Quem acompanha as notícias no Brasil de Vinhos já leu quando escrevemos que a Campanha Gaúcha é uma das regiões que mais se destaca na produção vitivinícola do país. Mas nem sempre foi assim. Para que o local se desenvolvesse de maneira sustentável foram necessários muitos anos de pesquisas e estudos, tentativas e erros.
Um dos agentes transformadores neste processo foi Carlos Eugenio Daudt – engenheiro agrônomo, mestre e PhD pela Universidade de Davis, na Califórnia, entre vários outros títulos e especializações. O professor Daudt foi figura ativa e testemunhou esta mudança, aconselhou áreas de plantio, sugeriu parceiros, indicou variedades, pesquisou, analisou, degustou e depois relatou pontos positivos e negativos.
“Eram outros tempos, existiam menos recursos, menos tecnologia. Mas gostei do vinho que produzimos. Foi um bom vinho” recorda, em entrevista ao Brasil de Vinhos RECEBE.
Durante a conversa, Daudt destacou também pontos importantes ao constatar o desenvolvimento da região onde há 50 anos foi implementada a vinícola Almadén, em Santana do Livramento – hoje marca do Grupo Miolo. O professor relembrou a importância do solo mineral e das condições meteorológicas – como a amplitude térmica, por exemplo – que fazem da Campanha uma região diferenciada para o desenvolvimento da produção vitivinícola. “O conjunto destes fatores me levava a acreditar muito que a exploração do local para o plantio de uvas para produzir vinhos finos era uma grande oportunidade”, complementa.
Mas além da uva e do vinho, Daudt faz questão de salientar a importância da questão social. “A cultura do vinho gerou e gera muitos empregos na região. É uma forma também de ajudar a comunidade”, pontua. Uma prova disso viveu na inauguração da sede do Museu da Almadén, em Santana do Livramento, em 2023. “Na época que a propriedade foi comprada, nos anos 70, duas pessoas trabalhavam lá”, lembra Daudt, “o avô e um neto”, conclui. “Com o tempo e a troca de donos, já são mais de 80 funcionários”, comemora
Daudt se entusiasma ao listar os munícipios da região que prosperaram com essas iniciativas e pesquisas iniciadas nos anos 70: Itaqui, Quaraí, Dom Pedrito, Santana do Livramento, Bagé, Rosário do Sul, Candiota – se emociona e coloca até Encruzilhada do Sul, município que fica na Serra do Sudeste, na lista. “As empresas que entraram aqui não estão para brincadeira, vieram sabendo o que queriam, e isso ajuda no crescimento da região”, complementa.
A contribuição de Carlos Eugenio Daudt para a cultura do vinho no Brasil vai muito além da agronomia de campo. Daudt é um apaixonado também por pessoas e pela união em benefício do bem comum. Em uma conversa com Firmino Splendor sugeriu a criação de uma associação de interessados no setor, para juntar forças, algo que já tinha visto Estados Unidos. A sugestão deu certo: em 1976 Splendor fundou a Associação Brasileira de Enologia, da qual foi o primeiro presidente.
Confira a entrevista com Carlos Eugenio Daudt clicando aqui
(foto: vinhedos da Almadén na década de 70, reprodução Miolo)