Uma madrugada quente para colher a Sauvignon Blanc na Campanha Gaúcha

Uma madrugada quente para colher a Sauvignon Blanc na Campanha Gaúcha

Para falar em colheita noturna vamos falar em madrugar. E vamos falar em madrugar numa das semanas mais quentes que o Rio Grande do Sul já teve notícias. Às 3h59 do dia 5 de fevereiro de 2025, um grupo de jornalistas do Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília, Porto Alegre e Bento Gonçalves estava a caminho da cidade de Candiota, saindo de Bagé, ambas na Campanha Gaúcha. Ainda era noite e o termômetro do celular marcava 25o em uma semana de onda de calor que prometia fazer a temperatura subir até os 35o no decorrer do dia. O telefone errou: foi mais quente do que isso.

“A colheita noturna é ideal para a Sauvignon Blanc porque, entre outras coisas, a temperatura diminui a possibilidade de oxidação”, diz Alécio Demori, engenheiro agrônomo da vinícola Seival, empresa do grupo Miolo que realiza a colheita neste turno desde 2016. Sem contar, claro, as vantagens que a temperatura mais amena traz ao vinho quando pensamos em aromas e acidez: “ajuda na presença dos aromas mais destacados e na cor vibrante que caracteriza a variedade”, completa Demori.

Além disso, a rapidez e a aparente facilidade com que o trabalho é feito são pontos fundamentais: “com a máquina um hectare é finalizado por hora”, diz Adriano Miolo, “um homem colhe cerca de 1 mil quilos por dia, uma máquina pode colher até 30 mil em duas horas”. Isso se deixarmos de lado a temperatura, porque mesmo na madrugada o forte calor castiga, “seria necessário o triplo de gente para executar essa tarefa”, explica o enólogo.

Além disso com este equipamento a perda é muito pequena. É impressionante percorrer os vinhedos depois que a máquina se afasta e ver como estão os engaços: parece que as bagas foram tiradas uma a uma. “O equipamento funciona por um sistema de vibração”, explica Demori, “é um conjunto de bastões de nylon que passa por cima da espaldeira e vai recolhendo as bagas”. A máquina, uma espécie de ‘túnel’ por onde passam as videiras, está ligada a um trator, conduzido por um motorista treinado especialmente para esta função.

O grupo Miolo tem 4 destes equipamentos importados da França espalhados por suas plantas: uma na Seival – onde em 2016 foi realizada primeira colheita noturna mecanizada do Brasil, duas na Almadén, em Santana do Livramento, e uma no Nordeste. A primeira destas máquinas chegou nas terras planas da Almadén em 2011, com o objetivo de facilitar o trabalho nos 450 hectares de área plantada na fronteira com o Uruguai – o maior vinhedo em extensão da América Latina.

Claro que nem todos os vinhos são produzidos a partir da utilização deste tipo de colheita. No caso do Sesmarias, por exemplo, o ícone da Miolo, também originário na Campanha Gaúcha, o sistema é diferente: “além da colheita ser manual, ela é seletiva”, explica o enólogo Miguel Almeida, “é um trabalho bem mais detalhado e meticuloso”.

A utilização do equipamento facilita muito o trabalho, agiliza a colheita e soluciona diversos problemas, mas algumas ‘armadilhas’ deixam obstáculos no caminho da colheita mecanizada. Em meio ao vinhedo de Chardonnay da Seival, por exemplo, há uma figueira centenária (foto acima) que impede a passagem do equipamento – figueira onde aliás, residem muitas abelhas, respeitadíssimas por lá.

A natureza dita a hora de desacelerar.

Fotos: Brasil de Vinhos

O Brasil de Vinhos viajou a convite da ConceitoCom Brasil.

Para sugestões de matérias escreve para pauta@brasildevinhos.com.br.

As matérias publicadas em nosso site podem ser reproduzidas parcialmente, desde que constando o crédito para Brasil de Vinhos e publicando junto o link original da reportagem.

Para nos prestigiar e manter o Brasil de Vinhos atuando, assina nosso conteúdo exclusivo no feed do instagram.

Para anunciar, escreve para comercial@brasildevinhos.com.br e fala conosco.

Compartilhe esse conteúdo com alguém
que possa gostar também