A vindima faz parte do ciclo da produção do vinho como um dos períodos mais importantes e festivos. Durante o processo, trabalhadores, produtores, vinhateiros, enólogos, voluntários e entusiastas se unem ao redor dos vinhedos para colher uvas, seja manualmente ou com o auxílio de máquinas.
Neste momento, o trabalho de um ano – e muitas vezes de mais do que isso – é posta à prova. É neste momento também que as uvas dão a tão esperada resposta: como estará a qualidade do fruto? Afinal, sabemos que vinhos bons vêm de uvas boas. O processo também serve como um reflexo geográfico do Brasil, exaltando sua diversidade climática, que propicia o cultivo de diversas castas dependendo da época do ano.
Por isso a vindima representa um momento de celebração e comemoração para todos os envolvidos na cadeia do vinho, um período que honra o trabalho árduo daqueles que se dedicam para levar vinhos de qualidade para nossas taças.
Cada região vinícola brasileira tem tradições e eventos próprios, transformando a época em uma experiência cultural muito diversa. Impossível colocarmos tudo em uma única matéria, então separamos aqui algumas das festividades e programações que acontecem no Brasil na temporada. Se deixamos a tua região de fora, escreva pra gente em pauta@brasildevinhos.com.br – aliás escreva pra gente sempre e nos dê sugestões de assuntos para trazermos pra cá: vamos adorar.
Monte Belo do Sul
A Festa de Abertura da Vindima em Monte Belo do Sul é uma celebração que homenageia a cultura, o trabalho e a fé dos agricultores – elementos fundamentais na história e no desenvolvimento da região. O evento que marca o início da temporada de colheita da uva aconteceu no final de janeiro e refletiu o profundo apreço e a gratidão pelo legado deixado pelos imigrantes italianos.
A festa reuniu cerca de 100 expositores e apresentou uma variedade de atividades, como a distribuição e pisa de uvas (foto acima. crédito: Augusto Tomasi), desfiles e shows, oferecendo aos visitantes uma experiência rica e autêntica.
Durante a festa, os participantes tiveram a oportunidade de se conectar com as raízes históricas da região, celebrando as tradições trazidas pelos imigrantes, a esperança simbolizada pela vindima e a fé que sustenta a comunidade nos momentos difíceis.
Vale dos Vinhedos
Entre janeiro e março, a famosa região do Vale dos Vinhedos tem uma vasta programação para a vindima. Neste período, a Associação dos Produtores de Vinhos Finos do Vale dos Vinhedos (APROVALE) promove uma série de atividades que proporcionam aos visitantes uma experiência completa.
As vinícolas associadas oferecem passeios pelos vinhedos, onde os visitantes podem participar da colheita (foto acima. crédito: Gilmar Gomes), durante o dia ou até mesmo à noite. Além disso, a tradição da “pisa de uvas” – herdada dos imigrantes italianos da região – também faz parte do pacote.
Com ambiente acolhedor, o local combina estas atrações com uma gastronomia típica, oferecendo almoços ou jantares temáticos com apresentações de música folclórica. Para garantir a experiência, é recomendado verificar a programação e fazer reservas antecipadas – as atividades são atualizadas regularmente.
Altos Montes
Situada no Rio Grande do Sul, a região dos Altos Montes é conhecida por sua Indicação de Procedência (IP) que abraça os municípios de Flores da Cunha e Nova Pádua. As vinícolas Bebber, Família Ulian, Luiz Argenta e Viapiana, juntamente com a Colônia Muraro, recebem amantes do vinho que buscam vivenciar a vindima de verão que vai de fevereiro a março.
A Colônia Muraro celebra a vindima unindo natureza e história, promovendo uma experiência que envolve música, pisa das uvas, degustação de rótulos e passeio pela propriedade. Também oferece uma colheita ao pôr do sol, seguida de um jantar de alta gastronomia.
Na vinícola Viapiana, uma visita guiada permite aos consumidores comparar os vinhos das garrafa com os das barricas. Enquanto na Luiz Argenta, é realizada uma imersão na produção dos rótulos juntamente com um almoço harmonizado criado especialmente para a vindima.
Nessa época, as atividades são planejadas justamente para destacar os vinhos locais através da história e cultura da região. A Família Ulian também oferece uma jornada sensorial que une música, gastronomia temática e a história familiar entrelaçadas com a vinificação.
Gramado e Canela
A Vindima em Gramado e Canela é uma celebração vibrante e colorida de colheita na Serra Gaúcha, ocorrendo durante o início do ano. Em Gramado, a programação começa em fevereiro e estende-se até o início de março, enquanto em Canela, na Vinícola Jolimont, as atividades continuam até a segunda semana de março.
Durante este período, os visitantes podem desfrutar de uma variedade de experiências autênticas, como a pisa das uvas, degustações sensoriais e tours pelos vinhedos (foto acima, na Casa Seganfredo em Gramado. Foto: Rafael Cavalli). Essa tradição anual proporciona aos turistas uma imersão única nas práticas culturais e na produção vinícola da região, realçando a crescente cultura vitivinícola local.
