O país de origem de um vinho pode influenciar mais do que você imagina

O país de origem de um vinho pode influenciar mais do que você imagina

Certamente você já ouviu aquela conversa de restaurante ou supermercado em que alguém expressa sua preferência por um estilo de vinho mencionando sua origem: “adoro vinhos italianos”, “gosto muito de vinho português”, e por aí vai.

Embora dentro de cada país ocorram dezenas, e às vezes centenas, de estilos de vinhos distinguidos por esta ou aquela eventual Indicação Geográfica, alguns países se tornam amplamente conhecidos – de forma positiva ou negativa – pela fabricação de determinados produtos. Provavelmente se falarmos do Japão, você relacionará o país com a tecnologia de alta qualidade. A mesma reputação positiva não é emprestada aos produtos chineses, apesar dos esforços da indústria local para reverter essa percepção. E se falarmos da França, bem, os queijos e os vinhos produzidos por lá certamente virão à mente da maioria das pessoas.

E foi para entender como o país de origem de um vinho influencia nossa preferência e escolha, que a pesquisadora Karina Munari Pagan (foto acima, arquivo pessoal) dedicou sua tese de doutorado, defendida em 2023 no Programa de Pós-Graduação em Administração e Organizações da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto. A tese foi orientada pela professora doutora Janaina de Moura Engracia Giraldi (foto abaixo, arquivo pessoal) e recentemente recebeu menção honrosa no Prêmio CAPES de teses, uma das premiações acadêmicas mais importantes do país.

Para investigar como um consumidor de vinhos reage ao saber a origem do rótulo, Karina utilizou um equipamento de eletroencefalografia (EEG, foto abaixo) para detectar as respostas cerebrais de pessoas da geração X e da geração Y – esses últimos também conhecidos como millenials – ao degustarem um vinho. Uma das hipóteses levantadas pela pesquisa é a de que há uma diferença geracional na percepção do país de origem como um atributo de apreciação de um vinho.

A pesquisa contou com 80 participantes (40 da geração X e 40 da geração Y). Dentro de cada sub-grupo 10 pessoas degustaram um vinho sendo informadas de que sua origem era brasileira, outras 10 pessoas receberam a informação de que o vinho era argentino, um outro grupo de 10 pessoas foi informado de que o vinho era proveniente dos EUA, e um último grupo, também com 10 pessoas, não recebeu nenhuma informação sobre o produto. É importante ressaltar de que o mesmo vinho foi servido para todos os grupos: um Cabernet Sauvignon brasileiro.

Mas além das divergências geracionais, as pesquisadoras também estavam interessadas em saber como o esforço cognitivo para processar a informação era moderado pelo nível de etnocentrismo e a animosidade do consumidor. O etnocentrismo é a tendência a rejeitar produtos importados por receio de que esses produtos prejudiquem a economia doméstica. Em geral, o efeito de um alto nível de etnocentrismo é a valorização de produtos e marcas nacionais. Já a animosidade é uma construção específica que a pessoa faz sobre um país. Geralmente essa construção é hostil e pode ser passada de geração para geração, ocasionando a rejeição de produtos oriundos desse ou daquele país.

Os principais resultados do estudo mostram que a geração X teve suas respostas cerebrais mais influenciadas ao receber a informação do país de origem do que a geração Y. Além disso, o efeito país de origem influenciou mais os participantes da geração X com alto nível de etnocentrismo. Por outro lado, os millenials com alta animosidade foram influenciados somente ao saber que o vinho era norte-americano.

Segundo Karina, os resultados do estudo podem “ajudar os gerentes das vinícolas a estabelecer estratégias de marketing mais eficazes”.

 

Para conhecer a pesquisa completa, Pagan, K.M (2023). Avaliação das respostas cerebrais dos consumidores da geração X e Y para o país de origem de vinhos: uma investigação experimental sobre o processamento cognitivo, preferência e valência emocional do etnocentrismo do consumidor e animosidade, clique aqui

 

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