Mão no mosto para fazer vinho

Mão no mosto para fazer vinho

A Quinta Barroca da Tília fica em Águas Claras, distrito de Viamão, a cerca de 40 quilômetros do centro de Porto Alegre (RS). A vinícola, fundada 2008 por Eduardo e Simone Giovannini, tem um quê de escola e laboratório: em uma das primeiras vezes que estive ali, durante um curso de vinificação oferecido a interessados e aficionados no tema em fevereiro de 2020, quase 30 variedades de uvas eram cultivadas – 27 para ser bem exata. Naquela oportunidade, os perfis dos alunos eram similares: profissionais liberais em processo de aprendizagem para se tornarem vinhateiros, profissionais liberais que haviam se transformado em vinhateiros recentemente, estudiosos e apaixonados pelo tema e uma jornalista.

No caso, eu.

(foto: arquivo pessoal Nelcir Zambiasi)

Uma pandemia depois e a maior parte daqueles que realizaram o curso se desenvolveram no segmento, em diversas vinícolas que estão no mercado, oferecendo belos vinhos, rótulos que você já comprou ou ainda comprará, vá por mim. Entre tantos alunos que estiveram presentes naquele curso, poderia citar vários mas vamos apontar três, responsáveis por duas vinícolas, um do Rio Grande do Sul, o empresário Nelcir Zambiasi (bem à frente, à esquerda, o autor da selfie que deixou metade do seu rosto cortado), proprietário da Vinallegro, de Lajeado, e mais dois em Minas Gerais, o casal Daniel Maia e Silene Berne (ao fundo à direita na foto acima, Daniel de camiseta verde e Silene ao lado), ele designer e ela relações públicas, que comandam a Alto do Gavião, que fica em Vieiras (MG), na zona da mata mineira.

Um pulo no tempo nos leva para quatro anos depois, mais ou menos na mesma época e para o mesmo lugar, com duas pessoas que citamos anteriormente.

Neste período Silene, Dani e Nelcir – cada qual em sua região e com suas especificidades – trabalharam bastante, viram o vinhedo crescer, erraram, acertaram, acordaram e dormiram pensando no clima, fizeram manutenção, podaram, limparam, colheram, vinificaram e por fim, engarrafaram e sorriram. E sorriram com razão, cada vinícola já apresentando promissores rótulos

Mas voltemos ao tema, porque a pauta é sobre estudo.

A Quinta Barroca da Tília que serviu – e ainda serve – para pequenos cursos de especialização, como os que citamos muito brevemente acima, agora também funciona como centro de prática para o curso de graduação em viticultura e enologia da Faculdade Católica Paulista. Essa prática pressupõe campo, vinhedo, laboratório, experimentação, pesquisa, cantina, adega: pressupõe aprender a fazer vinho. Mas como funciona isso à distância – em EAD, como é comum vermos e lermos por aí, principalmente online, em anúncios que pulam nas telas das nossas redes sociais? Sim, porque se você, como eu, e como muitas das pessoas que leem o que publicamos aqui no Brasil de Vinhos se interessa pela bebida, alguma vez uma propaganda nesse estilo já passou pelo seu feed.

Uma das instituições que oferece este tipo de aprendizado tem sede em Marília (SP), e apresenta este curso, com duração de três anos que forma técnicos em viticultura e enologia, profissionais capacitados em diversas etapas de produção do vinho, desde a produção da uva até consultoria para eventos, passando por assessorias técnicas em diversos tipos de empresas, laboratórios e cooperativas, por exemplo.

E E a Silene Berne que citamos acima – casada com o Daniel Maia, do Alto do Gavião, lá de Minas – foi uma das pessoas que reencontramos, quatro anos depois, agora fazendo o curso de graduação. Já com experiência em vinhedos e vinificação, a Silene é direta quando aponta os benefícios deste curso: “A coordenação e o corpo de professores possuem profundo saber e experiência na área, o que contribui absurdamente para a ampliação do meu conhecimento”, diz. “Além disso, como é um curso reconhecido pelo MEC, depois de formada posso tirar o registro de Responsável Técnica, que é uma exigência para qualquer vinícola registrada no Ministério da Agricultura”, completa.

“Faço vinho faz tempo”, conta Nelcir Zambiasi, que também encontramos novamente, “mas muito pelo que eu via como se fazia antes. Sei que é necessário correr atrás pra aprender algo a mais para melhorar”. O curso, para Zambiasi, traz isso: “Tem as diretrizes, abre os horizontes e nos deixa mais confiantes no que estamos fazendo, que estamos no caminho certo”, conta, “sem falar na qualificação dos professores, todos eles com uma carga de sabedoria muito grande, com uma leveza e uma tranquilidade de conhecimento que impressiona bastante”, explica. “A gente fica orgulhoso de estar no curso”, finaliza.

Silene e Nelcir já têm um bom caminho prévio traçado no mundo do vinho e da vinificação, diferente de Dilmari Balen Krug (foto acima), administradora de empresas de Campo Grande. De família com tradição no campo, mas ligada à soja, Dilmari quer produzir vinho e o curso é um início.  “A região onde moro tem possibilidades e ainda poucos produtores, quem sabe no futuro não serei mais uma?”, questiona, sorrindo.

Do Rio de Janeiro, da região serrana de Sebollas, vem Rafael Antunes (foto acima, arquivo pessoal Rafael Antunes), com muita vontade e já um belo Sauvignon Blanc, que foi apresentado aos alunos na degustação, depois da aula prática do dia. “Essa região fluminense está crescendo muito, e cada vez mais finca seu lugar no mapa vitícola do Brasil”. Antunes é um dos perfis típicos dos alunos do curso, profissionais liberais em transição de carreira que enxergam no vinho ao mesmo tempo uma paixão e um modo de vida.

A coordenação do curso está a cargo de Simone Gonçalves Teixeira Giovannini responsável também por organizar toda a parte prática que foi realizada na vinícola e na região durante uma semana. O período prático apresentou as diversas etapas do processo de produção do vinho, desde o campo até a garrafa. Durante estes dias, o grupo ainda visitou outras vinícolas e regiões para conhecer diferentes estilos de vinho e métodos de produção.

Francisco Ramirez, diretor da faculdade, comemora os bons resultados do curso, que em sua primeira edição tem cerca de 100 inscritos na modalidade online, alunos que estão espalhados por todo o Brasil. A parte prática, opcional, foi realizada por cerca de 40 alunos, um número comemorado pela instituição.

 

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