A vindima de 2025 no Brasil está apenas começando, mas já inicia o ano trazendo grandes expectativas entre os profissionais do setor. Mario Lucas Ieggli, presidente da Associação Brasileira de Enologia (ABE), destaca que as condições climáticas favorecem uma safra promissora: “As previsões indicam que vão ter poucas chuvas esse ano e isso é ótimo para nós”, comemora Ieggli. Ele conta que a colheita ainda está numa fase muito inicial e não é uma tarefa simples definir um panorama geral do que está por vir em relação ao volume de produção. Entretanto, quando o assunto é qualidade, o otimismo já se escuta para além dos parreirais: “pouca coisa já foi colhida, mas já temos vinícolas relatando uma qualidade excelente”. Segundo ele, entre o final do mês de janeiro e meados de fevereiro será possível ter uma boa noção do que já foi colhido para base de espumantes.
Segundo dados do Instituto de Gestão, Planejamento e Desenvolvimento da Vitivinicultura do Estado do Rio Grande do Sul no Rio Grande do Sul, as projeções para a colheita deste ano apontam um aumento de 45% em relação ao ano passado. Sendo assim, a safra deve variar entre 650 e 700 milhões de quilos de uva. Ricardo Morari, enólogo-chefe da vinícola Garibaldi, localizada em Garibaldi (RS), explica que 2025 deve trazer o “La Niña” (fenômeno resfriamento do Pacífico Equatorial, que altera o clima global), transmitindo otimismo para os produtores. “A tendência é que o tempo se mantenha com poucas chuvas no período da vindima. Dessa forma, teremos convicção de uma excelente safra, em volume e qualidade”, projeta Morari.
Morari diz ainda que houve um período de brotação e floração mais tranquilo em comparação à safra anterior, com mais sanidade nos vinhedos e uma melhor frutificação no período de floração. O enólogo explica que, além das poucas chuvas, a amplitude térmica também colaborou: “é muito importante para a maturação lenta das uvas, para preservar acidez e preservar o frescor, fundamental nos casos das bases de espumantes”, explica.
As primeiras Chardonnay (foto acima, crédito: Augusto Tomasi – Agência Vagão) e Pinot Noir colhidas pela Cooperativa Vinícola Garibaldi trazem essas características, quando se fala em quantidade são esperados em torno de 28 milhões de quilos de uva na safra, um crescimento de 11 milhões em comparação ao ano anterior: “a ideia é estarmos elaborando em torno de 22 milhões de litros de produto, principalmente direcionado para espumantes, vinhos finos e suco de uva”, conclui Morari.
Deborah Villas-Bôas Dadalt (foto acima, crédito: Lucas Villas-Bôas), sócia-diretora da Vinícola Ales Victoria, em Bento Gonçalves (RS), no Vale dos Vinhedos, relata que o momento em comparação às últimas safras é muito diferente. As chuvas do final de 2023 resultaram em perdas superiores a 40% na safra de 2024 para a Ales Victoria, fechando um período de dois anos muito complexos, marcado também por pragas como míldio e botrytis. Mas dessa vez, com uma primavera amena após as chuvas intensas de maio de 2024, a vindima de 2025 deve ser 20% superior à média dos últimos 15 anos, podendo ultrapassar 40 toneladas em 8 hectares de castas vitiviníferas.
Além disso, a previsão é de quase 30 toneladas nas parreiras centenárias da uva Isabel, dedicada à produção de suco de uva integral. Para Deborah, o regime de chuvas regular durante a formação dos cachos e o tempo seco, com alta amplitude térmica durante o amadurecimento das uvas, trouxe o momento de colher os frutos do trabalho duro. “Este conjunto de fatores climáticos está sendo muito restaurador e as primeiras colheitas, das uvas precoces e base espumante, já revelam a extrema qualidade desta safra de ‘revanche’”, comemora Deborah.
Esse otimismo se reflete em vinícolas de diversas regiões do Brasil, que, cada uma a sua maneira, compartilham da mesma confiança em relação à produção da safra de 2025. Na Serra Catarinense, Humberto Conti, proprietário da Vinícola Villaggio Conti (foto acima, arquivo Villagio Conti) localizada em São Joaquim (SC), comemora: “as previsões para a safra 2025 são as melhores possíveis. Tivemos insolação perfeita e horas de frio adequadas para uma safra com bastante qualidade”, relata. A ausência de geadas durante a primavera, algo raro para o terroir de risco da serra catarinense, é outro motivo para comemorar.
Em relação ao volume de produção, ele conta que a safra deve variar entre 30 e 40 toneladas, padrão que se mantém ao longo dos anos para a Villaggio Conti. O otimismo também se estende para as vendas e a expectativa é manter a alta demanda percebida pela vinícola em novembro e dezembro do ano passado: “O mercado está se aquecendo novamente. Estamos recebendo muitos pedidos para revenda e nosso site tem respondido bem aos lançamentos”, conclui Conti.
