Uvas no Império Romano

Uvas no Império Romano

Um dos convidados do Brasil de Vinhos RECEBE é Ivan E. Rocha, professor de História Antiga, viticultor e escritor, que conversa conosco na quinta-feira, dia 8 de setembro, às 19h30. O papo será gratuito, pelo zoom. Garante a tua inscrição clicando aqui.

No livro “The Origins and Ancient History of Wine”, editado pelo arqueólogo Patrick E. McGovern e colegas, há uma citação atribuída ao escritor grego Ateneu de Náucratis (170 d.C. – 223 d.C.), que diz mais ou menos o seguinte: “Uma pessoa pode esconder qualquer coisa, mas nenhuma destas: que ela bebeu vinho e que ela está apaixonada. Em ambas as situações, seus olhos e suas palavras a fazem cair em contradição. Quanto mais a pessoa nega, mais ela confessa.”

O vinho enquanto bebida milenar é quase cláusula pétrea na história da humanidade, e negar sua relevância é, ao mesmo tempo, confessar sua importância como a “cola” que aglutinou sujeitos, atenuou momentos belicosos – e provavelmente deve ter insurgido outros tantos -, e estabeleceu uma cultura que passou a fazer parte dos ciclos econômicos, desde a Antiguidade até os dias de hoje. Quiçá, conhecer a história do vinho é também conhecer as sociedades em seus arranjos e conflitos, bem como, em um pequeno exercício imagético, revermos as escarpas gregas cultivadas com oliveiras e videiras, ou as planícies romanas pintadas de amarelo-ouro e verde com seus trigais e vinhedos espalhados de forma cada vez mais ordenada, racional e técnica.

 

É sobre esses e outros assuntos que o professor de história antiga da UNESP (Universidade Estadual Paulista “Júlio Mesquita Filho”) Campus Assis, Ivan Esperança Rocha, trata no livro “A Viticultura em Columela: Apropriação, Ressignificação e Experiência (Séc. I d.C.)”, publicado em 2022 pela Editora Telha.

Columela foi um escritor romano que viveu entre 4 a.C. (cerca) e 70 d.C. Sua obra De re rustica é considerada uma das mais importantes sobre a agricultura romana, com enfoque especial na viticultura, uma vez que Columela detinha uma vasta experiência como agrônomo e administrador de propriedades que produziam uvas e elaboravam vinhos.

A visão crítica e a análise objetiva que Columela imprimiu sobre as práticas empregadas para administrar vinhedos, cultivar a videira e elaborar o vinho são habilmente reportadas por Ivan E. Rocha nesse livro que é mandatório para todos aqueles que se interessam não só por história, mas também por viticultura e enologia. Embora o autor sublinhe que Columela não tenha legado de forma clara um corolário sobre os aspectos políticos de seu tempo, as diretrizes detalhadas que o escritor romano deixou sobre a organização do trabalho agrícola, passando pela descrição de terroirs e técnicas de manejo da videira praticadas até hoje, são uma preciosidade.

Como um pincel que espana o pó de ânforas milenares, vemos ressurgir o que já era dado: uma vez no mundo do vinho, não há meia-volta. Quanto mais negamos, mais confessamos.

Imagem de topo: site apaixonados pela história

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