Na pequena cidade de Bituruna, localizada no extremo sul do Estado do Paraná, quem dá as boas-vindas ao visitante é a réplica monumental de um garrafão de vinho de 18 metros de altura. Apesar de abrigar pouco mais de 15 mil habitantes, tudo parece superlativo em Bituruna: a estátua de Santa Bárbara que vigia a cidade do alto de seus 34 metros de altura, o rio Iguaçu que banha parte do território do município e segue impávido até sua foz – uma das Sete Novas Maravilhas da Natureza, e, desde 2020, o título de Capital Estadual do Vinho.
Com todos esses predicados, e somado ao fato de o território ter sido reconhecido com a Indicação de Procedência Vinhos de Bituruna em 2022, a cidade foi escolhida para sediar o 1º Encontro Estadual de Sucos e Vinhos do Paraná, em março de 2024. O encontro reuniu produtores, técnicos e pesquisadores em um dia intenso de palestras sobre comunicação, viticultura, enologia e enoturismo. E outro dia recheado de visitas técnicas às quatro vinícolas que integram a Rota do Vinho do município – Bertoletti, Sanber, Di Sandi e Dell Mont.
O encontro foi organizado pelo SebraePR, Associação dos Produtores de Uva e Vinho de Bituruna (Apruvibi), Prefeitura de Bituruna, Governo do Paraná e pelo Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná. Mais de 200 participantes, vindos de diferentes regiões do estado estiveram presentes nessa ação de fortalecimento da cadeia produtiva da uva e do vinho da região.
Ao longo do encontro foram apresentados resultados de projetos realizados por diferentes instituições para revitalizar a viticultura e valorizar os produtos com identidade territorial. Dois exemplos são o Programa de Revitalização da Viticultura Paranaense, lançado em 2019 pelo governo estadual e o Origens Paraná, programa capitaneado pelo SebraePR dedicado a promover os produtos paranaenses identificados com o selo de Indicação Geográfica. Maria Isabel Guimarães, consultora do SebraePR, explica que o estado detém atualmente 14 IGs – e mais nove devem ser depositadas para apreciação do Instituto Nacional de Propriedade Industrial. Dentre os produtos já reconhecidos estão a Erva-mate de São Matheus, as Uvas Finas de Mesa de Marialva e os Vinhos de Bituruna.
Dados da Pesquisa Agrícola Municipal do IBGE, comprovam que em 2022 o Paraná foi responsável por uma área colhida de 3507 hectares de com uvas, o que corresponde a cerca de 4,7% da área colhida no território nacional no mesmo ano (74.798 ha). Em Bituruna, os mais de 100 hectares cultivados têm nos vinhos produzidos com as variedades de origem americana Casca Dura (Martha) e Bordô seus principais produtos. No entanto, a presidente da Apruvibi, Michele Bertoletti Rosso, destaca que a associação busca aumentar a área plantada, inclusive com outras variedades. “Em 2024 queremos implementar os selos nas garrafas e formalizar o processo preconizado pela IG, que envolve a degustação e codificação dos vinhos. Além disso, estamos trabalhando junto ao poder público para angariar recursos e maquinário para os produtores de uva.”
Sobre Bituruna
A viticultura está presente em Bituruna desde 1935, trazida pelos imigrantes de origem italiana. A preservação dessa herança cultural fica muito clara ao visitar a vinícola Sanber, onde um casarão de mais de 80 anos é testemunha de como viviam as gerações anteriores. Da mesma forma, alguns exemplares de vinhas velhas ainda em produção podem ser vistos na Di Sandi, assim como pipas de madeira gigantes podem ser conhecidas na Bertoletti e pequenas barricas antigas de madeira brasileira na Dell Monte. Para saber mais sobre a IG de Bituruna, obtida em outubro de 2023, clique aqui.
Embora a história esteja nos artefatos e na ponta da língua dos proprietários das vinícolas, foi possível perceber um intenso debate técnico entre os produtores, demonstrando um olhar atento à modernização dos processos e melhoria constante dos produtos, o que é materializado na taça ao degustar os produtos da região. Vinhos brancos e tintos aromáticos e frescos, sucos integrais com tipicidade e qualidade e promissores exemplares de vinhos finos, que aos poucos vão ganhando espaço no portifólio das vinícolas.
Fotos: Fer Camana
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