Para entender o terroir, diz Giuliano Pereira, pesquisador da Embrapa Uva e Vinho, “o clima é o número um, dois, o solo, e três, o fator humano”. O agrônomo, mestre e doutor em enologia pela Universidade Victor Segalen, de Bordeaux, na França, com pós-doutorado pela Universidade da Califórnia, em Davis, nos Estados Unidos e que viaja o Brasil todo conhecendo vinhedos dos mais diferentes portes e estilos, foi o entrevistado do episódio 43 da temporada 3 do Brasil de Vinhos RECEBE, que teve como tema específico desvendar os segredos do microterroir.
Na conversa conduzida pelo enólogo Luiz Gustavo Lovato, Pereira destaca os três aspectos do terroir ressaltando que o clima ocupa a primeira posição por ser o maior influenciador sobre a qualidade das uvas e dos vinhos. Mas segundo ele a qualidade da bebida é multifatorial, também manifestada por características do solo, e práticas do manejo humano. “Terroir é uma palavra francesa que foi adotada por todas as línguas do mundo”, afirma, apontando que o termo é usado para definir este conjunto de características, o ponto de partida para a compreensão do que é o microterroir.
Sabe-se que micro é relativo a pequeno – neste caso pequenas parcelas de terra que possuem características próprias e que devem ser tratadas individualmente. “Uma parcela a 200 metros de outra é completamente diferente”, afirma o pesquisador, destacando que a resposta da videira muda drasticamente de acordo com o local do lote que se encontra: para que a qualidade do vinho seja maior, é indispensável observar as condições específicas de cada área específica.
O manejo diferenciado permite que os produtores identifiquem e valorizem as nuances do vinhedo, assegurando a identidade de cada rótulo, que podem variar muito, ainda mais pela diversidade climática do Brasil. Os vinhos produzidos no país se distinguem por três principais tipos de viticultura: a tradicional, a tropical e a de inverno.
A tradicional, realizada em maior escala no Sul do país, também abrange outros estados como São Paulo e Minas Gerais, e tem uma poda e uma colheita anuais. Na tropical, onde a videira produz o ano todo por conta da temperatura, o produtor escolhe quando podar e colher. Na conhecida como viticultura de inverno, uma técnica 100% brasileira, é possível inverter o ciclo da videira, e colher uvas no período em que há maior amplitude térmica, em estados como Goiás e Bahia, por exemplo. “O Brasil é o único país onde se faz Dupla Poda e se colhe no inverno.”, afirma.
Isso é possível graças à tecnologia utilizada na viticultura moderna, mais precisa e eficiente, e que assegura uma leitura mais exata de cada microterroir e a viticultura de precisão é que permite um entendimento detalhado destas variações. “Cada parcela, seja de meio hectare, seja de um hectare, cinco hectares, você tem um stand de plantas em algum dos cantos que vegeta diferentemente.”, argumenta. As diferenças no solo, seja mais argiloso, pedregoso ou arenoso, ou até mesmo a presença de uma rocha subterrânea, influencia diretamente a forma como a videira se desenvolve.
“Algumas empresas estão implantando sensores de umidade e temperatura no nível das raízes e dos cachos, utilizando satélites, drones e câmeras em quadriciclos para avaliar o índice de vegetação, a disponibilidade de água e o teor de açúcar nas uvas”, explicou. Essas ferramentas de viticultura de precisão são essenciais para adaptar as práticas de manejo às necessidades específicas de cada microterroir, garantindo que as uvas alcancem seu máximo potencial enológico.
Para assistir o episódio na íntegra, entender melhor o trabalho de Giuliano Pereira e o papel da Embrapa na pesquisa dos microterroirs do Brasil, clica aqui – já aproveita e te inscreve no canal do Brasil de Vinhos no YouTube.
Na quinta-feira, dia 4 de julho, às 19h30, nosso convidado será Rafael Lavrador, professor e pequisador no Instituto Federal de Brasília – IFB.
Foto: divulgação | Embrapa Uva e Vinho
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