Altos de Amparo: café, feno, eucalipto…e vinho!

Altos de Amparo: café, feno, eucalipto…e vinho!

A reportagem do Brasil de Vinhos esteve na cidade de Amparo, em São Paulo, município que faz parte da Serra da Mantiqueira, uma das regiões que mais tem crescido na vitivinicultura brasileira. Numa passagem relâmpago pela microrregião da Trilha da Areia Branca, a convite de três vinícolas, conhecemos os projetos e as ideias de alguns empreendedores a frente da Horbis, da Casa Vinet e da Areia Branca, diferentes iniciativas que apontam não somente o crescimento do mercado do vinho brasileiro como um todo, mas também as diversas possibilidades de negócio que ele traz, seja em produção própria ou em terceirização, que é um dos focos da Casa Vinet, vinícola que apresentamos hoje.

Como ponto em comum a todos o enoturismo, talvez ainda o principal motor desse segmento no Brasil.

A primeira reportagem teve como foco a Horbis, a mais recente iniciativa da região, uma vinícola que já nasce como empresa, com 12 sócios, governança corporativa, conselho de gestão e Reinaldo Assunção escolhido como diretor executivo.

Nossa série sobre a região de Altos de Amparo se encerrará com a terceira matéria, tendo em destaque a vinícola Areia Branca, o projeto mais grandioso que visitamos. Podes acompanhar os textos aqui no site e também em nosso instagram, tanto no feed como nos destaques Altos de Amparo.

Boa leitura.

 Café, feno, eucalipto…e vinho!

Por enquanto a Horbis é a primeira das vinícolas a que se tem acesso pela trilha da Areia Branca. Uma curta distância à frente, do lado direito, um portão anuncia o nome Entremontes. É ali a sede da fazenda de cerca de 25 hectares que produz eucalipto, feno e café de qualidade (em breve no mercado com a marca Divina Serra) – e que também, desde 2018, tem vinhedos implantados pela família Penteado.

Bruno Souza Vianna, experiente juiz em provas internacionais de vinhos, DipWSET e candidato a Master of Wine, é uma das pessoas próximas ao empreendimento dos Penteado, e foi ele quem sugeriu o nome do geólogo Gonzalo Santibañez aos produtores enquanto realizou consultoria à vinícola: “quando o Gonzalo veio aqui e fez as calicatas ficou impactado e realmente se emocionou”, lembra Adriano Penteado, que está a frente da operação familiar, “o granito em decomposição e as manchas de solo o fizeram lembrar do Rhône Norte”.

Chileno com experiência pelo mundo, Santibañez trabalhou para marcas como Carter-Mollenhahuer, Viñedos de Alcohuaz e Viña de Martino, no Chile: Bodega Cassone, na Argentina; Jackson Family Wines e Rose & Arrow, nos Estados Unidos e Mas Martinet, na Espanha. Em uma dessas andanças conheceu Bruno Vianna que o apresentou aos Penteado.

“A Casa Vinet é minha primeira experiência como consultor no Brasil, um projeto incrível, principalmente pelo foco em alcançar a excelência na qualidade dos vinhos, graças à visão do Adriano Penteado, que montou uma equipe muito boa”, diz o especialista, “Devo estar presente na colheita e espero voltar nos próximos anos para ver como as futuras plantações estão se desenvolvendo nos locais recém-descobertos, o que pode colocar Amparo no mapa dos grandes vinhos”, revela.

Santibañez conta que os vinhedos da Casa Vinet são plantados em solo de granito, especificamente material de origem associado ao complexo granítico de Morungaba, que pode ter até 600 milhões de anos: “isso o torna um dos terroirs mais antigos do mundo, em termos de idade geológica”, pontua o especialista, que explica ainda que a geologia granítica faz parte de alguns dos terroirs mais importantes do mundo do vinho, como as regiões de Côte du Rhône Nord e Beaujolais, na França; Gredos e partes da Galícia e Catalunha, na Espanha; e Itata e Casablanca, no Chile. “Esse tipo de geologia é excelente para muitas castas, mas especialmente para variedades como Syrah, Garnacha e Carignan”, detalha, “a forma como essas rochas se decompõem permite que as raízes penetrem profundamente e explorem diferentes níveis de solo e subsolo, produzindo vinhos energéticos, delicados e complexos, geralmente bem estruturados”, complementa.

Foi a partir dessa percepção de Santibañez que os Penteado, assessorados pela equipe da Floeno, dividiram o vinhedo em diversas sub-parcelas: “nosso vinhedo está em uma curva de nível e cada uma das parcelas apresenta um grau de insolação diferente. Além disso trabalhamos muito um mix de verdes diferenciado para a cobertura de solo”, relata o produtor.

