Margem para crescimento de consumo de vinhos no Brasil ainda é alta

Margem para crescimento de consumo de vinhos no Brasil ainda é alta

No final de abril a Organização Internacional da Vinha e do Vinho (OIV) publicou um relatório anual que mostra uma tendência mundial de queda no consumo de vinhos. No Brasil, o resultado foi outro: o consumo aumentou e o brasileiro bebeu 11,6% mais vinho em 2023 em comparação ao ano anterior. Entre os países incluídos no relatório, apenas a Romênia teve um aumento mais significativo, de 20,1%. Não é possível apontar um motivo específico, mas há uma série de fatores e possibilidades. Mudanças no perfil do consumidor, promoção de eventos em maior escala, divulgação mais intensa e assertiva foram algumas das causas apontadas pela própria OIV.

Delegada científica brasileira na Comissão de Enologia e vice-presidente do Grupo de Especificações de Produtos Enológicos da OIV desde 2019, Fernanda Spinelli percebe esse aumento no consumo como uma consequência lógica. Fernanda explica que como grande parte da população brasileira ainda não consome vinho, ou consome em volumes pequenos, há mais espaço para crescimento: “Temos um mercado bastante emergente e em desenvolvimento, por isso temos uma maior margem de extensão de consumo”, afirma Fernanda. Ela reforça que não há dados oficiais no momento que falem sobre os motivos do consumo em si, mas que possibilidades são argumentadas pelo setor. “Somos um país de dimensão continental, então se uma boa parte da população aumenta o consumo de um produto específico o impacto nacional é relativamente representativo”, explica a especialista.

Fernanda reitera que o espaço para crescimento não é o único fator que influencia o destaque brasileiro no relatório da OIV: “Uma maior promoção da bebida, o crescimento do número de bares especializados em vinhos e mais eventos que envolvem a bebida também são relevantes”, aponta. Segundo ela, houve uma mudança de comportamento do consumidor bastante significativa: “o vinho espumante, que há muito tempo foi associado às datas celebrativas, já está no dia a dia do consumidor, podemos encontrar até nas praias”, explica. Sobre isso, Leila Caldeira, Coordenadora de Regulamentação do MAPA e delegada brasileira na comissão de direito da OIV, conta que a tendência é de um aumento no consumo de vinhos brancos e rosés: “como vinhos brancos e rosés geralmente são consumidos em temperaturas mais baixas eles ficam ainda mais refrescantes”.

Rodrigo Mainardi, gerente de marketing da Mistral, uma das maiores importadoras brasileiras, reforça a ideia de espaço para crescimento: “O consumo de vinhos no Brasil sempre foi muito baixo em comparação a qualquer outro país consumidor”, afirma. “Na pandemia tivemos um aumento do consumo, as pessoas despertaram o interesse por conhecer e beber vinho”, explica Mainardi, apontando a continuidade desse interesse como um fator determinante para o resultado do relatório da OIV. “Já nos demais locais, Europa e China principalmente, o motivo da diminuição foi o impacto financeiro”, complementa o gerente de marketing.

Outra tendência que anda de mãos dadas com os fatores econômicos é a priorização da qualidade e não da quantidade. Fernanda Spinelli explica: “Na Argentina, o aumento da inflação resultou na diminuição do poder de compra e os consumidores domésticos estão geralmente optando por beber menos, mas comprar produtos de maior qualidade”. Fabiano Maciel, consultor de empresas do setor de alimentos e bebidas especializado em vinho, cita a redução do consumo de bebidas alcoólicas por questões de saúde. Ele também explica que, nos demais mercados onde já há um comportamento definido, esse crescimento é dificultado: “Nos mercados mais maduros, onde a cultura do vinho está disseminada há muitos anos, não existe mais espaço para crescimento, tanto de consumo quanto de vendas”, complementa.

Deste modo nesse momento de maior interesse do consumidor surge uma oportunidade para os vinhos brasileiros. Fabiano Maciel participa de projetos em vinícolas de todo o mundo e observa um caminho a ser seguido pelo produtor brasileiro. Para ele, durante muitos anos os produtores concentraram seus esforços na melhora da qualidade, mas isso não é o suficiente em um mercado tão competitivo quanto o do Brasil. “Para que as vinícolas nacionais tenham sucesso no mercado, elas devem vender propostas de negócios, não somente vender vinhos. Além de um bom produto, um fator como proporcionar uma boa margem aos distribuidores e revendedores é fundamental”, pontua o consultor.

 

Imagem de topo: divulgação

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