Quando o assunto é vinho, muito se fala sobre grandes rótulos, terroirs diferenciados, climas propícios, equipamentos de ponta, tecnologias avançadas, variedades desconhecidas. Muito se diz sobre técnicas de produção, estudos trazidos de diferentes regiões, barricas especiais, formas de vinificação distintas, quebras de paradigmas, as famosas ideias ‘fora da caixa’. Mas nem sempre se lembra, infelizmente, que para que tudo isso funcione, são necessárias pessoas.
A história do vinho brasileiro fino está sendo escrita já faz algum tempo, tem uma trajetória, podemos dizer sem errar muito, de cerca de 50 anos – um pouco menos que a idade do primeiro vinho Baron de Lantier produzido na Serra Gaúcha pelo enólogo Adolfo Lona, argentino radicado no Brasil há mais de 50 anos. “O Baron de Lantier nasceu com os três tipos tradicionais: um branco seco, um tinto seco e um rosé demi-sec, que era a tradição do vinho naquelas décadas – estou falando do fim da década de 70″, relembra Adolfo Lona. O enólogo conta que primeiro veio o vinho com rótulo branco, um tinto Cabernet Franc e um branco Riesling Itálico, depois se juntaram a eles um Merlot e um Semillon, quatro varietais. “Em 1985 surge o Baron de Lantier rótulo dourado, o reserva, um corte bordalês clássico: Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc e Merlot“.
Ouvir Adolfo Lona relembrar é ter uma aula de história do vinho brasileiro: “os vinhos de qualidade no Brasil começaram lá na década de 70, quando vieram as multinacionais, como a Forestier e a Chandon, por exemplo, empresas que na época contribuíram trazendo tecnologia europeia ou americana. Aqui no Brasil isso nos fez melhorar muito os vinhedos e o vinho deu um salto de qualidade”, afirma Lona, “hoje a técnica e a tecnologia de elaboração de vinhos se expandiram, em especial às vinícolas familiares”, complementa.
Adolfo Lona é um dos participantes do ‘Tributo à história do vinho brasileiro’, que contará ainda com a presença dos também enólogos Lucindo Copat e Eduardo Giovannini, e do jornalista Rogerio Dardeau. O evento, promovido pela vinícola Ruiz Gastaldo no dia 10 de outubro, em Porto Alegre, quer justamente homenagear as pessoas que fazem o vinho brasileiro, apresentar as figuras por trás dos rótulos. Durante cerca de duas horas, estes quatro personagens que fizeram – e seguem fazendo – a história do vinho brasileiro, vão voltar no tempo e ajudar os amantes do vinho brasileiro a compreender as origens dessa cultura no Brasil.
“Conheço todo esse pessoal, mas meu contato maior sempre foi com o Adolfo Lona. Somos da mesma geração, nos envolvemos em reuniões na Uvibra, com grupos de enólogos e com o dia-a-dia do setor vitivinícola”, conta Lucindo Copat, “o Dardeau também conheço, e o Giovannini é da minha região, além disso assim como eu foi professor na escola de Enologia, convivemos muito”, complementa.
Quem são os participantes
Adolfo Lona
Natural de Buenos Aires, na Argentina, fez formação em Enologia em Mendoza. No Brasil desde 1973, quando foi contratado pela Martini e Rossi (posterior Bacardi-Martini) para dirigir a unidade de vinhos e espumantes que seria criada na cidade de Garibaldi (RS). Seguiu na função até março de 2004. Durante este período participou dos estudos, elaboração e lançamento de todas as marcas do grupo tais como os vinhos Château Duvalier, Baron de Lantier e Zahringer’s e dos espumantes De Gréville. Em 2004 iniciou sua carreira solo criando a empresa Vinhos e Espumantes Adolfo Lona Ltda, com sede em Porto Alegre (RS). Adolfo também presta serviços de consultoria técnica a vinícolas no Brasil. É autor de três livros: ‘Vinhos, degustação, elaboração e serviço’, ‘Vinhos e Espumantes, degustação, elaboração e serviço’ e ‘Vinho sem frescuras’.
