Winemaker: aprendendo a fazer vinho com quem sabe 

Winemaker: aprendendo a fazer vinho com quem sabe 

Por Lucia Porto*  

Já vou avisando: este é um texto opinativo. Não pode ser classificado com um artigo, mas é um texto opinativo, escrito em primeira pessoa, por isso vou deixar todo em itálico. E um segundo aviso: não é um texto encomendado e nem tem algum tipo de benefício – pagamento, presente, desconto. É um assunto que trago aqui porque ‘vivi uma experiência’ – pra usar uma expressão da moda – incrível, um ano toda envolvida na produção de um vinho, do vinhedo à taça.  

É isso que proporciona o WInemaker, programa concebido pelo enólogo Adriano Miolo, que está presente e se envolve em todos os momentos do curso. A etapa Tintos, a primeira delas, que foi a que participei, é toda realizada no Vale dos Vinhedos, com aulas teóricas e práticas na sede principal da vinícola. Além da Tintos, ainda existem as etapas Brancos e Espumantes, que são possíveis de serem feitas tendo passado pelas anteriores e acontecem em outras unidades da Miolo, na Campanha Gaúcha e no Vale do São Francisco – já estou de olho nelas.  

Importante dizer que esse não é um curso pensado para quem já tem vivência na produção de vinhos ou para enólogos experientes – não que estas pessoas não possam estar presentes, é ótimo que estejam, mas a ideia mesmo é apresentar para os leigos todos os processos que acontecem até que o vinho esteja pronto. A minha turma, formada por cerca de 30 alunos, foi composta por pessoas vindas de diferentes estados do Brasil – grande parte delas, vejam bem, de Minas Gerais, o que provocou uma sugestão divertida: quem sabe a criação de um curso local, os UAInemakers?  

Mas voltando, o programa é dividido em quatro etapas de dois dias de imersão – três dias no verão, durante a safra – no Vale dos Vinhedos, para que os participantes possam acompanhar um ciclo completo de vinhedo, vinificação, engarrafamento. Tudo começa no meio do ano com a Poda Seca – é neste momento que somos apresentados ao ‘nosso vinhedo de Merlot’, uma parcela de terra linda que emoldura a fachada da Miolo, no Vale dos Vinhedos, local onde o Emerson Ribeiro fez essa foto tri que está no topo do texto. Essa é a hora de conhecer os colegas, receber as primeiras orientações e embarcar nessa bela viagem.  

A Cris (foto acima), na verdade Cristiana Cardoso Musacchio, médica em Minas Gerais, traz um belo testemunho destes 12 meses de curso: “sou apaixonada por todas as experiências que envolvam o universo dessa bebida tão enigmática. Uma gratíssima surpresa foi a percepção que nada se compara a ser uma Winemaker Miolo e participar da criação do meu próprio vinho. Participar de cada passo da elaboração com a equipe incrível da Miolo, sob a batuta visionária do Adriano é algo que torna a experiência imperdível – sem mencionar os amigos que ganhei durante o processo, que tornam tudo ainda mais memorável”.  

Legal de lembrar que nem todas as aulas são realizadas exclusivamente na Miolo ou em Bento Gonçalves: certamente alguns dos pontos altos do curso foram as visitas que fizemos a outras vinícolas, empresas ou regiões, como à Flores da Cunha, para degustar rótulos das vinícolas ligadas à associação dos vinhos dos Altos Montes, ou em Monte Belo, onde pudemos aprender como são produzidas ou reformadas as barricas na Tanoaria Mezacasa. 

Alguns meses depois, lá por novembro, o grupo volta a se encontrar para a segunda etapa do curso, a Poda Verde. Desta vez as pessoas já se conhecem e a empolgação começa no ônibus que leva todos juntos de Porto Alegre até o Vale dos Vinhedos, claro que sempre na companhia de um belo espumante e da Thais Somensi, guardiã da turma e uma das grandes responsáveis pelo sucesso do projeto. 

