começou a dar vida à vinícola Brasília, empresa que hoje tem 10 vinícolas sob a mesma marca, dividindo custos e multiplicando conhecimentos, vinificando seus rótulos no mesmo ambiente em que o vinho coletivo é elaborado. Como bem os participantes disseram à época da criação da vinícola, em abril de 2024, ” o projeto é um verdadeiro laboratório de criatividade e colaboração”. 

Gestar, planejar e tirar do papel um evento como a Expovitis, feira que coordena ao lado de Carlos Vitor – também produtor sócio da vinícola Brasília, com a Casa Vitor – era apenas uma questão de tempo. Mas as iniciativas e inovações de Triacca não ficam apenas no coletivo: produtor rural e técnico em agropecuária há mais de 40 anos, há sete cultiva uvas viníferas em sua propriedade, a Villa Triacca, onde também há uma pousada. Desde o final do ano passado Triacca tem uma novidade no Brasil ou, como ele mesmo diz, talvez no mundo, um vinhedo embaixo de um pivô central: “é claro que isso vai um pouco contra as leis agronômicas”, diz ele, “aqui foi uma otimização da área, plantamos em curva para que o pivô central passe no meio irrigando”, explica. E rapidamente já contra-argumenta a quem questione sobre possíveis doenças fúngicas causadas pela irrigação das folhas por cima do vinhedo: “irrigamos no período em que findam as chuvas, de abril até junho”, conta. Ainda de acordo com Triacca “o sereno molha muito mais que a irrigação que eu faço aqui”. Segundo Triacca por esse sistema de irrigação a folha fica molhada entre 15 e 20 minutos no máximo, diferente de uma noite que pode ter seis ou sete horas de sereno. O vinhedo de Chardonnay foi implantado no final de 2024: agora é dar tempo ao tempo e esperar pelos resultados na taça. 

Cordeiro e Vinho 

Expressões que fazem parte do nome completo da Ercoara Cordeiro e Vinho, sociedade entre os amigos Erbert Correia de Araújo e Rodrigo Sucena. A vinícola, única do grupo das 10 empresas que não tem sede no Distrito Federal, fica localizada em Cristalina, Goiás, também dentro do PAD-DF, era uma tradicional fazenda de criação de cordeiros que com o passar do tempo – e a entrada de Sucena na sociedade – migrou também para a viticultura, sendo a empresa que tomou a frente na fundação da vinícola Brasília, junto com a Triacca.  

Hoje a Ercoara tem implantados cinco hectares de vinhedos de cinco variedades: Syrah, Cabernet Franc, Marselan, Sauvignon Blanc e Viognier, mas a área já está sendo expandida para 7 hectares. A amplitude térmica, segundo Sucena, é dos fatores que mais contribuem para a qualidade das uvas e também dos vinhos, claro. Mas no caso da Ercoara a inovação vem da tradição: o mesmo local que serve como área de plantio de vinhedos serve como alimento para o rebanho de cordeiros: “trazemos as ovelhas para o vinhedo em um período que não tem produção de uva para que elas possam fazer o controle de ervas daninhas“, explica Sucena. Isso se repete a cada três meses, além disso as ovelhas também atuam no período de pré-poda, comendo as folhas da base antes da segunda poda de produção, desta forma liberando o acesso do sol e da luz para as gemas, o que ajuda na fertilidade do ramo.  

Os animais ajudam também na adubação orgânica, 90% do adubo do vinhedo é esterco de ovelhas. Até o xixi das ovelhas faz bem para os vinhedos, segundo um estudo de uma universidade da Califórnia citado por Sucena: “é como se jogássemos uma boa ureia no pé da videira”, resume, “o xixi da ovelha tem um grande potencial mineralizador do solo, deixa macro e micronutrientes mais disponíveis para a planta”. 

Família que planta unida… 

permanece unida. E assim são eles Paulo, Cris e os filhos Isabella e Rafael Bonato, que deram o nome da mãe de Paulo, a ‘Oma’ Sena para sua vinícola. A família Bonato é mais um grupo de produtores de grãos que se apaixonou pela uva e pelo vinho e entrou de cabeça na viticultura no Cerrado de Altitude.  

“O trabalho é todo colaborativo”, diz Isabella Bonato, engenheira agrônoma e pesquisadora. A consultoria de campo ficou a cargo da Floeno, e o vinho com a marca Oma Sena é feito sob a coordenação de Marcos Vian, enólogo responsável pela vinícola Brasília, sempre com o apoio de Osvaldenir Camejo Pinto, enólogo residente. “A cada safra temos reuniões nas quais definimos os perfis dos vinhos e vamos definindo tudo em conjunto”, conta. 

No vinhedo o cuidado e a atenção são totais: aliás as telas que vimos na área de plantio da Oma Sena Vinhos são comuns a todos os vinhedos da região, os passarinhos são onipresentes por lá. Rafael Bonato, irmão de Isabella, aponta a importância da checagem diária das uvas e de como as características sensoriais do vinho podem ser percebidas na degustação diária das bagas: “conseguimos sentir no vinhedo os fatores que estão no vinho, acompanhando no campo a evolução das frutas”, revela 

Triacca, Ercoara e Oma Sena Vinhos são 3 das 10 vinícolas que formam a vinícola Brasília. Alto Cerrado, Casa Vitor, Horus, Marchese, Miro, Monte Alvor e Vista da Mata completam a lista – já pelo menos sete motivos para voltarmos à Brasília. 

Saiba mais sobre a Expovitis 2025 e os vinhos do Cerrado de Altitude:

Brasília e os vinhos do Cerrado de Altitude

Oma Sena Vinhos

A importância da ciência

Viticultura em consórcio com ovinocultura

Três formas de manejo de viticultura

Pesquisa é fundamental

Vinhedo no pivô central

Fotos: Lucia Porto | Brasil de Vinhos 

O Brasil de Vinhos esteve na Expovitis a convite da organização da feira. 

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