Tu já te perguntaste o que o vinho significa? Qual a importância da bebida na tua vida? Não o ato de beber em si, mas tudo o que o envolve, todos os rituais. Para as pessoas que ouvimos – e para várias outras, na verdade – significa amigos, encontros, válvula de escape, conhecimento, valor nas sutilezas, reflexão, momentos dedicados a si mesmo, profissão, negócio, transição de carreira, mudança de estilo de vida: um estado de espírito.
Mas o que as pessoas que entrevistamos têm em comum?
O Direito.
Alguns são atuantes, outros não, mas todos compartilham a mesma paixão pela bebida, que não é apenas uma bebida, mas pode significar muitas coisas para cada um que se aproxima dela de diferentes maneiras.
Tu que gostas de vinho tanto quanto nós aqui do Brasil de Vinhos, pensa enquanto lê este texto: qual o valor que dás pro vinho e o que a bebida o significa pra ti?
Ramiro Iribarrem, advogado e sócio da Bodega Iribarrem, localizada em Bento Gonçalves (RS), acredita que profissionais liberais valorizam muito o mundo do vinho. Iribarrem, que ainda exerce a advocacia, tem no vinho um negócio e uma oportunidade de futuro, segundo ele menos estressante que na área jurídica.
O advogado abriu sua vinícola em 2018, depois de longos períodos de stress. A partir dali o empreendimento foi crescendo e hoje, depois de um investimento de aproximadamente R$ 10 mi, produzirá em sua sexta safra – a primeira na própria sede – perto de 100 mil garrafas. Além disso deve inaugurar até o final de janeiro um restaurante com refeições harmonizadas e wine bar junto à vinícola, na Serra Gaúcha. Iribarrem comemora também a primeira safra de uma área de 60ha – 12ha deles cultivados (foto acima, arquivo pessoal Ramiro Iribarrem) com Cabernet Franc, Petit Verdot, Marselan, Pinot Noir, Touriga Nacional e Teroldego – adquirida consorciada em Encruzilhada do Sul (RS).
Lembrando do pai, que veio de Canguçu, o advogado produtor afirma que quem é da terra sempre volta para ela. E, mesmo tendo o vinho como negócio, entrega que é muito mais que isso: “Vinho é igual a chimarrão, une amigos”.
Como Iribarrem, Luis Wulff (foto acima, crédito Tiago Capelini), fundador da Guahyba Estate Wines, localizada em Guaíba (RS), concilia ambas as atividades, na área jurídica e na viticultura. Apaixonado pelo Direito Tributário, Wulff descreve que neste segmento, assim como no vinho, o que faz a diferença é a sutileza com que se cuida dos detalhes. “O plantio da vinha, a orientação solar, os aspectos envolvendo o terroir, o vento, a temperatura matinal e a noturna, os picos de temperatura que podem ocorrer durante o dia, as variações climáticas de umidade, de chuva, as questões pluviométricas, de drenagem de solo, de tipagem de solo”, diz. O tributarista acredita que cada uma dessas variáveis entrega na uva circunstâncias muito distintas que, na mão do enólogo, resultam em vinhos também únicos.
O editor de vinhos da revista Adega e do Guia Adega Vinhos do Brasil, Eduardo Milan (foto acima, crédito Jeferson Soldi), mantém o escritório de advocacia com a esposa, mas praticamente não advoga mais. “Comecei a tomar vinho de um jeito curioso, buscando algum conhecimento, mas sem pensar em trabalhar com isso”, conta. Fez o curso de sommelier pela Associação Brasileira dos Amigos do Vinho, participou da segunda turma do Wine & Spirits nível 3, e então veio o convite para degustação de vinhos na Revista Adega, onde já está há 15 anos. “Não foi uma decisão financeira, porque se for colocar na ponta do lápis o que eu ganhava como advogado, nem se compara com o que eu ganho trabalhando com vinho, pelo menos até agora. Mas teve outras coisas que me fascinaram, conheci novas pessoas, novos ambientes. É uma coisa de paixão, e tenho até hoje”, finaliza.
Keli Bergamo (foto acima, crédito Edinho Irizawa), educadora de vinhos e sales manager da Viña Morandé, do Chile, fez transição de carreira e se desvinculou totalmente do meio jurídico em 2023. Por algum tempo atuou nos dois setores, estudando e buscando especialização na área que gostaria de seguir. “A transição era algo programado para 2025, mas a pandemia acelerou o processo. Comecei a fazer eventos, a montar carta de vinhos, tive a oportunidade de trabalhar com importadoras, com produtores brasileiros e a coisa foi crescendo”, relata Keli. O vinho mudou sua rotina, seu estilo de vida. “É um outro tipo de trabalho, as problemáticas são outras”, conclui, “mas é apaixonante”.
E há quem não atue mais como advogada, mas carregue o legado do Direito no trabalho com o vinho. É o caso de Cibele Siqueira (foto acima, crédito Celso Doni), que se encantou com o vinho após um estágio na área jurídica em Firenze, na Itália. Mesmo tendo oportunidade de seguir exercendo a profissão no escritório da família, fez cursos de sommelier internacional, o French Wine Scholar (FWS) e hoje é embaixadora das marcas autorais do Grupo Wine. “O Direito me deu respaldo, persuasão, argumento, jogo de cintura na hora de responder o cliente e segurança no gerenciamento de crise”, relata. “Me ajudou entender o tributo, pedir devolução de produto, está presente na minha vida”. Mas, é no mundo do vinho que ela é feliz, onde se conecta consigo mesma.
Coincidência ou não, na mitologia Cibele é nome da deusa que curou Dioniso, o deus grego do vinho.
Diferente de todos os profissionais com quem conversamos para esta reportagem, Marcelo dos Santos (foto acima, crédito Cleber Brauner), sommelier da vinícola Aurora, localizada em Bento Gonçalves (RS) tem graduação em Direito, mas nem chegou a tirar a carteira da OAB, pois nunca atuou como advogado. Iniciou sua jornada no vinho com degustações na vinícola Torcello e foi um caminho sem volta. “Houve sim uma transformação, até em questão de saúde. Entrei numa área em que a gente busca estar cada vez mais estar ativo, realizando degustações, visitas, indo no vinhedo”, expõe. Hoje o vinho, além de ser uma paixão, faz parte do seu dia a dia. A paixão do sommelier pelo vinho é tão grande que será eternizada em livro, a ser lançado no primeiro semestre de 2025.
Ramiro, Luis, Eduardo, Keli, Cibele e Marcelo: diferentes realidades, histórias similares, mas com uma coisa em comum além do Direito: a paixão pelo vinho. Ao chegar ao final deste texto nos demos conta que não respondemos à pergunta do título desta matéria. Mas tudo bem, nada que uma bela taça de vinho compartilhada não resolva: quer coisa melhor que bater papo e divagar com um amigo dividindo uma taça de vinho?
Com certeza dessa conversa sairá uma resposta para esta pergunta.
Ou várias.
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