A gaúcha Delci Werle (foto acima) era das mais entusiasmadas em todos os encontros: “imersas no ciclo da videira, tivemos a chance de podar, colher uvas, vinificar e escolher o corte. Cada etapa foi uma revelação! Apesar de no início achar o investimento um pouco salgado, logo percebi que o verdadeiro valor estava na riqueza dessa vivência”. Em paralelo aos encontros presenciais, na Serra Gaúcha, os contatos por grupo de whatsapp se tornaram frequentes, e turmas de winemakers foram se formando em diferentes cidades, seguindo com as conversas – e com as degustações, claro.  

Muitos momentos foram marcantes no Winemaker, pessoalmente para mim talvez um dos mais bacanas tenha sido a degustação vertical de 10 safras do Merlot Terroir conduzida pelo Adriano Miolo. É impressionante comprovarmos, na taça, como um vinho feito da mesma uva pode ser tão diferente com o passar do tempo – e com todas as influências que o clima traz. São muitas perguntas que uma degustação dessas deixa no ar: por que um vinho envelhece tão bem, ou nem tanto? Como uma safra seca influencia no resultado final na garrafa? Quais os fatores climáticos que possibilitam uma guarda mais longa do vinho? 

Taí mais uma das coisas boas do vinho: termos mais perguntas do que respostas. Mas que fique claro, o  Winemaker não vai responder todas as tuas dúvidas – e isso é ótimo – vai é sim, colocar mais ‘minhocas’ na tua cabeça.  

No verão todo mundo arregaça as mangas, taca repelente no corpo e vai pro vinhedo suar e fazer a colheita – eta cansaço dos bons. Mais um momento que nos faz efetivamente sentir a dificuldade de fazer vinho, e ajuda a valorizar o trabalho dos produtores. Cursos como estes, penso, são muito bons também para que o consumidor de vinho tenha mais noção dos custos do vinho que bebe – entender a cadeia, as dificuldades, os processos e todo o trabalho envolvido dá mais noção e compreensão do preço pago na hora de levar o vinho para casa. 

“Para quem, como eu, é apreciador de um bom vinho e apaixonado pelo aprendizado nessa área, o curso permite um mergulho no universo da bebida e desenvolve conhecimentos técnicos. São informações aprofundadas sobre o processo de produção de vinhos, que vão desde a experiência prática em vinhedos, com técnicas específicas de cultivo e poda das videiras até técnicas de produção de vinhos, envolvendo métodos de fermentação, filtração, maturação em barris e engarrafamento, passando por todas as etapas de vinificação” recorda o carioca José Ribamar Chehebe (foto acima).  

Cerca de um ano depois o curso termina com a definição do corte a ser produzido com a marca da turma – tudo, claro, sob a orientação de Adriano Miolo e Gilberto Simonaggio, além das aulas detalhadas do experiente agrônomo Ciro Pavan. A definição do blend é um momento divertido, instrutivo e educativo: em votação a maioria escolhe o corte, que será engarrafado e individualmente rotulado de acordo com cada participante. No meio dos cortes a serem analisados, algumas pegadinhas que servem, digamos, como prova final do aprendizado que a turma teve. 

Marcelo Ognibene, paulista que frequenta bastante o Vale dos Vinhedos e viaja para diversas regiões do vinho, é só elogios para a programação: “o curso é absolutamente fantástico, a interação entre teoria, campo e indústria é perfeita e a participação do Adriano Miolo é a cereja do bolo!”. 

Para finalizar eu lembro, como jornalista, que é bom todo texto ter um gancho: as inscrições pra turma 8 do Winemaker estão abertas e são pouquíssimas vagas, te liga e não perde essa – quem sabe daqui uns anos não estaremos divulgando o teu vinho aqui no Brasil de Vinhos? 

* Lucia Porto é jornalista, empresária, sommelière e uma das sócias do Brasil de Vinhos. Apaixonada por vinho brasileiro, participou da turma 7 do winemaker da Miolo, e está contando os dias pra receber seus vinhos.  

Fotos: Emerson Ribeiro

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