Caos e destruição no Rio Grande do Sul

Caos e destruição no Rio Grande do Sul

Já são quatro dias de chuva intermitente no Rio Grande do Sul, e as previsões da meteorologia sinalizam um mês de maio com precipitações e temperatura acima da média. O estado está em alerta máximo e a situação, como deveria ser, está sendo tratada como calamidade pública. Na quinta-feira, 2 de maio, o presidente Lula deverá estar em solo gaúcho para testemunhar os prejuízos e ampliar as formas de auxílio, entre elas a presença de helicópteros para realizar os resgates em locais de difícil acesso. Enquanto redigíamos este texto, os dados oficiais contabilizavam já 13 mortes em meio à enxurrada, que nas palavras do governador Eduardo Leite já é considerada o “pior desastre da história do Rio Grande do Sul”.

O estado como um todo está sendo atingido de forma muito violenta. Nas áreas dos vinhedos, os relatos e informações que apuramos ainda são muito desencontrados: os acessos estão fechados, as rodovias interrompidas e as encostas parecem estar, como muitos estão dizendo, ‘derretendo’. A situação é caótica.

O foco é resgatar quem está em áreas de risco, localizar desaparecidos, salvar vidas, o restante vem depois. Especificamente ao falarmos das áreas de vinhedos, os relatos são confusos.

No Vale dos Vinhedos, uma das principais rotas turísticas e enogastronômicas do Brasil, de 43 estabelecimentos comerciais – entre vinícolas, hotéis, restaurantes e lojas, 26 deles não abriram as portas nesta quinta-feira.

Monte Belo do Sul apresenta diversos locais interditados, estradas com risco de desabamento: “estamos ilhados”, lamenta Carolina Gonzatti, da vinícola Seis Mãos, localizada em Monte Belo do Sul.

Uma das localidades bastante atingidas é Faria Lemos, em Bento Gonçalves, onde fica a vinícola Cristofoli. “Caiu o muro atrás da vinícola, caiu o muro atrás do restaurante”, diz Bruna Cristofoli, uma das proprietárias da empresa. “A situação é bem ruim da vinícola para baixo, mas toda nossa família está bem e segura”.

Ricardo Morari, presidente da Associação Brasileira de Enologia, também relata problemas nesta região, e vai adiante: “Faria Lemos, Vale Aurora, Pinto Bandeira, está bem crítico nestes locais onde há vinhedos nas encostas, já temos relatos de perdas pontuais, e depois que a chuva parar certamente teremos mais”, finaliza.

O enólogo André Gasperin, consultor da Cooperativa Nova Aliança lamenta fatos como o ocorrido em Pinto Bandeira, na propriedade de Heleno Facchin, superintendente da Cooperativa. “A água levou embora o vinhedo (foto acima)”, relata. “E infelizmente como esta teve várias situações.”.

Gasperin complementa: “Se levar apenas o vinhedo, nem reclamamos mais, teve lugares que foram embora casas levadas pela enxurrada, pessoas desapareceram: não contabilizamos mais prejuízos financeiros, temos que preservar vidas”. Gasperin diz ainda que algumas localidades como Linha Jansen, em Farroupilha, e Pinto Bandeira, estão isoladas, “lá foi bem crítico, teve muito estrago, agora é rezar pra que a chuva pare”. Mas na hora que parar será outro problema, diz ele: “A preocupação é quando toda essa água descer, porque ela vai descer pelo Vale do Taquari e chegar em Porto Alegre”, conclui. “Aqui foi totalmente fora do normal, nunca se viu em toda história da região, uma enchente como essa, e a previsão é chover mais dois dias, ou seja, tende a piorar”.  Gasperin relata também estragos estruturais na unidade da Cooperativa na Linha Jacinto, em Farroupilha, “foram grandes, mas ainda não contabilizamos, parede que caiu, tanque que rompeu, vinho que se perdeu”.

Thompson Didone chefe de escritório da Emater em Bento Gonçalves esteve em Bento, Pinto Bandeira e Faria Lemos no final da manhã de quinta-feira. Ele explica que em todas as localidades o que está ocorrendo é deslizamento de encosta, “e deslizamento de encostas tem destruição dos vinhedos”, diz ele. Didone aponta que por enquanto isso não ocorre em grande número: “mas para as famílias atingidas o prejuízo é bastante grande, há que reconstruir tudo. E é pior do que fazer novo, porque terá que limpar o terreno”.

“É cedo para se fazer um levantamento”, diz ele, “não se tem acesso ao interior, as cidades estão todas interditadas”. Mas Didone completa dizendo que recebeu diversos relatos de produtores contando sobre perdas em vinhedos, casas, residências, galpões, isso sem contar as estradas.

Foto de topo: Linha Alcântara, no interior de Bento Gonçalves.

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