Rubem Kunz é vinhateiro e também médico cardiologista. Apresentação feita nessa ordem pra deixar bem claro qual é o foco deste texto. E também para confirmar como algumas profissões se completam: Rubem teve de acalmar o coração para os dias que viveu em Nova Iorque na companhia da família. A Vinhos da Rua do Urtigão, vinícola de Rubem e família, que tem sede em Taquara (RS), foi a única representante brasileira na Raw Wine Fair, que reúne a maior comunidade do mundo de produtores de vinhos orgânicos, biodinâmicos e naturais de baixa intervenção. Abaixo algumas impressões do ‘vinhateiro doutor’ sobre a experiência nos Estados Unidos.
Raw Wine Fair
* Rubem Kunz
Quando comecei a vinificar em 2014 conheci a filosofia do vinho natural, sua relação com a agricultura mais limpa e produtos mais saudáveis.
Lendo me encantei com a história de Jules Chauvet, Marcel Lapierre, Pierre Overnoy, Nicolas Jolie e Isabelle Legeron.
Como enófilo sempre valorizei o vinho com tipicidade, com expressão, que além de correto e além de ser bom, me emocionasse. Essa é minha busca: por este vinho que expresse a cepa, o solo, o clima e traga dentro de si a expressão do meu trabalho.
Desde que conheci o livro da Isabelle Legeron e sua feira internacional de vinhos naturais sonhei em poder participar. Em 2023 me enchi de coragem e me apresentei a Raw Wine, uma comunidade mundial criada pela Isabelle, reunindo vinhateiros habilitados a participar deste evento.
A equipe de Isabelle me enviou um grande questionário técnico que inquiria desde a procedência da uva, detalhes técnicos de vinificação e análises químicas dos vinhos. Começou ali um período de três meses de troca de mensagens. Ao final me pediram que indicasse o nome de três vinhateiros já pertencentes ao grupo e que pudessem avalizar o meu trabalho.
Ter sido reconhecido como vinhateiro natural e aceito nesta comunidade foi um prêmio para mim, pois a partir daí eu poderia participar das feiras que ocorrem em oito cidades ao longo do ano.
O modelo é o mesmo como fazemos aqui, com bancadas divididas entre as vinícolas. Tive como vizinhos à esquerda japoneses, à direita canadenses, a frente americanos, às costas georgianos e sicilianos. Foi uma grande celebração onde fiz muitos amigos novos e boas trocas de experiências.
Fiquei impressionado porque o mundo não sabe que o Brasil faz vinho. Nosso país é conhecido do Rio de Janeiro para cima e associado com praia, calor e música. Conversei bastante sobre o clima do nosso estado e a forte influência europeia na nossa cultura pela colonização alemã e italiana.
Dos vinhateiros que provei vinhos, todos usavam uvas nativas de suas regiões, muitas ainda desconhecidas para nós, pude notar um esforço em resgatar estas cepas locais e esquecidas em um trabalho muito interessante e bonito.
Despertamos bastante curiosidade e admiração pelas variedades de uvas que vinificamos na Vinhos da Rua do Urtigão. Levamos Cabernet Franc, Nebbiolo, Chardonnay, Alvarinho, Malvasia de Cândia e Bordô.
Estou muito feliz com a receptividade e a boa impressão que os vinhos causaram. Voltei realizado e com certeza participarei de outra Raw Wine no próximo ano.
* cardiologista e produtor de vinho
Fotos: arquivo pessoal Rubem Kunz
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