A história de 4 gerações da vinícola Casa Onzi teve um capítulo trágico com as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul no mês de maio. A família de imigrantes italianos que chegou a Caxias do Sul na década de 40, construiu a vida e o sustento pelo cultivo da uva e produção de vinho. Ismael Onzi cresceu na propriedade, brincava no riacho local e hoje, está à frente do negócio que foi de seu avô, seu pai e que será de seus filhos. O trabalho feito por muitas mãos sofreu perdas inimagináveis com as chuvas que trouxeram caos para todo o estado.
Metade dos 3 hectares de vinhedos foram destruídos (foto acima) e o prédio de 8 metros (imagem abaixo), que guardava tanques, máquinas de envase, compressor e resfriador, desabou com a força da terra caída do barranco onde ficava encostado. Parte do maquinário e da produção foi perdida, outros equipamentos foram avariados, mas com possibilidade de consertar. Diante do susto e dos danos, ainda não é possível saber a extensão total do prejuízo.
“Perdemos 40 mil litros de vinho e calculamos em torno de 300 mil reais de prejuízo, apenas de máquinas e de vinhos, o prejuízo da estrutura do prédio ainda não foi calculado. Com o passar do tempo vai aumentar, pois ainda vamos achar mais coisas que não percebemos”, relata Ismael Onzi. “A gente não teve avalanche de água, mas houve deslizamento parcial, todo solo cedeu alguns metros, então baixou toda a estrutura do parreiral. O prédio ficava quatro metros encostado no barranco, aquela parede desmoronou e atingiu parte dos equipamentos”, desabafa.
Apesar do prejuízo financeiro e do baque de ver sua propriedade afetada, Ismael entende que a situação poderia ter sido mais grave. “A gente fica triste de perder o prédio, porque fazia parte de toda história da empresa, mas ao mesmo tempo agradece, pois poderia ser pior, podia ter desabado completamente”, pondera. ”Meu pai e minha irmã moram na propriedade, podíamos ter perdido alguém com os deslizamentos: fomos poupados. Os males que vieram a nós, vamos conseguir contornar.”
Antes da tragédia, a Casa Onzi estava em processo de mudança para outra área, a cerca de três quilômetros do local afetado. A vinícola colocou seu escritório, estoque de vinhos e destilador em um pavilhão no novo espaço. Foi esse movimento que permitiu que as perdas fossem menores, uma vez que boa parte da empresa já funcionava em novo local, que agora conta com essa estrutura para seguir operando mesmo com os transtornos.
“Projetamos a mudança antes de tudo acontecer, construindo um pavilhão em outra propriedade. Aos poucos, estávamos mudando porque o prédio anterior ficou pequeno”, conta Onzi. “O planejamento nos ajudou, pois estoques de vinho e outras coisas da empresa já estavam em outro local. Há quatro anos tudo ficava naquela estrutura que desabou.
Na retomada das atividades, Ismael sente também o impacto nas vendas que reduziram cerca de 40%. A vinícola produz vinhos de mesa, finos, espumantes e sucos com foco em atender pequenos restaurantes e comércios. “Grande vende para grande e pequeno vende para pequeno”, filosofa Ismael. A maior parte das vendas da Casa Onzi são direcionadas para restaurantes da região metropolitana de Porto Alegre e clientes esporádicos em Santa Catarina e no Paraná. Os custos elevados e dificuldades com a logística também são desafios enfrentados no momento, devido às rotas alternativas e maior trajeto para chegar no destino.
Mesmo com as adversidades, a Casa Onzi retomou a produção e segue com as vendas no novo endereço, em Caxias do Sul – Estrada Mun. Catharina Regalin, 2.700 – Nossa Senhora da Salete, bairro Forqueta. Do conteúdo dos tanques avariados, Ismael avalia que foi possível recuperar 260 mil litros, o que trará fôlego para atuação no restante do ano. Ismael ainda aguarda auxílios que virão do poder público para reconstrução das perdas em seu negócio, mas acredita na recuperação.
“Nós vamos sofrer agora, mas fazendo um financiamento ou até com as medidas que o governo promete liberar no futuro, vamos conseguir passar por esse baque. Nosso dano não vai nos impossibilitar de funcionar”, espera Onzi.
Fotos: acervo Casa Onzi.
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