Dois anos depois, o enólogo francês Jean Claude Zabalia chegava para se unir ao projeto da Casa Vinet. “Em nossa primeira safra, em 2022, produzimos 7 mil garrafas de Syrah. Hoje entre todos os nossos rótulos produzimos entre 10 mil e 12 mil garrafas”, conta Penteado, “mas a nossa ideia é produzir entre 20 mil e 26 mil ao ano”.

O objetivo dos produtores da Casa Vinet não é produzir vinho de volume: são e querem continuar sendo uma vinícola boutique. A ideia é que os 4,5 hectares de vinhedo cultivados com Syrah, Cinsault, Carignan, Cabernet Franc, Marselan, Mourvèdre, Garnacha, Cabernet Sauvignon, Marsanne, Chenin Blanc, Viognier e Roussane abasteçam os restaurantes em um raio de até 100 quilômetros de distância da sede. E para garantir isso os produtores rodam muito pela região, fazendo degustações guiadas, apresentando produtos e abrindo garrafas: “fazer vinho é um projeto de fôlego e capital intensivo, é preciso colocar muito dinheiro até se começar a ganhar alguma coisa”, diz Penteado. E um dos meios de recuperar o investimento, no caso da Casa Vinet, é fornecendo serviço de vinificação para terceiros.

Tempo é dinheiro

“Buscamos a eficiência da produção e a qualidade”, diz Adriano (foto acima), “investimos onde é mesmo necessário”, completa. O trabalho prestado pelo consultor Diego Bertolini ajudou a achar esse caminho: “além da excelência da parte técnica nos vinhedos, a ideia é buscar outro negócio, que é a terceirização”, argumenta Bertolini, empreendedor especializado em negócios do setor de vinhos. E isso explica um pouco da virada na ideia original. Se no primeiro momento o projeto era grandioso – a começar pelo arquitetônico, desenvolvido pela arquiteta Vanja Hertcert a partir do trabalho inicial de uma consultoria francesa – a realidade do mercado e o tamanho do investimento os fizeram corrigir a rota. “O enoturismo não se constrói de uma hora para outra”, argumenta Bertolini, “é necessário, por exemplo, que a região tenha acesso facilitado e hospedagem em abundância. A microrregião ainda é um destino apenas de final de semana”, conclui.

A Casa Vinet que vemos hoje é um projeto mais enxuto: a sede física foi adaptada a partir de uma edificação que já existia no local, mas foi totalmente modernizada, ganhando equipamentos de refrigeração, reguladores de pressão, laboratório de qualidade e uma cave de barricas. Apesar do investimento em automação e tecnologia avançada, a Casa Vinet preserva a história: uma parte do madeirame do antigo local, uma granja de aves, foi conservada.

“Nosso foco principal é produzir vinhos de qualidade”, repete Adriano. “A vinícola tem equipamentos, aporte e tecnologia para fazer um bom vinho, e pode fornecer estes serviços para terceiros”, argumenta Bertolini, “há um incremento na produção de uva na região e poucas empresas terceirizam este serviço de vinificação. Esse modelo de negócio vai racionalizar os custos e proporcionar mais fluxo de caixa”, justifica.

Na Casa Vinet toda a vinificação até então foi feita com a consultoria do enólogo chileno Cristian Sepúlveda, responsável pela vinificação das primeiras três safras, realizada na vinícola Terra Nossa, em Espírito Santo do Pinhal, onde estão algumas barricas da vinícola. Em Amparo a enóloga Sara Silva, formada pela Universidade Federal do Pampa e com passagem pela vinícola Ferreira e pelo grupo Vitácea, é a chef de cave.

Em um dos dias que estive lá a cantina recém-inaugurada recebeu um carregamento de 800 toneladas de Sauvignon Blanc vindas do Rio de Janeiro para a primeira vinificação oficial na Casa Vinet, fruto de uma parceria entre a vinícola e a Floeno, empresa que presta consultoria em viticultura para diversas vinícolas do Sudeste brasileiro. Foi um momento de alegria, que reuniu três gerações da família Penteado (na foto Gabriel, Oliver e Adriano, pai, neto e filho) em imagens para ficar na memória, mas ao mesmo tempo de muita responsabilidade: foi necessário executar passo a passo um protocolo de vinificação externo enviado pelo enólogo Rodrigo Laytte, chileno radicado em Bordeaux, na França.

A Vinet abriu as portas da Casa começando com o pé direito.

 

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Fotos: Lucia Porto | Brasil de Vinhos

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