A enóloga da Cave Geisse é a primeira mulher a receber a premiação no ano que marca a 20ª edição do prêmio entregue pela Associação Brasileira de Enologia
Vanessa Stefani, enóloga da Cave Geisse desde janeiro de 2008, começou na profissão por acaso. Sua primeira ideia era trabalhar com moda ou arquitetura, mas em 2001 se inscreveu no curso no Instituto Federal, em Bento Gonçalves, atraída pela sugestão de uma amiga. Uma vez dentro, não teve como sair: o vinho, sabemos, apaixona.
Vanessa foi escolhida pelos colegas de profissão como a enóloga do ano de 2023 pela Associação Brasileira de Enologia.
“Este prêmio para a Vanessa representa o grande momento que as mulheres da Enologia brasileira estão vivendo”, afirma Ricardo Morari, presidente da ABE. “A Enologia ainda é uma profissão muito masculina no Brasil, mas nos últimos anos cresceu muito o número de mulheres se inscrevendo nos cursos de Enologia, concluindo seus estudos e entrando no mercado de trabalho”, constata. “É um grande momento que as mulheres vivem. Cada vez mais mostram seu trabalho, o que comprova que a Enologia não é somente para os homens”.
Nestas pouco mais de duas décadas de envolvimento com o vinho em seus 41 anos de vida, Vanessa estagiou na Bacardi Martini e depois da venda da empresa seguiu na Perini, que adquiriu a unidade em 2005. “O estágio na Bacardi me marcou muito”, diz Vanessa. “Pra mim foi ali que a coisa mudou e me decidi pela profissão. Fui para a seleção da vaga sem muita expectativa, mas quando me escolheram entre diversos candidatos, percebi que aquela seria a minha virada de vida”. Vanessa seguiu na Perini trabalhando na unidade de espumantes em laboratório, realizando análises, pesquisando para a elaboração principalmente de espumantes pelo método Charmat, mas durante a safra também se envolvia na unidade de vinhos, acompanhando as análises.
Em janeiro de 2008 foi para a Cave Geisse onde permanece até hoje. Iniciou no laboratório, voltada para as análises, mas aos poucos foi assumindo um pouco mais, passou para o controle de qualidade e elaboração, e atualmente atua na parte técnica. “Aprendo muito com Carlos (Abarzúa) e Mario (Geisse) todos os dias, é atualização constante: honra e privilégio juntos”, confessa.
A enóloga participa de todo o processo de elaboração desde que a uva chega na vinícola até a rotulagem: vinho base, tomada de espuma, dégorgement, remuage, análise e controle de qualidade. “Como a vinícola tem uma estrutura mais enxuta, é possível acompanhar todas as etapas”.
Questionada sobre a premiação, Vanessa é modesta e generosa: “Esse prêmio só chegou até mim porque hoje já há muitas mulheres no mercado do vinho, em diferentes funções, mas todas com muita importância no setor”, argumenta. “Tem mulheres executando brilhantemente suas tarefas no mundo do vinho: no agro, na produção, na elaboração, na comercialização, no marketing, na comunicação. Isso é extremamente importante para conseguirmos um reconhecimento nacional do vinho brasileiro”, sintetiza. “Este prêmio não é só meu, é de todas nós. É um reconhecimento da representatividade feminina”.
Mas Vanessa complementa assegurando que os homens têm grande importância nessa trajetória e julga a soma de competências primordial: “Acredito que todo trabalho que é feito em conjunto, somando e agregando é o que vale. A sensibilidade das mulheres junto com a força dos homens resulta em grandes histórias e grandes vinhos”.
Como disse Ricardo Morari: é o momento da Vanessa.