Conhecer a história de alguém que respeitamos profissionalmente é caminho natural para nós, seres curiosos. Faz parte da continuidade da admiração querer saber mais sobre as figuras que temos como modelo, das quais acompanhamos o trabalho, comemoramos as vitórias e os resultados alcançados pelos bons desempenhos apresentados.
Renato Neves é uma dessas criaturas que tem facilidade para agregar admiradores, repare: em qualquer evento que ele participe, logo se forma uma roda em volta.
Mas a vida nunca foi fácil para o carioca que nasceu e passou boa parte da vida na favela de Manguinhos uma das mais violentas do Rio de Janeiro – e talvez do mundo. Como foi essa primeira etapa da sua vida e como ele deixou a favela para anos depois se tornar o melhor sommelier do Brasil, Renato conta no livro “O vinho mudou a minha vida” (foto acima), um livro hipnotizante, para ler numa sentada só – e de preferência com uma taça de vinho ao lado.
Adianto aqui que este texto tem alguns spoilers, mas tentarei não contar tanto, apenas o suficiente pra te fazer clicar no link e encomendar o teu exemplar. Pra começar, Renato apresenta uma fotografia da realidade das comunidades e favelas do Rio de Janeiro.
Como diz o autor, há favelas e favelas. Há aquelas que são pontos turísticos, moradia de estrangeiros, atrações a serem visitadas…
E há Manguinhos.
Brasileiros com mais de 40 anos lembram dos anos 80 e da ascensão do Comando Vermelho no Rio de Janeiro – pois o QG era Manguinhos (foto acima).
Os relatos feitos pelo autor são duros e verdadeiros: escrito em primeira pessoa, o livro traz ainda mais emoção e veracidade. O racismo, preconceito, truculência e violência policial que fizeram parte da vida de Renato durante muitos anos estão presentes em boa parte do texto.
O guri começou a se virar cedo, aos 13 anos já vendia água e cerveja na praia, depois morangos nas sinaleiras, depois kits de primeiros socorros, foram muitas tentativas para ajudar a mãe a manter a casa que divida com os irmãos.
Aos 20 anos recém feitos, em uma de suas primeiras funções em um restaurante, voltando do trabalho para casa em uma madrugada chuvosa foi abordado por policiais que buscavam informações sobre um traficante. Foi o legítimo caso de estar no lugar errado, na hora errada e Renato levou uma surra que quase o matou. Mas assim como o acaso botou os policiais em seu caminho, o destino trouxe uma vizinha voltando para casa por um trajeto diferente do habitual, ela foi seu anjo da guarda e evitou o pior.
Corria o ano de 2004 quando tudo isso aconteceu: os 20 anos seguintes aceleram a velocidade. Trabalhos temporários, fixos, estudos, formação, casamento, mais estudos.
Mas e o vinho, onde entra o vinho na vida do melhor sommelier do Brasil 2021?
O vinho, digamos, também entrou na vida de Renato graças ao acaso – e à chuva. Sim, à chuva. Em 2005 Renato já estava casado, mas desempregado e morando em Niterói. Um dia chovia muito e preferiu não sair de casa para procurar emprego. No dia seguinte entrou em um restaurante da orla de São Francisco e entregou um de seus últimos currículos – que naquela época ainda eram impressos e entregues em mãos. Sem muita confiança, já estava saindo do local quando foi chamado pelo rapaz com quem tinha falado e que queria saber mais sobre um curso de vinhos que ele havia mencionado no currículo – e, confessa, nem dava assim tanta importância. Existia apenas uma vaga, e era para trabalhar com vinhos – e com Dionísio Chaves, sommelier que é referência na profissão no Brasil. Renato foi contratado na hora e disse que se soubesse que havia uma vaga teria enfrentando a tempestade do dia anterior. “Ontem não estávamos aqui”, disse Dionísio. Mais uma vez, o acaso.
Daí pra frente o vinho entrou de vez na vida de Renato, que cada vez mais focou seus estudos nesta área, até atingir o topo e receber o título de melhor sommelier do Brasil em 2021.
Mas chega de contar sobre o livro, que estará a venda a partir do dia 8 de outubro. Te programa e pede o teu para descobrir a história do Renato em detalhes: é emocionante e inspiradora.
Fotos: Renato Neves, arquivo pessoal
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