O vinho tem de ser vivo

O vinho tem de ser vivo

Dizem que as grandes paixões surgem quando menos esperamos e quando estamos abertos para isso. Foi mais ou menos o que aconteceu com a então estudante de psicologia Maíra Freire há alguns anos. “Quando estava morando em São Paulo fiz um bico como garçonete durante a faculdade: fiquei encantada com o universo da Gastronomia e das bebidas”, conta. Anos depois, responsável pela adega de vinhos do restaurante Lasai, do Rio de Janeiro, Maíra recebeu o prêmio especial de sommellerie Michelin Brasil.

Guia Michelin

Referência gastronômica no mundo, o Michelin está de volta ao Brasil depois de quatro anos, premiando restaurantes no Rio de Janeiro e em São Paulo. No ano passado o Michelin, na França, premiou a brasileira Gaby Benicio como melhor sommelière. E o Äponem, restaurante que comanda com a chef Amélie Darvas, foi destaque com a Estrela Verde, prêmio que destaca o compromisso de restaurantes com a Sustentabilidade e o Impacto Social.

A experiência de serviço despertou em Maíra um interesse profundo pelo vinho. Já formada em Psicologia, a sommelière se sentiu fascinada pela possibilidade de transmitir conceitos gastronômicos aos clientes. “Comecei a estudar sobre o assunto e sobre bebidas: em pouco tempo estava cuidando cada vez mais do serviço.”

Maíra avalia o prêmio Michelin como uma oportunidade de aumentar a visibilidade do seu trabalho, embora ainda esteja processando a conquista. “Ainda não tenho ideia de como isso vai influenciar minha carreira. Sigo com meus projetos e planos, carregando caixas e polindo taças”, brinca.

Rotina e sustentabilidade

A rotina de Maíra é intensa e diversificada: “tenho uma equipe bem curtinha, faço a carta de vinhos, supervisiono a qualidade das taças, faço a compra de todo o material que usamos, a contagem, o controle de estoque, as compras de vinho: enfim, é a rotina de vida de um sommelier de restaurante e de consultor também”, completa. Atualmente trabalha no restaurante Lasai, no Rio de Janeiro (imagem acima. reprodução instagram), onde está há sete anos e meio – Lasai que aliás conquistou pela primeira vez duas estrelas Michelin com a Gastronomia do chef Rafa Costa e Silva.

A profissional também atua em projetos externos que, claro, incluem vinhos. “Participo de um comitê de aulas da Associação Brasileira de Sommeliers (ABS) de introdução ao assunto de vinhos orgânicos, biodinâmicos e naturais”, conta. “Além disso faço eventos e organizei uma feira de vinhos aqui no Rio de Janeiro, a Primeira Taça (foto acima, evento em parceria com Manu Zappa). É uma coisa muito carioca, a possibilidade de provar vinhos direto dos produtores ao ar livre num dia bonito”, completa.

Maíra é uma grande defensora dos vinhos sustentáveis – aqueles que prezam pelo manejo e produção orgânica, biodinâmica e natural. “Para mim, é uma questão de princípio, de paixão, de filosofia. O aspecto da Sustentabilidade é o único caminho possível, só podemos pensar no futuro se começarmos por aí”.

Pensando na produção brasileira, a sommelière destaca o trabalho dos produtores locais e o potencial das nossas leveduras: “Os produtores estão pesquisando, buscando descobrir o quê ou qual seria o terroir brasileiro”, avalia. “Querem saber em que vinhos resultam as leveduras daqui trabalhando, especialmente, na produção de vinhos naturais”.

Maíra acredita no potencial vitivinícola do Brasil, apesar de apontar diversos desafios. “A produção é cara, a logística de distribuição é cara. Além disso não temos tem muita tradição de consumo de vinho”, pondera. “Mas acho que tem muita gente tentando superar tudo isso e segue com paixão de produzir vinho aqui”, comemora.

Dicas para Futuros Sommeliers

Para quem deseja seguir a carreira de sommelier, Maíra aconselha provar o máximo de vinhos possíveis, além de viajar para conhecer regiões e produtores. “Optei por começar pelas regiões clássicas porque acho que elas têm uma carga histórica muito importante”, reflete. “Também há muita leitura interessante disponível, além de bons cursos acessíveis no Brasil”, sugere.

A sommelière enfatiza a importância da curiosidade e da disposição para aprender e questionar. “É importante lembrar sempre que o vinho não é algo engessado, vamos construindo junto, com descobertas e questionando métodos”, avalia. “Acho que o vinho é uma coisa que tem que ser viva”.

Questionada sobre seus rótulos favoritos, Maíra diz ter as preferências do momento, que em geral são de regiões ou produtores que conhece a partir de uma nova importação ou viagem. “Neste momento tenho me divertido com rótulos de Tenerife, nas ilhas Canárias – pra citar um”, finaliza (foto acima. reprodução envato).

Ficar atento ao que diz a sommelière Michelin: taí uma boa sugestão para quem quer ficar por dentro das tendências do mundo do vinho.

 

 

Fotos de topo e Primeira Taça: Maíra Freire | arquivo pessoal

Para sugestões de matérias escreve para pauta@brasildevinhos.com.br

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