Eduardo Giovannini
Engenheiro agrônomo, mestre e doutor, professor de Viticultura no Curso Superior de Tecnologia em Viticultura e Enologia no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul (IFRS), produtor de uvas e vinhos finos em Viamão e autor de 6 livros neste tema, além de artigos científicos.
Lucindo Copat
Enólogo há 50 anos, cursou Técnico em Viticultura e Enologia na Escola de Viticultura e Enologia de Bento Gonçalves (atual IFRS). Licenciado em tecnologia de Enologia e indústria Frutiorticola pela Universidad Juan Agostin Maza, de Mendoza. Foi professor de Enologia no Curso de Especialização em Viticultura e Enologia no IFRS de Bento Gonçalves e no curso internacional de Enologia para Climas Cálidos, em Jerez de la Frontera. Realizou cursos de especialização na França, Alemanha e Espanha. Tem diversos trabalhos apresentados e participa como jurado em Congressos reconhecidos pela Organização Internacional da Vinha e do Vinho. Foi enólogo e diretor técnico da vinícola Salton por 36 anos, onde aposentou-se. Atualmente é proprietário da Vinicola Urbana Copat em Bento Gonçalves.
Rogerio Dardeau
Descende de vinhateiros, estabelecidos na AOC Montlouis-sur-Loire, França, desde o Século XVI. Mestre em Engenharia de Produção e doutorando em Geografia, já publicou seis livros sobre vinhos, três deles dedicados à vitivinicultura brasileira, que pesquisa e acompanha desde os anos 1970. É professor de ‘Vinhos Brasileiros’, na Associação Brasileira de Sommeliers e assessora a ViniBraExpo. É benemérito da Academia Brasileira de Direito do Vinho e membro da FIJEV – Fédération International des Journalistes et Écrivains des Vins et Spiritueux. Em 2021, recebeu o troféu ‘VITIS Amigo do Vinho Brasileiro’, da Associação Brasileira de Enologia. Projeta e acompanha viagens enotécnicas aos diversos lugares onde vinhos finos são elaborados no Brasil. Como escritor publicou também os romances ‘Navegador de Liberdades’ e ‘Enviesado Sol de Outono’, além de ‘Largo da Carioca’ (contos) e ‘A Sociedade em Negociação’ (ensaio sobre o mundo do trabalho).
A ideia do Tributo
“Muito antes de ser um produtor, sou um apreciador de vinho”, diz Eduardo Gastaldo, que teve a iniciativa de promover esse encontro, “no início dos anos 2000 eu comecei a visitar uma série de vinícolas, em especial na Serra Gaúcha. Fiquei muito impressionado com o tamanho da riqueza, da paixão das gerações envolvidas para a construção disso tudo. A partir dali eu comecei a querer conhecer mais e me aprofundar no conhecimento”. A ideia de fazer um encontro como este já estava sendo gestada há um bom tempo, mas estava sendo difícil conciliar as agendas dos convidados: “fazer esse encontro era uma ideia muito antiga do Gastaldo que diversas vezes já tinha falado sobre esse assunto. Eu admiro muito essa boa vontade que ele tem, a simpatia com o vinho, com prestigiar o vinho, fazer o vinho brasileiro crescer”, aponta Lucindo Copat, “fico muito animado com isso, nem todos têm essa capacidade e essa vontade que ele tem”.
Mas num mercado com tantos profissionais capacitados e com certeza com muita história para contar, como selecionar os participantes? A solução, por certo, será fazer desse o primeiro de uma série de eventos: “por um motivo organizacional limitamos a quatro nesse primeiro encontro, mas claro que existe a vontade de realizar diversos outros como este não somente em Porto Alegre, mas em todo o país”, antecipa Gastaldo, “porque essa história é de todos nós”, complementa.
O ‘Tributo à história do vinho brasileiro’ será realizado no próximo dia 10 de outubro na vinícola Ruiz Gastaldo, em Porto Alegre, com ingressos a R$ 290.
Fotos: arquivo pessoal dos participantes
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