Enologia é encantamento, maturidade e paciência

Enologia é encantamento, maturidade e paciência

Por Rosana Wagner*

Sempre fui apaixonada por vinhos e como iniciei muito jovem na profissão, como enóloga responsável pelo controle de qualidade de uma grande empresa multinacional, tive a oportunidade de aprimorar muito cedo os meus conhecimentos na área. No entanto, o sonho de possuir a própria vinícola veio com a maturidade.

 

Sempre tive um espírito muito empreendedor e, no fundo, sabia que um dia teria o meu próprio negócio. Mas tinha que esperar o momento certo, sentir que estava preparada para isso. Percebi que, além de amar a atividade direta de elaboração de vinhos, esta profissão me permitia também trabalhar diretamente com o terroir (clima, solo, cultura humana) e com a mãe natureza abençoando tudo.

 

A viticultura, assim como a enologia, me deixa encantada, extasiada mesmo, e cada vez mais ávida por conhecimento. Este é o grande diferencial desta área: sempre há mais para aprender, uma vez que cada garrafa de vinho conta uma história diferente. A busca pelo conhecimento vira uma obsessão. Além de ser um produto em que você sempre tem uma expectativa diferente ao abrir uma garrafa, ele nos permite sensações indescritíveis.

 

Na verdade, a realização do meu sonho não foi nada fácil; nem rápida. Eu afirmo que ele continua se realizando a cada dia. Montar o próprio negócio não foi apenas uma questão de momento. O projeto é de longo prazo. Comecei em 1999 e, à medida que vou alcançando meus objetivos, vou traçando novos. A vitivinicultura no Brasil tem sido um negócio para amantes e apaixonados pelo vinho. Há muitas adversidades no mercado e a maior delas, ainda e infelizmente, é o desconhecimento sobre a qualidade dos vinhos brasileiros.

 

Então venho lutando para tornar a marca Cordilheira de Sant´Ana conhecida e respeitada. Acho que ainda levarei vários anos para consolidar o meu sonho. Isso, inclusive, me mantém superativa e a chegada constante de novos desafios é o que me motiva para a vida.

 

Costumo dizer que o vinho elaborado por uma mulher é diferente dos demais. O vinho é um produto que nasce, tem o seu período de desenvolvimento, amadurece e envelhece. Quem melhor do que uma mulher, privilegiada por Deus com o dom da fertilidade e da reprodução, para entender o nascimento e o desenvolvimento de um vinho? O vinho, para ser elaborado, necessita bons frutos, oriundos de uma boa agricultura. Dizem os sábios que a agricultura é contemplativa e, por isso mesmo, feminina. Necessita de uma percepção maior do universo.

 

Só a mulher, com sua imensa paciência, é capaz de esperar, a cada ano, uma nova colheita, com seus novos frutos de características distintas conforme a safra, e transformá-los, com sentimento, num produto que evolui constantemente, de acordo com o amor que lhe foi concedido ao nascer. E amor pela profissão é o que não me falta!

 

Já vivi muitas emoções distintas no meu trabalho: a primeira colheita da Cordilheira de Sant´Ana, a inauguração da vinícola, a elaboração do primeiro vinho, a primeira rotulagem, a primeira venda, a satisfação de ver o produto na gôndola do cliente, o recebimento do primeiro prêmio, o lançamento do Dom Gladistão (vinho que elaborei em homenagem ao meu esposo que faleceu recentemente), enfim foram muitos momentos emocionantes. E ainda serão.

 

No momento meu maior objetivo é apoiar a consolidação do enoturismo na Campanha Gaúcha. Com certeza, meus colegas vinhateiros da fronteira, juntamente comigo, encontraremos o caminho do sucesso!

 

*enóloga, proprietária da vinícola Cordilheira de Sant’Anna

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