Vocação: vinhateiro
Algumas palavras sobre quem faz o vinho que chega as nossas casas.
A poeira do Rubem
Por Lucia Porto
A poeira do Rubem vem em uma garrafa de Cabernet Franc, com uvas plantadas em Monte Belo do Sul.
Mas a origem dessa poeira vem de mais longe, e com certeza chegará ainda mais além. Porque o que faz o caminho dos bons vinhos, sabemos, além da qualidade de cada rótulo, são as histórias e a paixão que há por trás de cada um deles. E isso é algo que transparece muito em tudo o que diz e faz Rubem Kunz, o médico cardiologista que, aos 72 anos, tem uma vinícola “nos fundos” de casa em Taquara, na região metropolitana de Porto Alegre.
Em 2014, ali perto, na cidade de Araricá – na rua do Urtigão, que hoje dá nome à vinícola – Rubem começou a experimentar. Em 2018, o sonho saiu totalmente do papel, e hoje está de pé, em cimento e pedra grês amarela, em dois andares e 238 m2 de cantina, cave e laboratório. São diversos tanques, diferentes variedades e muitas possibilidades: é tentativa e erro, mas sobretudo sonho e realidade que se misturam numa alquimia de aromas, sabores e sensações.
A poeira do Rubem vem também do sorriso de Valéria.
Sua fiel escudeira, companheira de viagens, parceira de ideias e artista convidada para estampar quase todos os rótulos produzidos pela vinícola da Rua do Urtigão. A cumplicidade da dupla transparece nos gestos, nos brindes e na preparação dos cardápios harmonizados com que generosamente recebem os sortudos convidados em sua acolhedora casa.
A poeira do Rubem vem do brilho dos seus olhos quando fala em cada um de seus rótulos, quando aponta características, quando ajuda a despertar sensações em quem degusta seus vinhos. E cada vinho, claro, traz uma história, um momento. Uma uva característica, uma escolha de método, um erro que virou acerto, um golpe de sorte. Cada vinho de Rubem tem um toque de poesia, de filosofia e porque não dizer, de ilusão.
Ilusão sim, porque a poeira do Rubem, diz ele, tem um toque de Leonardo da Vinci. Porque foi em uma viagem pelo Velho Mundo, percorrendo museus que guardam belezas e tesouros – entre eles obras de Da Vinci – que Rubem começou a imaginar o Cabernet Franc com uvas de Monte Belo do Sul. Depois de um longo dia na viagem, de volta ao quarto, ao tirar os sapatos empoeirados, o vinhateiro poeta imaginou em seus pés, quem sabe, a mesma poeira que um dia esteve nos calçados de Da Vinci.
E assim nasceu Poeira, um Cabernet Franc com uvas plantadas em Monte Belo do Sul.