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Julio Gostisa é gaúcho, pai da Sofia e winemaker formado pela Miolo. Também é um escritor ocasional, pesquisador sobre o comportamento do consumidor de vinhos e integra a equipe da Winext de São Paulo. Como se fosse pouco, é consultor da Lacava Adegas Personalizadas e diretor comercial da charmosa vinícola Routhier & Darricarrere, uma das joias do vinho localizada em Rosário do Sul, na Campanha Gaúcha.
Confira o texto de autoria do Julio, que antecipa algumas expectativas para o que teremos a partir da safra deste ano. Saque uma rolha e boa leitura.
COMO SERÁ A SAFRA DE UVAS NA
CAMPANHA GAÚCHA EM 2021?
Julio Gostisa*
No ano que passou, tivemos uma safra histórica. Considerada por muitos a melhor dos últimos dez anos. Como será que a safra de 2021 irá se comportar? Será que também iremos repetir uma safra histórica?
Situada entre os paralelos 29º e 32º Sul, a Campanha Gaúcha encontra-se na mesma faixa de latitude de outras célebres regiões vitivinícolas do mundo, incluindo Argentina, África do Sul, Nova Zelândia e Austrália. Ao mesmo tempo, as parreiras – predominantemente plantadas em sistema de espaldeira – foram estabelecidas em grandes extensões de planície com encostas de baixa declividade, o que favorece a mecanização das colheitas, reduz os custos e potencializa a escala produtiva.
Nós, brasileiros, fomos agraciados na última década com três safras de uvas incríveis. Temos que erguer as mãos para o céu e realmente agradecer o conjunto de fatores que estão nos auxiliando a elevar a qualidade do vinho nacional e por consequência a identificação desta melhora na mente do consumidor final.
“Na vitivinicultura, a safra começa a ser definida no inverno, e, como de costume na região da Campanha Gaúcha, tivemos um inverno rigoroso, quando a planta descansou bastante e brotou com força na primavera. Tivemos uma primavera e início de verão super secos. Isto nos proporcionou uma planta muito saudável. É comum que as safras sejam saudáveis e de excelente resultado em nossa região”, assegura Anthony Darricarrère, enólogo da Vinicola Routhier & Darricarrère.
Durante a fase final no verão, quando as uvas já estão maturando, neste ano ela foi chuvosa, no acumulado do ano já choveram quase 200 mm. Choveu muito em janeiro e fevereiro, e após cada chuva, seguiu-se um período ensolarado. Por terem passado por uma estação de primavera muito seca, as plantas estavam muito saudáveis e as uvas resistiram bem à chuva. A colheita no geral, na ReD vai ser 20% maior que a do ano passado.
As chuvas no período de maturação irão desenhar uvas com 10% menos de açúcar que em 2020, o Cabernet Sauvignon alcançará açúcar suficiente para elaborar vinhos de 13 % de álcool no minimo. As noites estiveram mais frias que no ano passado, e a maturação mais longa, o que favorece a qualidade dos taninos e os aromas. Este ano foi uma ótima safra para as uvas brancas e tintas para elaboração de vinhos rosados. Não será uma safra histórica, mas sim diferente que em 2020, estamos diante de uma colheita mais delicada, com mais desafios.
“As vinícolas da Campanha Gaúcha estão trabalhando em equipe para lançar, o quanto antes, os primeiros vinhos sob a nova designação de Indicação de Procedência (IP), concedida em maio de 2020 pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) em nome da Associação dos Produtores de Vinhos Finos da Campanha Gaúcha. O selo já esté pronto e logo teremos estes produtos nas gôndolas e lojas especilizadas”, comenta Julio Gostisa, diretor comercial da vinícola ReD, localizada em Rosário do Sul.
Nesta safra os enólogos não poderão ser apressados: deverão ter mais paciência e resiliência, retornar aos livros de escola e aplicar na prática tudo o que aprenderam. Acreditamos que será uma safra poética, será a vez dos vinhos gastrônomicos, mas igualmente de elevada qualidade para os vinhos da Campanha Gaúcha, resume Anthony Darricarrère.
* texto elaborado por Julio Gostisa, Anthony Darricarrere e Rodrigo Hora.
foto: Toni Gonçalves