Um destaque especial é a Villa do Vinho em Canela, que oferece aos turistas uma experiência imersiva no mundo do vinho. Este local proporciona um cenário pitoresco e autêntico, onde os visitantes podem aprender sobre o processo de vinificação, participar de degustações de vinhos locais e desfrutar de uma atmosfera que celebra a herança vitivinícola da região. Uma bela oportunidade para os visitantes se conectarem com a terra e suas tradições.
Saiba mais no perfil do Instagram @vindimaemgramadooficial.
Campanha Gaúcha
Na Campanha Gaúcha, a vindima se estende de janeiro até abril. O processo começa com as uvas destinadas à espumantes nas cidades de Itaqui e Uruguaiana, por serem as regiões mais quentes e secas. E conforme os meses passam, a colheita das uvas brancas e tintas evolui e alcança seu pico em maio, frequentemente finalizando em Bagé e Candiota.
As vinícolas Batalha, Estância Paraizo, Peruzzo, Cerros de Gaya, Guatambu (foto acima. crédito:divulgação), Pueblo Pampeiro, Cordilheira de Sant’Ana, Almadén, Cerro Chapéu, Bodega Sossego e Campos de Cima estão abertas para a visitação durante a temporada – mas é bom conferir com cada uma delas antes de seguir viagem.
Em 2024, a região da Campanha enfrenta desafios devido ao El Niño, um fenômeno climático que afeta a produção agrícola. Espera-se uma diminuição na produção de uvas de pelo menos 20% a 30% em comparação com anos anteriores. Apesar desta redução, as vinícolas contam com reservas de vinho devido a safras abundantes e de alta qualidade desde 2018.
A expectativa para a safra atual, embora desafiadora, permanece positiva. “A colheita das uvas mais precoces já começou, estamos focando na manutenção da qualidade”, afirma Pedro Candelária, presidente da Associação Vinhos da Campanha Gaúcha. “As vinícolas da região estão adaptadas para enfrentar a variação na produção e manter a categoria dos vinhos”, completa.
Vinhos de Altitude
Na Serra Catarinense, a Associação de Produtores Vinhos de Altitude promove uma ação conjunta das vinícolas – a 10ª Vindima de Altitude, que acontece entre os meses de março e abril.
Durante o período, os associados oferecem uma programação diversificada de experiências que celebram a colheita (foto acima. crédito:divulgação). O evento une degustação de vinhos e culinária local em um ambiente festivo, com atos culturais e musicais. No local, os visitantes podem explorar os sabores e aromas dos rótulos sendo guiados por especialistas das vinícolas, além de poder participar ativamente da colheita.
A programação completa será divulgada no site oficial da associação.
Produtores de Vinho de Inverno
A Associação Nacional de Produtores de Vinhos de Inverno (ANPROVIN) foi estabelecida para consolidar e impulsionar a produção deste tipo de vinho no Brasil. A iniciativa nasceu da necessidade de unir os produtores que adotavam a técnica de Dupla Poda, uma inovação no cultivo de uvas que permite a maturação durante o outono e inverno.
A associação simboliza a união e o compromisso de produtores que, adaptando-se às características climáticas do Brasil, tornaram-se aptos para produzir vinhos de qualidade superior mesmo nesta época do ano.
A técnica de Dupla Poda cria condições ideais para o cultivo de uvas, aproveitando as temperaturas mais frias do inverno brasileiro. Isso resulta em vinhos com características únicas e de alta qualidade, destacando-se no mercado nacional e internacional.
Um exemplo é a vinícola UVVA, localizada em Mucugê (BA), onde a vindima ocorre durante o inverno. Nesta fase acontece a maturação plena das uvas – fator necessário para que os vinhos tenham alta qualidade. A vinícola aproveita o momento e costuma envolver visitantes em uma jornada através do ciclo de vida do vinho durante a época.
Nesse período, os visitantes têm a oportunidade de conhecer melhor a tradição da vinificação e aprender sobre o processo de seleção, colheita e técnicas de vinificação enquanto apreciam a singularidade do terroir da Chapada Diamantina.
Outra vinícola que utiliza a técnica da dupla poda é a Góes (foto acima. crédito: divulgação), de São Roque (SP) – também associada da ANPROVIN. Por estar localizada em uma região mais amena, a empresa realiza colheitas tanto no inverno quanto no verão.
A de verão, que iniciou em janeiro, oferece aos visitantes uma experiência sensorial única, incluindo a colheita e pisa de uvas em tinas ao som de música típica, degustações de vinhos e um tour pela indústria e pelos parreirais. Para esta edição, a vinícola preparou três formatos distintos do evento: Vindima Góes Harmonizada, Vindima Góes Essencial e a Vindima Góes Sunset. A programação de inverno ainda não foi divulgada.
Para acompanhar as vindimas das associadas ao grupo, é ideal acompanhar a página de cada vinícola, através do site.
Foto de topo: visita à vinícola Góes, em São Roque (SP)
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