No agreste pernambucano, na cidade de Garanhuns (PE), a Mello Vinícola também celebra a qualidade da safra de 2025. Em sua terceira safra, a vinícola familiar espera de 17 a 20 toneladas na colheita, em torno de 6 toneladas a mais do que o ano passado: “O que a gente tem observado é a excelente sanidade das uvas, muito melhor em relação à última safra”, comenta Carlos, “Kaká” Mello, CEO do empreendimento (foto acima, arquivo Mello Vinícola). Kaká conta que a vindima iniciou 15 dias antes do habitual, com o objetivo de fugir das chuvas características da região nesse período do ano, que acabaram não acontecendo. “A ausência das chuvas fez com que as uvas amadurecessem mais cedo, mas com muita qualidade”, explica Mello.
“Estamos surpresos positivamente, não pegamos um cacho com doença”, comemora o vinicultor, que observou um avanço em relação a safra de 2024, ano considerado desafiador pelo trabalho extra com pulverização devido às chuvas. A expectativa agora é pela produção do primeiro Pinot Noir da vinícola, que, segundo Kaká, pode ser o primeiro do agreste pernambucano: “Será bem leve, refrescante, frutado e fácil de beber”, explica. Kaká destaca ainda o foco no enoturismo e conta que a vinícola está aberta desde agosto para visitação, mas que ainda tem muito trabalho pela frente para conquistar cada vez mais apaixonados por vinho.
No Rio Grande do Sul, Márcio Fernando Bortolini vitivinicultor e sommelier da Azienda Bortolini, localizada em Ijuí (RS), região que está sendo identificada como terroir NoMi, nas áreas do Noroeste e das Missões, também adiantou a vindima este ano em torno de 10 dias. Entretanto, sofreu com uma perda significativa devido às chuvas de pedra no mês de outubro: “A floração que eu teria naquela primeira época foi bastante atingida. A qualidade do grão foi excelente, mas em volume tínhamos 600 kg de Alvarinho (foto acima, crédito: Márcio Fernando Bortolini) para colher, mas nos restaram apenas 300 kg”, lamenta.
Segundo Bortolini, a previsão para a safra de 2025, que seria de 10 a 12 toneladas, diminuiu para cerca de 3 toneladas e meia. Entretanto, o período de estiagem no noroeste das missões, de 25 de dezembro até a primeira quinzena de janeiro, trouxe uma alta qualidade de maturação. A amplitude térmica da região, uma das maiores do país, com manhãs com cerca de 14°C e tardes com 35°C de temperatura, exigem cuidado extra na condução do vinhedo, mas colaboram para um alto nível de qualidade esperado por Bortolini.
Gabriela Pötter, da vinícola Guatambu, localizada em Dom Pedrito (RS), na Campanha Gaúcha, também relatou uma antecipação da safra: “Iniciou uma grande seca na Campanha Gaúcha em dezembro, sendo que desde 19 de dezembro não houve chuvas na cidade de Dom Pedrito”, explica a enóloga. “Esta seca repercutiu em maior concentração de sólidos nos cachos, maior concentração de açúcar e também na antecipação do início da safra em 10 dias”, conclui a proprietária da vinícola. Gabriela conta que apesar de o clima ter apresentado mais precipitações na primavera, as condições climáticas atuais indicam que a colheita será de alta qualidade, semelhante ou superior à safra anterior, caso a seca perdure por mais tempo.
A previsão é de um aumento de 48% na quantidade de uvas do a safra 2024, com previsão de colher 137 toneladas nos 20 hectares de vinhedos, das variedades Chardonnay, Gewürztraminer, Sauvignon Blanc, Pinot Noir, Merlot, Tempranillo, Tannat e Cabernet Sauvignon (foto acima, arquivo Guatambu).
Entre colheitas adiantadas, Gilberto João Cargnel, enólogo responsável pela Vinha Solo, em Caxias do Sul (RS), conta que na região será diferente: “como nossos vinhedos estão na parte mais ao Leste da Serra Gaúcha e muito próximo aos Campos de Cima, a 890 metros de altitude, a colheita é mais tardia”, explica. A vindima está programada para iniciar em fevereiro e as uvas Merlot (foto acima, crédito: Luis Antonio Schiavo) são as mais adiantadas, mas ainda com alguns grãos verdes: “As bagas estão ficando graúdas e os cachos estão grandes e espaçados. Acreditamos que vão dar ótimos vinhos Merlot rosés e tintos”, espera o enólogo.
É estimada uma safra de quantidades abaixo do normal, mas em relação a qualidade a expectativa é positiva: “Nos próximos dias poderemos avaliar melhor, mas podemos adiantar que o quadro é promissor”, projeta Cargnel. Ele conta que houve preocupação no início da brotação, devido aos solos encharcados pelas chuvas intensas que atingiram o estado no inverno, mas que ao final tudo correu bem, e a torcida agora é para que o clima se mantenha até a colheita: “As madrugadas frias e as tardes quentes ajudam muito na formação dos precursores aromáticos”, explica o enólogo.
Agora é dar tempo ao tempo.
Foto de topo: Augusto Tomasi – Agencia Vagão
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