Queda de consumo, diminuição de áreas de vinhedos e de produção de vinho: qual o futuro do vinho no mundo?

Queda de consumo, diminuição de áreas de vinhedos e de produção de vinho: qual o futuro do vinho no mundo?

Mudanças climáticas, quebras de safra, inflação, menos videiras cultivadas, menos uvas e vinhos produzidos, mudanças nos hábitos de consumo, guerra tarifária e conflitos geopolíticos. Com base no novo relatório da Organização Internacional da Vinha e do Vinho, podemos afirmar que o cenário atual é, no mínimo, desafiador para o setor vitivinícola. O Brasil, em contraste com outros países da América do Sul, se destacou por expandir sua área de vinhedos pelo quarto ano consecutivo, registrando 83 mil hectares, um crescimento de 1,6% no período de 2023/2024.

Enquanto isso, Argentina e Chile enfrentaram reduções em suas áreas cultivadas, com quedas de 2,4% e 3,3%, respectivamente. O panorama geral do setor vitivinícola global recentemente publicado pela OIV, destaca que a área ocupada por vinhedos manteve o seu declínio, reduzindo 0,6% de 2023 para 2024 e chegando a 7,1 milhões de hectares. Países com extensas áreas de cultivo “encolheram”, afirmou John Barker, presidente da OIV em sua apresentação. É o caso da Espanha, maior vinhedo do mundo com 930 mil hectares, que perdeu 1,5% de sua área. A própria França, segunda maior área, encolheu 0,7%, chegando a 783 mil hectares.

A produção de vinhos em escala global atingiu o patamar mais baixo desde 1961, chegando a 225,8 milhões de hectolitros, uma queda de 4,8% em relação a 2023. A Itália, maior produtor global de vinhos, registrou um aumento de 15% na sua produção, chegando a 44,1 milhões de hectolitros. No país vizinho, a França, segundo maior produtor de vinhos do mundo, as condições meteorológicas adversas no período de formação do fruto causaram uma quebra expressiva, resultando em uma queda de 23,5%, chegando a 36,1 milhões de hectolitros. Essas mesmas condições adversas explicam a expressiva quebra de safra no Brasil no 2023/2024, que registrou 2,1 milhões de hectolitros, 25,2% abaixo da média dos cinco anos anteriores. Para o ciclo 2024/2025, os relatos preliminares são de uma recuperação dos estoques brasileiros em termos de quantidade e qualidade.

“Os dados refletem um pouco da questão mundial”, avalia Caroline Dani, “observamos uma redução do consumo, mas também uma redução de produção e de superfície de vinhedos plantados. Isso dá um certo equilíbrio na economia: quanto menos uva, menos vinho, menos consumo. É é importante em termos de equilíbrio de setor”, aponta a pesquisadora e presidente da ABS-RS.

O consumo de vinhos se manteve em queda, reduzindo 3,3% de 2023 para 2024. Estima-se que, no passado, o consumo global de vinhos foi de 214,2 milhões de hectolitros. Após a pandemia, o impacto da guerra da Ucrânia resultou em uma crise energética, afetando a cadeia de suprimentos na Europa e elevando os custos por garrafa. Aliado a isso, a escolha do consumidor por um estilo de vida que restringe o consumo de álcool e os hábitos de consumo das novas gerações ajudam a explicar a redução do consumo de vinhos.

Especialmente em mercados relevantes em termos globais como a China, que desde 2019 reduziu em cerca de 2/3 o consumo de vinhos – de 15 milhões de hectolitros em 2019 para 5,5 milhões de hectolitros em 2024 – e os EUA, que experimentou uma redução de 5,8% no consumo, atingindo 33,3 milhões de hectolitros. O consumo de vinhos no Brasil diminuiu em 10,1%, chegando a 3,1 milhões de hectolitros, abaixo do volume registrado no período pré-pandemia. Em 2019, consumiu-se no Brasil 3,6 milhões de hectolitros.

“Por conta da quebra da safra de 2024, tivemos uma redução significativa na produção do Brasil, dados que foram confirmados agora pela OIV”, pondera Caroline. “Por outro lado, o Brasil era um dos países com maior consumo e perspectivas de aumento de consumo, mas esse ano houve uma queda”, lamenta. Se estes dados divulgados agora são preocupantes, ao mesmo podem ser uma oportunidade, para isso é necessário um investimento cada vez maior no setor de vinho no Brasil, um mercado que tem grande potencial mas precisa ser trabalhado.

Em 2020 e 2021 – em plena pandemia – o consumo de vinhos no Brasil chegou a 4,1 milhões de hectolitros, atingindo um recorde. Em pouco menos de quatro anos, o mercado brasileiro viu ‘volatilizar’ 1 milhão de hectolitros – ou 100 milhões de litros de vinho. Se esse volume foi absorvido, é porque o potencial brasileiro de “país do futuro” foi testado. No entanto, as causas que levaram o consumidor brasileiro a deixar o vinho para depois precisam ser compreendidas o mais rápido possível. “No meu entender temos que pensar no Brasil também como produtor de uvas para consumo in natura e suco de uva”, sugere Caroline, reforçando o potencial do suco de uva brasileiro.

Foto: reprodução OIV.

Para sugestões de matérias escreve para [email protected].

As matérias publicadas em nosso site podem ser reproduzidas parcialmente, desde que constando o crédito para Brasil de Vinhos e publicando junto o link original da reportagem.

Para nos prestigiar e manter o Brasil de Vinhos atuando, assina nosso conteúdo exclusivo no feed do instagram.

Para anunciar, escreve para [email protected] e fala conosco.

Compartilhe esse conteúdo com alguém
que possa gostar também