É impossível falar de vinho em São Roque e não mencionar a vinícola da família Góes, tradição na região desde 1938. A mesma família que, a partir de setembro de 2025, apresentou uma nova marca ao mercado, a Philosophia Terroirs de Expressão – que aliás teve um rótulo, o Sauvignon Blanc Thésis, selecionado entre as 16 amostras destaque na Avaliação Nacional de Vinhos 2025, realizada em Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha. E fica também na Serra Gaúcha, mas em Flores da Cunha, a sede da Góes e Venturini, empresa da qual a Góes é sócia desde os anos 1990 – mas essa é uma história pra outro momento.

Como se fosse pouco para administrar, Claudio Góes, CEO do grupo, ainda arranja tempo para ser presidente da Associação Nacional de Produtores de Vinho de Inverno (ANPROVIN) e para nos guiar pelas duas empresas localizadas no Sudeste, que deixamos para apresentar no encerramento da nossa cobertura especial da região de São Roque.

A visita foi em um dia típico na cidade: cedo pela manhã estava bem agradável – até fez um certo frio. Depois sol e um calorão: por volta do meio-dia a chuva começou e seguiu durante quase todas as nossas visitas, mas no final do dia, o pôr do sol na vinícola Philosophia foi inesquecível – assim como inesquecíveis foram os vinhos servidos direto dos tanques e das barricas pelo enólogo Fábio Góes, primo de Claudio, eleito enólogo do ano pela Associação Brasileira de Enologia em 2025.

Tudo começou pequeno

Empresa totalmente brasileira, a Goés tem vinhedos próprios com cerca de 40 hectares de pelo menos 10 diferentes variedades de uvas plantados em São Roque, uvas que resultam em mais de 70 rótulos, entre vinhos de mesa e finos. O mais vendido é o Tradição Bordô Suave, que pode ser encontrado online ao preço médio de R$ 20. A linha da Góes tem vinhos tranquilos, espumantes, frisantes, bebidas mistas e sucos. Os 15 rótulos de vinhos finos, produzidos com uvas paulistas, já receberam diversos prêmios no Brasil e também no exterior.

Além de ser uma vinícola referência na região, a Góes se destaca como polo de enoturismo, sendo pioneira neste tipo de experiência: “o enoturismo é um grande atrativo nosso e muito importante para a região como um todo”, diz Claudio. No parque onde está localizada a vinícola há muitas possibilidades imersivas, que fazem com que os visitantes possam vivenciar as diversas etapas da produção: passeios pelos parreirais, visitas guiadas à fábrica e degustações orientadas por enólogos.

A programação geralmente começa pela galeria de imagens, que mostra a história da família Góes e seu envolvimento com uvas e vinhos desde os anos de 1910, quando o casal Benedito Moraes de Góes e Maria das Dores Lima de Góes se estabeleceu em São Roque, no bairro Canguera, cerca de 30 anos antes da fundação da vinícola, em 1938.

Durante a caminhada pela galeria Claudio (foto acima) faz questão de salientar que a origem de tudo foi caseira, artesanal mesmo, até o negócio efetivamente tomar corpo em meados da década de 1940, aproximadamente quatro décadas antes de Claudio tomar à frente da empresa.

Philosophia

Uma vinícola que nasceu a partir de um vinho. Sim, a Philosophia nasceu a partir de um rótulo, o Philosophia Cabernet Franc, desenvolvido a partir de uvas cultivadas em São Roque, e produzido a partir do sistema de Dupla Poda. “É um vinho que expressa bem o nosso terroir”, diz o enólogo Fábio Góes, “tem um mentol na questão aromática, uma complexidade muito interessante”. Contando com o ícone que deu origem à vinícola, a empresa hoje tem 13 rótulos em seu portfolio.

Na Philosophia, dirigida pela quarta geração da família, os Góes contam também com o trabalho do agrônomo Rodrigo Formolo, na manutenção dos vinhedos. Claudio Góes atua como CEO e os enólogos Fábio Góes e João Góes são os responsáveis pelas pesquisas de terroirs e pelo desenvolvimento dos novos rótulos.

A vinícola foi uma das pioneiras na região a utilizar o sistema da Dupla Poda e produzir vinhos de colheita de Inverno (foto acima vinhedos na fazenda Góes). O trabalho desenvolvido a partir de estudos e pesquisas de Murillo de Albuquerque Regina, à época na EPAMIG, foi acompanhado de perto por Claudio Goés, um grande incentivador do sistema na região de São Roque. Atualmente o método é utilizado por diversos produtores: “estamos trabalhando forte com o processo da Dupla Poda, com o processo dos vinhos de Inverno, agora com o Philosophia, um projeto que vem com a metodologia da qualidade e da viabilidade”, diz Claudio.

“A técnica da Dupla Poda oferece condições climáticas ideais, com dias ensolarados e secos que contrastam com noites de baixas temperaturas, resultando em uvas de alta qualidade”, explica o enólogo Fábio, “essa prática singular se traduz em vinhos de notável concentração aromática e equilíbrio. Cada garrafa carrega mais do que uvas, carrega a expressão fiel de um lugar”, define.

Seguindo a tradição da família, a Philosophia aposta forte também no enoturismo, sendo mais um ponto de atração de público no Roteiro do Vinho de São Roque.

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Fotos: divulgação Goés e Brasil de Vinhos | Lucia Porto.

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