Mucugê é uma pequena cidade, fundada no final do século XIX no centro da Bahia, município que teve sua origem na criação de gado, mas muito puxado pela exploração de diamantes. Você pode não saber, mas o Brasil – e a Bahia, e a Chapada Diamantina e Mucugê, especificamente – durante algumas décadas foi o principal produtor de diamantes do mundo.
Sim, do mundo, você não leu errado.
A descoberta e exploração da pedra preciosa se iniciou ainda no século XVIII, mas pouco mais de 100 anos depois, em 1840, a região passou a ser o centro das atenções. Foi mais ou menos neste período que o local, até então chamado de Lavras Diamantinas, ganhou o nome de Chapada Diamantina.
Museu Vivo do Garimpo
Estas foram algumas das coisas que descobrimos – ou quem sabe relembramos das longínquas aulas de história no colégio – depois de uma visita a uma toca de garimpeiros, porque é em uma destas moradias improvisadas que serviam como guarida dos homens e mulheres que viviam da busca e da exploração do diamante que está instalado o Museu Vivo do Garimpo. Com o perdão do trocadilho, uma preciosidade para quem gosta de saber a origem dos lugares que visita.
A chegada ao museu já é uma aventura. O visitante precisa subir uma trilha íngreme, em meio à vegetação rasteira. Em um pequeno trecho de cerca de 400 metros, cruzamos por diversas amostras dos três biomas brasileiros que compõem o parque: Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga convivem harmoniosamente entre minerais, plantas e pequenos animais. Olhe para o lado, veja uma rocha se mexendo e não se assuste: os pequenos lagartos estão por toda parte.
No topo da trilha, e já em dos trechos da Estrada Real, Edmundo Aguiar Vilarim (foto acima) nos espera em sua toca. O guia que coordena o museu tem a história do garimpo no sangue, seu avô, Joaquim Aguiar, o “Joaquim da Flauta”, foi um dos tantos que fez do garimpo seu modo de vida.
Entrar na toca é voltar no tempo, tempo que retrocede à medida que subimos a encosta até chegar lá. E um dos motivos disso é o silêncio, quase absoluto – o mesmo silêncio, aliás que é retumbante no meio dos vinhedos da Uvva, há poucos quilômetros dali. A ausência de qualquer ruído só é interrompida pelo som dos pássaros, pelos passos pesados no solo pedregoso, pela respiração forte, resultada do esforço da caminhada e, claro, pelos ruídos furtivos dos lagartos, os verdadeiros donos do local, sempre atentos a qualquer movimento.
O museu, parte do Parque Municipal de Mucugê, é uma estrutura constituída em volta do que um dia foi uma real toca de garimpeiros (foto acima). Ali, Edmundo está em casa e conta como ninguém as histórias que os livros trazem. Mas conta melhor ainda as estórias que não estão escritas, mas que vivem no imaginário e nas lembranças de quem viveu ou conviveu com os personagens daqueles tempos.
Projeto Sempre Viva
A exploração dos diamantes na Chapada teve seus pontos altos, mas durou pouco. Depois da entrada da África do Sul nesse mercado, a produção brasileira perdeu espaço. Um tempo depois, com a exploração do Carbonado – também conhecido como Diamante Negro – voltamos ao mercado, mas logo os alemães desenvolveram uma liga sintética e a exploração deste mineral perdeu força na Chapada. “Então a Sempre Viva (foto acima), que de alguma forma já era importante, passou a ser o ganha pão de muita gente”, explica Vilarim.
A população da cidade diminuiu consideravelmente neste período, e quem ficou basicamente viveu da coleta e da venda da Sempre Viva – flores que secam sem murchar e sem perder a cor e, como o nome diz, parecem estar sempre vivas. No mundo existem cerca de 1,2 mil espécies, 800 delas no Brasil – mas boa parte corre o risco de extinção.
Este foi um dos motivos pelos quais, em 1999, foi criado o Parque Municipal de Mucugê, que além do Museu Vivo do Garimpo, abriga o projeto Sempre Viva, que estuda a flora local e investe na identificação e preservação da Syngonanthus mucugensis, nome científico da Sempre Viva.
Saiba mais sobre Fabiano Borré, diretor executivo da vinícola Uvva.
Saiba mais sobre a vinícola Uvva, que está localizada em Mucugê, na Chapada Diamantina.
O Brasil de Vinhos esteve na Chapada Diamantina a convite da vinícola Uvva.