O livro de estreia do vinhateiro poeta Luís Henrique Zanini, ‘A Era dos Ventos – poesia, história e lendas do vinho’, tem um fio condutor bem claro, que ele diz, e repete, e reforça: a arte só faz sentido se tocar o coração do outro.
E Zanini foi em busca disso escrevendo com o coração. O livro segue mais ou menos uma ordem cronológica da vida do autor, lembra da vizinhança na Serra Gaúcha com o vinho sempre por perto, os aromas dos caminhões carregados de uvas, o sorriso no rosto dos produtores, todos com as mãos tingidas de púrpura. Traz de volta a infância, a descoberta da leitura, o prêmio que ganhou na escola escrevendo poesia aos onze anos, o sonho de ser coroinha – e a possibilidade de, se escolhido, poder registrar no currículo futuro, esta como primeira profissão…
As descobertas e os sonhos de infância do menino aos poucos vão se transformando em realidade: a arte entra na história do coroinha através das telas de Aldo Locatelli, imagens impressionantes que dão vida à Via-Crúcis da igreja de São Pelegrino, em Caxias do Sul (RS); a primeira taça de vinho provada integralmente, depois de muitos anos bebendo, como boa parte das crianças da região uma mistura de tinto, água e açúcar, foi praticamente uma epifania, que Zanini descreveu no livro, décadas depois, citando uma passagem de Zorba, o Grego.
Zanini relata com emoção o início do projeto que deu origem à vinícola Vallontano, no Vale dos Vinhedos (RS), em parceria com a esposa Talise, e a cunhada Ana Paula. “A primeira vez que emitimos uma nota fiscal de entrada de uva lembro de Talise com caneta e talão, grávida, sentada na escada, porque não tínhamos móveis para o escritório, priorizando os equipamentos para elaboração do vinho”, descreve, no livro. E em seguida demonstra a felicidade de ver essa empresa crescer, ganhar espaço e ser a primeira marca brasileira a figurar no catálogo da Mistral, uma das maiores importadoras do Brasil.
A Era dos Ventos é um livro para degustar, de preferência com uma taça de um dos rótulos de Zanini ao lado – rótulos, aliás, que trazem uma poesia em cada um deles, o que fez o enólogo Luís Henrique Zanini passar a ser conhecido como vinhateiro poeta e um cara cheio de amigos, como a chef Roberta Sudbrack, que assina o prefácio.
E por que o projeto pessoal de Zanini se chama A Era dos Ventos?
Em uma das passagens talvez mais humanas e tocantes do livro, ele relata como a arte o captou – neste caso, a música – e o fez conhecer a bailarina Cláudia Palma, personagem importante na definição do nome A Era dos Ventos. Durante uma extensa troca de e-mails que virou uma amizade, as conversas passaram por diversos assuntos, mas sempre tendo a arte e a emoção como fios condutores. Ao ler e testemunhar essa troca de mensagens no livro, percebemos que chegar a esse nome era uma questão de tempo.
Mas obra não é somente um compilado de lembranças emotivas e momentos marcantes: há também críticas ao mercado, à padronização dos vinhos, aos excessos envolvidos no negócio. “O vinho vem sendo um pouco desvirtuado para muito marketing, muito comércio”, diz Zanini “Minha ideia foi resgatar um vinho humano, resgatar um pouco da história, da tradição, deixar um tratado humano sobre o vinho”.
O livro, editado pela Contracorrente, está sendo vendido por R$ 76,50.
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