Maturano: pesquisa, tradição e tecnologia em Teresópolis 

Maturano: pesquisa, tradição e tecnologia em Teresópolis 

Da rodovia se vê no alto e ao longe a construção da vinícola que visitamos novamente no final de julho de 2025, quase exatamente um ano depois da nossa primeira visita, na safra 2024. Quando estivemos desta vez lá a entrada pelo acesso da RJ 130, a querida Terê-Fri, era um verdadeiro canteiro de obras – ou uma porteira de obras, digamos, com o pórtico ainda em sua estrutura metálica aguardando o letreiro, a estrada de acesso sendo pavimentada e algumas máquinas na pista. Mas bastou uma curva suave à esquerda alguns metros acima e a imagem logo mudou, se descortinando em um caprichado vinhedo que é praticamente o quintal de uma imponente edificação no topo do morro: no acesso até ela um heliponto, um hangar e uma capela em fase final de construção. Assim chegamos à Maturano, um empreendimento que promete mudar o perfil da novíssima região vitivinícola da Serra Fluminense.  

A vinícola é uma das 26 do estado do Rio de Janeiro que faz parte da Associação dos Produtores de Uvas vitis vinifera da Serra Fluminense, e integra a rota ‘Areal, capital da Uva’, projeto desenvolvido pela AVIVA com o apoio do Sebrae RJ. 

A Maturano não será – melhor seria dizer não é – apenas uma vinícola. Apenas 50 dos 220 hectares da propriedade são destinados ao vinho – vinhedos, cantina e vinícola – o complexo como um todo terá um condomínio de lotes, o Videiras residencial – recentemente lançado – e até 2028 deve inaugurar um hotel com 48 suítes e 13 lofts de luxo, onde eram antigas baias do haras existente no local. A vinícola, bem como o restaurante com capacidade para 300 pessoas, será oficialmente inaugurada em outubro de 2025. Na sequência, um salão de eventos com capacidade para 500 participantes.  

O vinho 

A produção de uvas e de vinhos, estes assinados por Monica Rossetti, enóloga brasileira que vive há anos na Itália, realizando safras nos dois países, já começou: os primeiros rótulos resultados das uvas implantadas em Teresópolis já estão sendo apresentados – a safra 24 (um Sauvignon Blanc e um rosé de Syrah e Cabernet Franc) ainda foi vinificada fora da propriedade, mas a 25 já foi feita ‘toda em casa’, também com auxílio do olhar apurado da experiente enóloga Letícia Fensterseifer, residente durante a colheita. Em breve nas melhores casas do ramo a safra 2025 da Maturano novamente com o Sauvignon Blanc e Rosé de Syrah e Cabernet Franc – e além disso alguns varietais tintos como Merlot, Malbec, Cabernet Franc e Syrah, a emblemática uva tinta da Dupla Poda.  

Todas as variedades vinificadas são próprias e vêm dos 18 hectares cultivados na propriedade. São três diferentes terroirs – Campanha, Vale Alpino e Monte Belo -, explica a jovem Manuela Maturano, que fala com admirável conhecimento e segurança nos seus apenas 20 anos de idade: “além das variedades mais tradicionais utilizadas na Dupla Poda, como Syrah e Sauvignon Blanc, cultivamos ainda Cabernet Franc, Merlot e Malbec ente as tintas, e a Chardonnay, nas brancas”, explica, “mas também pesquisamos outras 11 castas, como Tempranillo e Tannat, por exemplo, buscando aprimorar não só o nosso trabalho, mas as possibilidades da Colheita de Inverno”, resume. 

Uma das provas dessa digamos, inventividade e busca pelos diferenciais, podemos dizer que é sentimental. Até onde saibam os produtores, é apenas na Serra Fluminense que está implantada no Brasil a variedade Maturano, casta típica da região de Picinisco, no Lácio, Itália: “trouxemos essa variedade autóctone em parceria com a Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado do Rio de Janeiro”, diz Manuela, “a Maturano é uma variedade branca, cultivada por monges beneditinos por mais de cinco séculos e que agora será vinificada na Serra Fluminense”. A pioneira safra da variedade Maturano no Brasil deverá ser em 2026, com as primeiras garrafas previstas para 2027. 

A estrutura 

Se por fora a edificação já impressiona, por dentro também é grandiosa: são 57 tanques de inox de diferentes tamanhos, de 500 litros a 15 mil litros, uma cave de barricas que deverá ter 300 delas de diferentes tostagens, ânforas de terracota, cerâmica e outros recipientes – estrutura que poderá vinificar até 320 mil garrafas ao ano: “essa é nossa expectativa para a safra 2032”, explica Marcelo Maturano, pai de Manuela, que está à frente do projeto (na foto abaixo Manuela, Marcelo e Fernanda Maturano). Antes disso, para 2028, há previsão do lançamento de espumantes pelo método tradicional, a partir da Chardonnay cultivada no terroir Monte Belo. 

Na safra 2024 foram vinificadas 35 mil garrafas, volume que se repetiu na safra 2025. “Só produzimos vinhos a partir das uvas que cultivamos”, diz Manuela, contando que em 2025 aumentaram a área de plantio em 10 hectares, “além disso focamos nosso investimento em qualidade, tecnologia e capacitação de pessoas”.  “A vinícola tem uma grande preocupação com o patamar de qualidade desde a matéria prima até a entrega para o consumidor, o cuidado, o capricho com tudo”, relata a enóloga Letícia Fensterseifer, “a preocupação permeia todas as camadas de produção”, conclui. 

O vinhedo 

E isso se comprova também no trabalho prévio, escolha das mudas vindas da Vitácea – empresa que tem no comando o pesquisador Murillo de Albuquerque Regina, considerado o ‘pai’ do sistema da Dupla Poda – e implantação dos vinhedos e consultoria feita pela equipe da Floeno, que tem muita tradição nos vinhos de Inverno do Sudeste do Brasil. A definição do perfil de solo – franco argiloso, com granito e quartzo – veio a partir do trabalho de Rodrigo Laytte, enólogo chileno baseado em Bordeaux que tem feito alguns trabalhos em diferentes regiões do país. “Hoje temos 116.560 plantas em parcelas de diferentes altitudes, entre 850 metros e 1100 metros, e seguimos fazendo estudos de terroir”, conta Marcelo Maturano.  

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O Brasil de Vinhos viajou a convite do Consevitis-RS e do Sebrae     

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