“Eu não bebo nem uma gota de álcool, que loucura, né?” Essa foi a segunda ou terceira frase dita por Luiz Eduardo Batalha – o empresário por trás do azeite de oliva produzido na Campanha Gaúcha que leva seu nome – quando começamos a conversar sobre a aquisição da Batalha Comercial de Vinhos Ltda, oficializada nesta terça-feira (11). “Pois aquela dúvida que todos sempre tinham se o vinho Batalha era do Batalha agora acabou”, brinca.
O vinho em questão era produzido na vinícola então de propriedade de Gilberto Pozzan, Felipe Pozzan, Júlia Pozzan – o pai e dois filhos – e Giovâni Peres. O nome foi escolhido em função da localização: as terras estão situadas no município de Candiota, onde em 1836 ocorreu a Batalha do Seival, a maior da Revolução Farroupilha, por isso o nome.
O empresário paulista Luiz Eduardo Batalha adquiriu 100% dos ativos da vinícola: área, vinhedos, toda a estrutura e uma parte do estoque de vinhos a granel, em uma negociação que já vinha sendo feita há alguns anos e da qual não revela o valor do investimento. “A primeira vez que aventamos a possibilidade foi 2018, dois anos depois conversamos novamente e de lá para cá foram duas propostas”, lembra o empresário, “agora chegamos a um acordo e fechamos negócio”. Com a compra, Luiz Eduardo aumenta sua área total em 28 hectares, 6,5 deles cultivados com as variedades tintas Merlot, Pinot Noir, Marselan, Cabernet Franc e Tannat, além da branca Chardonnay (imagem de topo, parte da área de vinhedos da vinícola Batalha).
Gilberto Pozzan e os sócios deixam um negócio com 14 anos de história no mesmo dia e mês em que iniciaram. “Começamos em 1º de julho de 2010 e entregaremos em 1º de julho de 2024”. Pozzan conta que durante este período teve outras ofertas, mas optou por Luiz Eduardo por acreditar que o empresário possa fazer deste local um grande atrativo turístico, que vai fortalecer ainda mais outras empresas da região. “Tenho certeza que os projetos dele vão valorizar o polo de turismo da Campanha Gaúcha”.
“Quando eu cheguei na Campanha para plantar Oliveiras o Gilberto chegou lá para fazer o Batalha, não nos conhecíamos”. Na verdade Luiz Eduardo buscou a região para criação de gado: “O meu Angus estava sofrendo muito em São Paulo. Eu tinha acabado de trazer uns animais dos Estados Unidos que precisavam de frio e então escolhemos a região – muito em função também de amigos já estavam por lá ou foram chegando, como Galvão Bueno e Darcy Miolo”. Em uma primeira compra Luiz Eduardo descobriu que tinha um vizinho com um negócio de vinho que levava seu sobrenome graças a um fato histórico. “Mas na época eu me interessei pela terra dele, e não pelo vinhedo”, recorda.
A Cerro de Pedra
Se bem que a história de Luiz Eduardo Batalha com o vinho não começa agora. “Eu já tenho vinhedo na região, cerca de 10 hectares plantados bem na divisa entre Pinheiro Machado e Candiota, e vendo uvas para algumas vinícolas da Serra Gaúcha, entre elas a Pizzato”. Aliás, além da compra da empresa que leva seu sobrenome, Luiz Eduardo anuncia mais uma novidade: dia 8 de julho apresenta a vinícola Cerro de Pedra (rótulos na imagem acima), em sociedade com outro empresário paulista, Pedro Melo. “Já fizemos uma pré-seleção dos vinhos produzidos a partir das nossas uvas”, conta. “E vocês vão se assustar com o resultado”, brinca, “porque um dos enólogos deste projeto é Flavio Pizzato, que vinifica na Serra Gaúcha, mas em breve passaremos a vinificar na Campanha”.
Luiz Eduardo (à esquerda na foto acima, em companhia de Almansor Madeira, gerente de campo dos vinhedos Cerro de Pedra, e de Flavio Pizzato) conta que o enólogo há alguns anos escolheu uma de suas áreas na Campanha para adquirir uvas para seu rótulo Allumé (uvas do Rio Grande do Sul). “Isso comprova a qualidade da nossa uva”, resume. Agora será comercializado apenas o excedente de produção pois o principal será destinado aos rótulos próprios com a marca Cerro de Pedra: inicialmente devem ir à mercado um Cabernet Sauvignon e um Tannat, além de um Chardonnay sem barrica.
Luiz Eduardo é um empreendedor em diversos segmentos e um deles, que foi a origem de seus negócios, é a hotelaria. Quando começou a conceber o Terroir 31, o empreendimento com casas e hotel, com terrenos com quintais entre 1 mil m2 e 3 mil m2, com cerca de 60 árvores de 15 anos de idade em cada, com alta produção de azeitona para o proprietário rotular seu próprio azeite, teve uma ideia: na frente da propriedade do outro lado da rodovia, estava a vinícola Batalha. “Ali me dei conta que precisava colocar o vinho dentro desse projeto, porque aí eu teria o apelo completo: carne, azeite, vinho, frio e hotelaria”.
Nova marca Batalha
E sobre a nova marca de vinhos Batalha? “Não sabemos ainda se vai ser Batalha ou Terroir Batalha”, diz, mas afirma que a imagem da marca deve ser alterada para unificar a comunicação. A ‘nova’ vinícola Batalha já nasce grande, afirma o empresário. “Em breve teremos três operações no mesmo local: a Cerro de Pedra, a Batalha e uma nova sociedade com vinho que devo lançar. Todos os negócios serão feitos no mesmo lugar”.
Isso, claro, vai pedir mudanças. Com a aquisição da vinícola Batalha hoje a área total de vinhedos passa a ser de 16,5 hectares, que devem ser praticamente dobrados, com o plantio de outros 15 hectares nos próximos anos. Dez deles ampliando as áreas de plantio de Chardonnay e Sauvignon Blanc, entre as brancas, Cabernet Sauvignon, Merlot e Tannat, entre as tintas que Luiz Eduardo possuía em sua propriedade, e outros cinco na área da então vinícola Batalha, onde estão cultivadas Cabernet Franc, Merlot, Tannat, Marselan, Pinot e a branca Chardonnay.
“Minha ideia é também plantar Syrah”, diz Batalha, “e quem sabe trazer Malbec”. A maior parte da equipe de funcionários deve ser mantida, mas a enologia da nova vinícola Batalha deve ficar a cargo de Bruno Onsi, que hoje está a frente da vinícola Vinuta, de Veranópolis.
A estrutura física também passará por alterações que devem iniciar imediatamente e a previsão é que comecem a ficar prontas em etapas, a partir da safra 2025. “Vamos criar uma vinícola de verdade. Primeiro vamos duplicar o tamanho do galpão principal, que vai ficar com cerca de mil m2 só para a área de vinhos, sem contar a cantina, que será construída no lugar que está sendo perfurado. “A cantina será um projeto bem diferenciado, enterrada com um espelho d’água em cima para manter a temperatura”, antecipa Luiz Eduardo (imagem de projeto acima). Além disso serão construídas uma área de degustação e auditório, espaços que já passam a fazer parte Terroir 31. No projeto há também uma fábrica de cosméticos a base de uva.
Aos 77 anos, Luiz Eduardo Batalha ainda tem muito a realizar.
fotos: arquivo pessoal Luiz Eduardo Batalha
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